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Ivan Sant’Anna: é preciso ser jovem para ser trader?

12 dez 2019, 13:18 - atualizado em 12 dez 2019, 13:18
mercados
Ivan Sant’Anna conta a história de como decidiu deixar as mesas de operações (Imagem: Unsplash/@m_b_m)

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Nas newsletters Warm Up que escrevo, e que a Inversa envia, no final há um convite ao leitor:

“Se você quiser fazer comentários, elogios, críticas, tem dúvidas ou sugestões ao autor desta newsletter, é só enviar ao e-mail [email protected] 

Ontem um dos assinantes, RRB, me perguntou:

“O que levou um profissional com sua expertise abandonar o “alto ganho” de dinheiro?” Decidi responder nesta crônica.

O ano era 1995. Eu trabalhava na trading desk do banco Graphus, mas não era funcionário da instituição. Com certificados de foreing broker, emitidos pelas principais bolsas de Chicago e Nova York, operava como corretor para clientes especiais (gente que gostava de risco e não reclamava quando perdia) e para mim mesmo.

Eu era meu melhor cliente. Raro o dia em que não atuava num dos mercados de commodities e futuros, ora fazendo um day trade, ora entrando em uma posição de curto ou longo prazo. Dava ou levava beliscadas de minutos, liquidava posições de dois anos.

Nessa ocasião, tinha 54 anos de idade e, como seria de se esperar, era, por larga margem, o operador sênior da mesa.

Como já tinha sido dono de corretora (Fator), sócio de banco (Independência) e acionista de várias empresas do conglomerado UEB (União de Empresas Brasileiras), me sentia meio deslocado no meio da garotada que “treidava” os mercados de renda fixa e variável.

INÉDITO e EXCLUSIVO. Novo livro do Ivan Sant’Anna revela os segredos de mais de 6 décadas de mercado. Adquira aqui a sua cópia com preço especial da pré-venda.

Eles me tratavam como uma espécie de enciclopédia da mesa.

“Ivan, Israel acaba de atacar o Sul do Líbano. Acha que isso pode afetar as Bolsas?”

“Nada, cara…”, eu respondia. “Eles fazem isso todos os dias. Deve ser o bombardeio das 18 horas, ou coisa parecida.”

“Ivan, saiu o trade deficit de outubro: 28 bilhões de dólares. O que você acha?”

“Bem abaixo do esperado. A Bolsa de Nova York vai subir, levando a daqui.”

Embora acompanhasse os mercados, minha cabeça estava longe. Só pensava em Julius Clarence, protagonista de Os mercadores da noite, livro que escrevia às noites e ao longo dos fins de semana.

Veio então a geada catastrófica (catastrófica para os plantadores, não para mim) que liquidou os cafezais do Sul de Minas.

Mesmo comprando no high de muitos anos, ganhei o suficiente para viver folgadamente alguns anos, além de custear viagens para os Estados Unidos e a Europa, pesquisando para o livro.

Levei uns 10 meses para zerar minhas contas e posições e transferir meus clientes para outro broker.

Eis sua resposta, RRB. Saí dos números para entrar nas letras. Só que, mesmo estando nelas há quase um quarto de século, continuo respirando bolsas e futuros desde a hora em que acordo até tarde da noite.

Como são o tema da maioria de meus livros e crônicas, me mantenho conectado com as notícias que afetam os mercados. Se a Arábia Saudita atacar o Iêmen, e o CPI americano sair além ou aquém do esperado, fico sabendo na hora.

Um abraço

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