Mercados

IPOs em 2024? CEO do Bradesco (BBDC4) acha que sim

18 dez 2023, 16:33 - atualizado em 18 dez 2023, 16:33
IPO
“Isso favorece diretamente o mercado de capitais”, afirmou o executivo a jornalistas mais cedo (Imagem: Reprodução)

A bolsa brasileira bateu recordes de aberturas em 2020 e 2021, quando mais de 50 empresas abriram capital. Porém, a ressaca provocada pela disparada dos juros, que saiu de 2% para 13,75%, deu uma nova marca ao mercado, agora negativa: dois anos sem IPOs, algo não visto nesta década.

Mas para o CEO do Bradesco (BBDC4), o pior ficou para trás e o cenário favorece a entrada de novas companhias na B3. De acordo com o recém-empossado Marcelo Noronha, a queda dos juros nos Estados Unidos e um crescimento “mais parrudo” da economia brasileira vão impulsionar a abertura.

“Isso favorece diretamente o mercado de capitais”, afirmou o executivo a jornalistas mais cedo, quando prometeu para o começo do próximo ano, possivelmente fevereiro, divulgar os planos da nova gestão do segundo maior banco privado do país.

IPOs secaram no mundo

A disparada dos juros e da inflação no mundo fizeram com que o volume de ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês) caísse 8% no primeiro trimestre de 2023 ante mesmo período do ano passado, revela a consultoria Ernst & Young. 

Ao todo, foram realizados 299 IPOs, movimentando US$ 21,5 bi. Comparado ao quarto trimestre de 2022, a queda é maior ainda: 61%. Os dados fazem parte do novo estudo EY Global IPO Trends Q1 2023.

Além de secar a liquidez, ou seja, o dinheiro disponível para que as empresas possam captar recursos, a alta dos juros também provocou uma migração de setores. 

Se com os juros baixos no auge da pandemia as empresas de tecnologia eram as favoritas, agora companhias de setores mais consolidados e seguros viraram as ‘queridinhas’. 

De acordo com o estudo, o setor de energia foi responsável por quatro das dez principais empresas listadas no primeiro trimestre.

“Ativos ligados à energia normalmente têm fluxos de caixa mais previsíveis e, consequentemente, oferecem menos riscos. Além disso, estão ligados a questões de ESG e sustentabilidade, atraindo investidores no momento, explica Flavio Machado, especialista da EY.

“Os temas dessa agenda vem se tornando cada vez mais importantes e impactantes em decisões para investidores, empresas, sociedade e consumidor final”

Seca no Brasil

Até o momento, a seca de IPO no Brasil continua. O especialista da EY diz que a alta da Selic pesa para a avaliação das companhias, que chegam em um mercado com baixa perspectiva de crescimento e pouco apetite para empresas de capital aberto.

“Temos a questão da taxa de juros que é mais abrangente que a questão fiscal local. A inflação, recessão e crescimento tem relação direta com mercado de capitais, mas o evento da reforma fiscal é um componente”, pontua.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, lembra que o custo de oportunidade de estar em renda fixa e não em ações dizimou as ofertas. Em momentos de disparada da Selic, os títulos de renda fixa se tornam mais rentáveis e menos arriscados, prato cheio para qualquer investidor.

“Caminhamos agora para terminar a primeira metade do ano sem IPOs. Historicamente, nesse século, nunca tivemos dois anos seguidos sem IPO. Ou tem no segundo semestre ou, de fato, a safra de IPOs que tivemos em 2021 esterilizou o mercado, ou seja, tinha tanta coisa que não deveria ter aberto o capital que estamos tendo uma ressaca muito grande desse processo”, argumenta.

O analista da gestora Ajax Asset Rafael Passos cita ainda os riscos externos, o fraco crescimento econômico e o ambiente político incerto como outros fatores que ajudaram a criar esta “tempestade perfeita” no mercado de IPOs. Em 2022 o Brasil enfrentou a eleição mais politizada da sua história. 

Na visão de Spiess, o sininho da B3, tradicional cerimônia que marca o início das negociações dos papéis das companhias, só voltará a ser ouvido quando começarmos a ver novas altas da bolsa, com a queda da taxa de juros e com fim do ciclo “perverso de realizações técnicas”, ou seja, de resgate de fundos.

Histórico pesa contra

Além do longo período sem IPOs, outro fato que assusta é o desempenho das companhias da safra de 2020 e 2021.

De acordo com levantamento de Einar Rivero, do TradeMap, das 73 companhias listadas da safra de 2020 e 2021, 56 tiveram desempenho negativo até aqui, contra apenas 17 com resultados positivos. 

“O pior desempenho ficou por conta da Estapar, com 116,75 pontos porcentuais abaixo do Ibovespa e o Assaí se manteve com a melhor performance, com 379,66 p.p. acima do Ibovespa desde a oferta inicial do papel na B3”, destaca.

Passos, da Ajax, diz que quando temos esse cenário de juros, há uma queda abismal no volume de negociação da B3.

 “Então, o fluxo que nós vimos de R$ 40 bi dia hoje está em R$ 20 bi. Quando cai esse fluxo, esses papéis que são small caps ou novidades tendem a sofrer mais”, completa.

Com informações da Reuters

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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