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Ivan Sant’Anna: A história da vaca morta

08 ago 2019, 14:44 - atualizado em 08 ago 2019, 14:44

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Havia um secretário de Saúde da prefeitura do Rio de Janeiro, que era também um dos maiores acionistas da Cia. de Cigarros Souza Cruz.

Quando a imprensa se deu conta disso, meteu o pau.

“Como pode o responsável pela saúde no município vender cigarros?”, esse era o tipo de indagação que os jornais faziam.

O secretário alegou, com propriedade, que já tinha ações da empresa havia muito tempo e que continuaria a tê-las após sair do governo. Disse mais. Não concedera nenhum favorecimento aos fumantes, muito menos se metera na proibição de cigarros em locais públicos, como bares, restaurantes, etc.

Com os investidores e especuladores em geral, acontece coisa parecida. Já que não lhes cabe mudar os fatos, só resta interpretá-los corretamente e tirar proveito dessa avaliação.

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Quando, em 1980, o Iraque invadiu o Irã, a cotação do barril do petróleo disparou. Com liberdade poética, já que se trata de uma ficção, narro o fato na página 309 (edição da Inversa) do livro Os mercadores da noite.

“Meio-dia em Nova York. Na plataforma de operações da Clarence & Associados, os operadores encontravam-se agitados. O Iraque invadira o Irã, nos últimos dias do verão, provocando uma súbita e inesperada alta do petróleo. Os profissionais gostavam desses eventos (o grifo não consta do original). Esquentavam o mercado. Naquele dia, a mesa encontrava-se especialmente animada.”

Na época em que eu operava boi gordo na Bolsa de Mercadorias de São Paulo (Bolsinha) e estava numa posição comprada, adorava quando via, noJornal Nacional, a imagem da ossada de uma vaca ou boi morto num pasto esturricado na época da entressafra (estiagem).

Acho até que usavam sempre a mesma vaca, pescada em um arquivo (que chamam de stock shot), mas a ossada me dava uma sensação de alívio.

Assim são os traders, mais preocupados com suas posições do que com as misérias do mundo.

O Brasil pode estar se beneficiando no curto prazo com a devastação da Amazônia. Pecuária, mineração, extração de madeira, tudo isso traz divisas para o país. Mas até quando?

Em todo o mundo há estadistas e ONGs importantes preocupados com nossa floresta tropical. Para que vários países, inclusive os Estados Unidos (Donald Trump poderá sair no ano que vem), comecem a impor sanções comerciais ao Brasil, não custa. Basta que esse movimento de repúdio se alastre.

Tenho certeza que a opinião pública já não é mais a mesma de anos atrás. A situação ambiental mexe com as pessoas. É discutida nas escolas desde o Jardim de Infância.

Um vídeo com uma fila interminável de caminhões com toras retiradas da Amazônia está viralizando na internet.

Esse é o novo cenário.

A partir de agora, ao escolher seus investimentos na Bolsa, o approach de cada empresa em relação à ecologia deve ser levado em conta.

Caro amigo leitor, fuja de fabricantes de veículos poluentes, de mineradoras com barragens inseguras, de indústrias que emporcalham o ar e as águas dos rios.

Se o mundo mudou, mude também. Mesmo que seja “só” para ganhar dinheiro.

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