Itaúsa (ITSA4) eleva aposta em Alpargatas (ALPA4) em meio à polêmica com a dona da Havaianas
Pouco antes do Natal, a Itaúsa (ITSA4) fez aquilo que muitos brasileiros costumam fazer no fim do ano: colocou mais um par de Havaianas no carrinho. Em meio às apostas para 2026, a holding decidiu aumentar sua participação na Alpargatas (ALPA4), dona da marca de chinelos mais conhecida do país.
Nos últimos dias, a Itaúsa elevou sua fatia nas ações preferenciais da companhia e passou a deter cerca de 15,94% dos papéis ALPA4 — o equivalente a aproximadamente 54,7 milhões de ações.
O movimento reforça uma posição que já vinha sendo construída ao longo da última década e sinaliza confiança na tese de longo prazo da empresa.
Do outro lado do bloco de controle está o Grupo MS, da família Moreira Salles, que possui cerca de 24% das ações preferenciais da Alpargatas. Vale destacar que o grupo também mantém aproximadamente 5,9 milhões de papéis em swaps com liquidação financeira.
Com isso, a participação conjunta dos controladores — Itaúsa e Grupo MS — passou a superar a marca de 40% das ações preferenciais da companhia.
Segundo os próprios acionistas, no entanto, o reforço da posição não prevê mudanças no controle nem na estrutura administrativa da Alpargatas.
Além disso, as ações adquiridas seguem vinculadas ao acordo de acionistas firmado em setembro de 2017.
As Havaianas no centro da discussão
O aumento de participação acontece em um momento controverso para a Alpargatas. Às vésperas do fim do ano, a dona das Havaianas se viu no centro de uma polêmica que extrapolou o mundo publicitário e ganhou contornos políticos.
Um comercial estrelado pela atriz Fernanda Torres acabou sendo alvo de críticas de grupos de direita, que interpretaram a mensagem publicitária como uma provocação política.
No comercial, a atriz dizia: “Não quero que você comece 2026 com o pé direito. O que eu desejo é que você comece o ano com os dois pés”.
A reação veio em forma de boicote nas redes sociais. Vídeos de chinelos cortados ao meio, pares jogados no lixo e até anúncios oferecendo estoques inteiros por apenas R$ 1 cada par de calçados, criando ruído em torno da marca.
No mercado financeiro, porém, a reação foi menos dramática do que alguns relatos iniciais sugeriram.
Houve na imprensa quem atribuísse ao boicote, de forma incorreta, uma queda de 2% nas ações ALPA4, com perda estimada de R$ 152 milhões em valor de mercado. Na verdade, as ações ligadas ao varejo de forma geral apresentaram queda naquele pregão.
O movimento com os papéis da Alpargatas foi rapidamente revertido: já no pregão seguinte, os papéis avançaram 4% e ganharam cerca de R$ 455 milhões em valor de mercado, o que reforça a visão de que o boicote não teve ligação com o movimento da véspera.
A aposta da Itaúsa na Alpargatas
Independente das intrigas, a Alpargatas está longe de ser uma compra impulsiva de fim de ano para a Itaúsa. A holding entrou na companhia em 2017 e, desde então, construiu uma posição estratégica, tornando-se controladora em conjunto com o Grupo MS.
Ou seja, não se trata de um presente de última hora, mas de uma aposta antiga que foi reforçada à medida que a virada do calendário se aproxima.
Essa aposta se conecta a um plano estratégico mais amplo da Itaúsa para os próximos anos. A holding tem repetido que enxerga em empresas como a Alpargatas um vetor importante de geração de valor — e, sobretudo, de dividendos — no médio e longo prazo.
Hoje, o portfólio da Itaúsa reúne sete companhias que, juntas, somam cerca de R$ 170 bilhões em valor de mercado. Além do Itaú Unibanco, estão ali nomes como Dexco, Motiva, Aegea, Copa Energia, NTS e a própria Alpargatas.
Historicamente, os dividendos pagos pela Itaúsa sempre tiveram uma fonte clara: o Itaú Unibanco.
O banco distribui proventos robustos, e a holding repassa integralmente esses valores aos seus acionistas. Já os dividendos vindos das empresas não financeiras costumavam ficar retidos, servindo como colchão para despesas, dívidas e novas oportunidades de investimento.
Esse arranjo, no entanto, começa a mudar. Os dividendos do portfólio não financeiro já são expressivos — e, à medida que essas companhias amadurecem e aceleram resultados, a Itaúsa passa a ter mais espaço para distribuir proventos que não dependam exclusivamente do banco.
“No médio a longo prazo, seremos capazes de distribuir dividendos para além do setor financeiro”, afirmou a diretora financeira da Itaúsa, Priscila Grecco, em evento com investidores no início deste mês.