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Investidores estrangeiros podem aproveitar hedge do dólar mais barato com retomada de cortes do Fed

03 out 2025, 4:55 - atualizado em 03 out 2025, 5:01
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(Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

A tão esperada retomada do ciclo de cortes de juros do Federal Reserve deve baratear o custo de proteção cambial (hedge) para investidores estrangeiros e aumentar sua motivação para proteger uma parte maior de seus ativos nos Estados Unidos contra nova fraqueza do dólar.

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Em setembro, o banco central dos EUA cortou os juros em 25 pontos-base, conforme o esperado, para a faixa de 4,00% – 4,25%, devido a preocupações com o mercado de trabalho e indicou que novos cortes ocorrerão ainda este ano.

Esse corte reduz o diferencial de juros entre os EUA e outras economias desenvolvidas, o que ajuda a diminuir os custos de hedge para fundos de pensão, fundos soberanos e outros investidores institucionais estrangeiros, segundo gestores e analistas.

O ICE U.S. Dollar Index acumula queda de cerca de 10% no ano, impulsionado em parte por um aumento na atividade de hedge cambial entre investidores estrangeiros preocupados com os impactos das políticas comerciais e tarifárias dos EUA sobre seus ativos no país.

“Há pessoas observando isso, esperando a retomada do ciclo de cortes pelo Fed”, disse Van Luu, chefe global de estratégia de soluções em renda fixa e câmbio da Russell Investments, em Londres. “Agora, elas estão inclinadas a aumentar a razão de hedge, e esperam o momento certo ou algum tipo de catalisador.”

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O hedge cambial é uma forma de limitar perdas em um portfólio existente, utilizando instrumentos financeiros como derivativos para criar uma posição compensatória. Como normalmente envolve a venda de dólares via contratos a termo ou swaps, um aumento na atividade de hedge pode resultar em pressão adicional sobre o já enfraquecido dólar.

Nova necessidade de hedge

Custos elevados de proteção e uma visão otimista do dólar foram dois dos principais fatores que suprimiram as taxas de hedge nos últimos anos, de acordo com um relatório de junho do Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Durante anos de força do dólar, investidores estrangeiros deixavam ativos nos EUA sem proteção cambial, já que a valorização da moeda americana aumentava seus retornos totais e oferecia diversificação. Mas esse cenário está prestes a mudar.

Com o dólar em forte queda neste ano e com mais fraqueza potencial no horizonte, o hedge pode ajudar a amenizar os impactos negativos das oscilações cambiais.

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Os mercados já precificam mais dois cortes de 25 pontos-base ainda neste ano, o que pode incentivar investidores que querem ampliar sua proteção, mas até agora foram desencorajados pelos altos custos.

Proteção

Atualmente, estrangeiros têm mais de US$ 30 trilhões investidos em ações e títulos dos EUA, segundo o Morgan Stanley, dos quais US$ 8 trilhões pertencem a investidores europeus.

Preocupações crescentes com a liderança do Fed, sua independência e a incerteza política nos EUA têm pressionado o dólar, mesmo com os mercados acionários em alta, o S&P 500 acumula cerca de 14% de valorização no ano, perto de máximas históricas.

“Os fortes ganhos no mercado acionário dos EUA e a forte queda do dólar são incomuns, mas não inéditos, acreditamos que o aumento de hedge cambial é parte da razão para essa divergência,” disse Steve Dooley, chefe de análise de mercado da Convera, em Melbourne.

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Um relatório de julho do Deutsche Bank mostrou que investidores acionários da Alemanha e Áustria aumentaram sua razão de hedge de 20-30% no início do ano para 60-70%.

Um novo relatório do banco central da Dinamarca mostrou que fundos de pensão e seguradoras estão protegendo mais de 75% de seus investimentos em dólar contra oscilações cambiais. O Deutsche ainda destacou que fundos de pensão de alto perfil planejam ampliar essas proporções após o verão.

“Acredito que os investidores estrangeiros continuam inclinados a eliminar a exposição ao dólar”, afirmou Thierry Wizman, estrategista global de câmbio e juros da Macquarie, em Nova York. “Eles voltarão ao mercado em algum momento nas próximas semanas. Você verá uma nova rodada de hedge cambial por instituições estrangeiras”, completou.

Segundo a MillTechFX, 86% das empresas europeias estão atualmente protegendo seu risco cambial previsível, um salto frente aos 67% em 2023, com a razão média de hedge subindo de 43% para 49%.

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Joseph Hoffman, CEO da Mesirow Currency Management, disse que a mudança entre investidores internacionais não se deve apenas ao diferencial de juros no curto prazo, mas a uma visão estruturalmente pessimista sobre o dólar, fundamentada na política do Fed, na incerteza política elevada e nos déficits fiscais persistentes.

Qual o custo?

Ainda assim, a redução do custo do hedge provavelmente atrairá investidores que hesitaram em ampliar sua proteção por razões de preço.

Por exemplo, o custo anual de hedge continua alto, 4% para investidores do Japão e Suíça, com base nas taxas atuais, o que ainda representa um obstáculo. Já os investidores da zona do euro enfrentam um custo próximo a 2% ao ano.

“Acho que existe um nível psicológico em que, se o custo do hedge cair para 1% ou menos, o que está no horizonte para investidores em euros nos próximos 12 meses, as pessoas deixarão de se preocupar tanto,” disse Van Luu, da Russell Investments.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
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