IPCA deve ter maior deflação mensal em três anos; nos EUA, tendência é de aceleração da inflação

Confira as projeções dos principais indicadores econômicos desta semana com análise do economista André Galhardo.
IPCA de agosto deve apresentar a maior deflação mensal em quase três anos
Mesmo diante da bandeira vermelha patamar 2 nas tarifas de energia elétrica, da estiagem em algumas regiões do país e de reajustes pontuais em determinados serviços e produtos, a dinâmica inflacionária segue benigna. Importante destacar que parte relevante do resultado virá do impacto do chamado “bônus de Itaipu”, que tende a reduzir os preços no grupo de Habitação. Ainda assim, projetamos deflações adicionais em Alimentos e Transportes, reforçando o movimento de arrefecimento disseminado da inflação. No sentido oposto, o IGP-DI de agosto subiu 0,20%, interrompendo três meses consecutivos de queda, mas abaixo da nossa projeção, que era de 0,50%. Essa variação positiva, contudo, não deve ser interpretada como uma alteração estrutural no quadro inflacionário, mas sim como um ajuste técnico após a segunda maior deflação mensal deste século observada em junho. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto será divulgado na próxima quarta-feira (10).
- CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente
Na atividade econômica, os sinais de desaceleração seguem cada vez mais evidentes
Apesar dos indicadores antecedentes sugerirem retração relevante no setor de serviços, o dinamismo do mercado de trabalho doméstico, com geração de vagas formais e aumento da renda, aliado a mudanças no padrão de consumo, pode sustentar um crescimento marginal do maior setor da economia na entrada do segundo semestre. No comércio varejista restrito, projetamos alta em torno de 0,2% em julho, movimento que deve ser interpretado mais como uma correção técnica após três meses consecutivos de queda do que como uma inversão de tendência. Em linhas gerais, mesmo que ocorram avanços pontuais em serviços e no varejo, a leitura predominante continua sendo de perda de tração da economia brasileira, sem sinais consistentes de reversão desse processo. Os dados de varejo no mês de julho saem na quinta-feira (11), enquanto o balanço para o mesmo mês de serviços será divulgado na sexta-feira (12).
Inflação nos Estados Unidos deve registrar nova aceleração em agosto
Após a surpresa altista do índice de preços ao produtor em julho, o CPI deve avançar de 0,2% para 0,3% em agosto. Embora esse resultado dificilmente altere a decisão já amplamente precificada de corte de juros pelo Federal Reserve em setembro, sobretudo após a revisão do payroll de junho, que apontou a primeira queda desde dezembro de 2021, a leitura mais forte de preços pode levar a autoridade monetária a adotar tom mais cauteloso em seu comunicado. Além disso, o próprio modelo do Fed já projeta incremento adicional de 0,3% na inflação em setembro, reforçando o cenário de persistência inflacionária nos Estados Unidos. Caso confirmados, os dados devem limitar a velocidade do ciclo de afrouxamento monetário, tornando-o muito mais gradual e conservador que o precificado neste momento.
Banco Central Europeu deve optar por manter sua taxa de juros inalterada neste mês
Embora a economia da região apresente claros sinais de estagnação, a inflação segue encontrando suporte ligeiramente acima da meta, o que limita o espaço para cortes adicionais no curto prazo. Ao mesmo tempo, o recente arrefecimento do movimento de valorização do euro frente ao dólar, após ganhos superiores a 13% no acumulado do ano, reduz a preocupação imediata com os efeitos cambiais sobre a competitividade externa. Na prática, a relação mais estável entre Euro e Dólar oferece ao BCE a possibilidade de interromper temporariamente o ciclo de afrouxamento monetário, sem se preocupar com a perda de competitividade das exportações europeias, já pressionadas por tarifas impostas por Washington. A decisão do BCE sobre juros sai na quinta-feira.
Indicadores oficiais da China ganham especial relevância no momento mais importante do ano
Após julho ter registrado o primeiro recuo no volume mensal de empréstimos em quase duas décadas, além de outros sinais de que a economia chinesa avança em ritmo inferior ao desejado por Pequim, os resultados de agosto serão fundamentais para avaliar se estamos diante de uma tendência mais prolongada de enfraquecimento ou apenas de um movimento pontual, associado ao impacto inicial do aumento tarifário e de tensões geopolíticas recentes. Em particular, o desempenho das importações e a variação dos índices de preços ao consumidor terão papel central para medir a força da absorção da demanda doméstica, elemento-chave para sustentar a trajetória de crescimento da segunda maior economia do mundo. Estimamos alguma melhora nos indicadores do mês, tanto pelo correção após os números muito ruins de julho, quanto por uma eventual retomada após nova prorrogação das tarifas anunciada pelos EUA. A China divulga seu índice de inflação ao consumidor na noite desta terça-feira (9), e os números do mercado de crédito saem na manhã de sexta-feira, sempre no horário de Brasília.
- SAIBA MAIS: O que pensam os líderes de grandes empresas e gestoras financeiras? O programa Money Minds traz entrevistas exclusivas; veja agora