Fundos Imobiliários

IPCA: Fundos imobiliários de CRIs devem reduzir dividendos por causa de deflação; entenda

09 ago 2022, 12:47 - atualizado em 09 ago 2022, 12:47
Fundos imobiliários IPCA
IPCA em queda deve gerar dividendos menores, diz analista (Imagem: Diana Grytsku/Freepik)

Os fundos imobiliários (FIIs) que alocam recursos em certificados de recebíveis imobiliários — os já conhecidos CRIs — surfaram a alta da inflação e têm distribuído robustos dividendos desde o início da pandemia de Covid-19.

Porém, o retorno com dividendos (dividend yield) desses ativos deve cair nos próximos meses, conta o analista de FIIs da Guide Investimentos, Caio Ventura, em entrevista ao Money Times.

A mudança de cenário ocorre por conta do arrefecimento da inflação, uma vez que os fundos de recebíveis costumam pagar rendimentos indexados ao IPCA mais uma taxa fixa de juros.

Segundo Ventura, existe uma forte correlação entre o dividend yield dos fundos de CRIs que compõem o índice de fundos imobiliários da B3 (Ifix) e o IPCA desde 2020.

Dessa forma, os FIIs de recebíveis com maior exposição ao IPCA devem sofrer com a mudança do cenário macroeconômico — a exemplo da deflação registrada em julho (-0,68%).

IPCA em queda gera dividendos menores

Entre os impactos gerados pela queda na inflação, o analista da Guide prevê um ajuste negativo nos dividendos dos fundos de maior concentração em indexadores inflacionários. Como consequência, deve haver maior volatilidade nas cotações.

No entanto, Ventura ressalta que a queda do IPCA não necessariamente acarreta em menores dividendos. “A única coisa que dá para afirmar é que os ativos que estão dentro do portfólio desses fundos de recebíveis vão passar por reajustes menores”, esclarece. “Ou seja, não que necessariamente a queda do IPCA faça o dividend yield dos fundos cair, mas provavelmente vai cair. Há uma relação, porém ela não é causal”, diz.

Em sentido contrário, a mesma lógica se aplica aos fundos atrelados à taxa Selic ou ao CDI. Isto é, o ciclo de alta de juros deve elevar o retorno com dividendos desses FIIs nos próximos meses.

Porém, Ventura esclarece que grande parte dos ativos são reajustados com o IPCA de 12 meses e que, nesse período, a inflação segue alta ainda que ocorra deflação. “Não adianta sair vendendo [agora]”, enfatiza.

Para o analista, o investidor não deve escolher um fundo apenas pelo dividendo, mas, sim, compreender a tese de investimento do ativo e a origem do rendimento a fim de realizar as melhores escolhas.

Quais fundos podem ser mais impactados?

Ao lado do analista Fernando Siqueira, da Guide, Caio Ventura realizou uma regressão para traçar o nível de impacto, desde o início da pandemia, do IPCA em relação ao dividend yield dos principais fundos de recebíveis.

A dupla de analistas da Guide concluiu que existe uma correção de quase 90%, “o que é bastante significativo”, diz Ventura. O estudo não somente reforçou a tese de que a queda na inflação deve impactar negativamente o dividendo dos fundos de papel, como também levantou os FIIs que podem ser mais impactados.

“Concluímos que, dentre os fundos analisados, o segmento high yield seria o mais impactado caso a queda esperada para inflação se consolide no curto prazo”, conta a dupla.

Entretanto, os analistas destacam que o cenário não implica em um risco estrutural para a classe de ativos. “Os fundos imobiliários de recebíveis possuem um prêmio histórico em relação a tijolos em termos de dividend yield. A redução da inflação deve corroer parte deste prêmio”.

Confira os fundos que devem ser mais impactados pela queda na inflação:

Fundo Ticker Risco* DY (12m)
Kinea Índice de Preços KNIP11 90% 17,60%
Kinea High Yield CRI KNHY11 90% 16,80%
Habitat II FII HABT11 87% 14,30%
Plural Recebíveis PLCR11 72% 17,10%
REC Recebíveis Imobiliários RECR11 61% 17,10%
Barigui Rendimento Imobiliários I BARI11 61% 15,40%
Hectare CE FII HCTR11 60% 16,70%
Capitania Securities II CPTS11 59% 14,30%
Banestes Recebíveis Imobiliários BCRI11 57% 14,40%
Iridium Recebíveis Imobiliários IRDM11 56% 14,40%
*Risco é medido pela correlação DY vs. IPCA / Fonte: Caio Ventura e Fernando Siqueira, Guide Investimentos

Qual é a saída?

Siqueira e Ventura entendem que a dinâmica macroeconômica de curto e médio prazo deve beneficiar os fundos de tijolos, segmento que investe diretamente em imóveis, reduzindo o spread de dividend yield observado no último ano entre os fundos de papel e tijolos.

Além disso, os analista acreditam que os FIIs de tijolos oferecem uma janela oportuna de aquisição para ganho de capital no médio e longo prazo.

“Destacamos, entretanto que, fundos de recebíveis imobiliários devem continuar oferecendo um prêmio de rentabilidade em relação aos fundos de tijolo e seguem essenciais nas alocações de portfólio”, ponderam.

Porém, a dupla acredita que o cenário econômico exija do investidor maior diversificação na composição de carteira e maior critério quanto a fundos com alta concentração de ativos indexados a inflação.

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Repórter
Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
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Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
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