Deflação não altera projeções: Cortes da Selic vão ficar para 2026, dizem economistas

Os dados da inflação nos últimos três meses indicam algum arrefecimento, mas esse movimento deve ser temporário, avalia a economista do C6 Bank, Claudia Moreno. Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,11% e desacelerou para 5,13% em um ano.
“Ainda que a queda nos preços das commodities e o enfraquecimento do dólar possam estar aliviando a pressão sobre os alimentos e os bens industriais, fatores domésticos, como o mercado de trabalho bastante aquecido e a nossa projeção de um câmbio mais depreciado, devem continuar pesando sobre a inflação”, diz Moreno.
Segundo ela, a deflação do mês foi explicada principalmente pela redução de 4,21% na energia elétrica, em função do bônus de Itaipu — sem o desconto, o índice teria registrado alta de 0,29%. Outros pontos de alívio vieram da semana do cinema, que ajudou a conter o avanço dos serviços, e da queda de 0,83% nos alimentos consumidos em casa.
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Ainda assim, a economista alerta que a inflação de serviços subjacentes permanece em patamar elevado, estável em 6,7% em 12 meses, acima do teto da meta.
Na XP Investimentos, a leitura foi semelhante: apesar da desaceleração do IPCA em 12 meses para 5,13%, os núcleos seguem pressionados. O economista Alexandre Maluf diz ainda que a convergência da inflação de serviços rumo à meta parece improvável no médio prazo.
No lado dos bens industrializados, ele ressalta a alta de 0,18% em agosto, com destaque para vestuário e veículos novos. Apesar disso, a XP projeta moderação nos próximos meses, em linha com a trajetória de outros indicadores de preços no atacado.
“O IPCA de agosto reforça que a recente melhora inflacionária decorre da queda dos preços de bens comercializáveis, impulsionada por safras favoráveis, condições climáticas benignas e pela apreciação do câmbio no primeiro semestre. Por outro lado, os núcleos de serviços seguem em níveis elevados”, afirma.
Nas projeções, o C6 espera que a inflação feche 2025 em 5% e suba para 5,2% em 2026, enquanto a XP mantém estimativas de 4,8% para este ano e 4,5% para o próximo.
E a Selic?
Para as duas casas, os números de agosto não mudam a perspectiva de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a Selic em 15% até o fim de 2025.
Após a divulgação do IPCA, inclusive, os contratos de juros futuros avançaram, refletindo os serviços ainda pressionados. A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu a 14,005%, enquanto o de janeiro de 2030 foi a 13,375%.
As projeções das instituições, porém, divergem sobre o início e o tamanho do ciclo de cortes.
O C6 vê espaço para a flexibilização monetária apenas em março de 2026, com a taxa chegando a 13% no fim do ano. Já a XP aposta em cortes já em janeiro do próximo ano, em ritmo gradual, até atingir 12% ao final do ciclo.