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Ivan Sant’Anna: por trás da Saudi Aramco

16 dez 2019, 7:33 - atualizado em 16 dez 2019, 7:33
Anúncio de IPO da petroleira Saudi Aramco em Dhahran, Arábia Saudita
A primeira concessão para exploração de petróleo na península Arábica fora assinada, em 1933, entre o rei Ibn Saud e a Standard Oil da Califórnia. Mais tarde, essa concessão fora cedida à Aramco (Imagem: REUTERS/Hamad I Mohammed)

Caro leitor,

 Na quinta-feira, dia 12, exatamente às 14:50, o José Castro (Zezinho), um dos especialistas em ações da Inversa, postou o seguinte comentário no WhatsApp:

+ + Valor de mercado da Saudi Aramco supera US$ 2 trilhões no segundo dia de negociação da ação após IPO.

+ + Na Bolsa de Riad, papel subiu hoje (12.12.2019) 4,5% a 38,60 riais.

Há mais de dois anos, venho observando com lupa o planejamento e a evolução desse lançamento saudita. Não é por menos. Leio sobre a Aramco desde que comecei a trabalhar no mercado financeiro no final dos anos 1950.

Naquela época, a empresa pertencia a um grupo de companhias estrangeiras conhecidas informalmente no mundo do petróleo como Sete Irmãs: Anglo-Persian Oil Company, Gulf Oil, Royal Dutch Shell, Standard Oil Company of California (SoCal), Standard Oil Company of New Jersey, Standard Oil Company of New York e Texaco.

Fundada em 1933, durante anos a Aramco era espoliada por essas Sete Irmãs.

“Mas como?”, pode estar indagando o leitor, “Por que e através de que meios uma empresa seria prejudicada por seus próprios acionistas?”

Na página 163 da edição da Inversa de meu livro Os mercadores da noite, dou a resposta:

A primeira concessão para exploração de petróleo na península Arábica fora assinada, em 1933, entre o rei Ibn Saud e a Standard Oil da Califórnia. Mais tarde, essa concessão fora cedida à Aramco.

Saudi Aramco
Pena que, apesar das reformas liberalizantes que o Executivo e o Congresso brasileiros estão promovendo, ainda é muito complicado para um investidor brasileiro comprar ativos no exterior (Imagem: Site da Aramco)

Depois da Segunda Guerra, o engenheiro Jean Paul Getty, proprietário da Aminoil, conseguiu outra concessão e encontrou as maiores reservas petrolíferas da Terra, também na Arábia.

Desde 1950, os lucros vinham sendo divididos, meio a meio, entre o reino e as concessionárias. Poderia ser um bom negócio para os árabes, mas não era. Na apuração das despesas de exploração, as empresas prejudicavam os sauditas (o grifo não consta do original).”

O livro O Petróleo – Uma História de Ganância, Dinheiro e Poder, de Daniel Yergin (Editora Página Aberta, 1993), tradução de The Prize – The Epic Quest for Oil, Money and Power (Simon & Schuster, New York), narra com riqueza de detalhes a história da Aramco.

A mamata das irmãs chegou ao fim nos anos 1970, quando, após a Guerra do Yom Kippur (outubro de 1973) e o Primeiro Choque do Petróleo, a Arábia Saudita, governada pelo rei Faisal Abdulaziz Al Saud, nacionalizou, em três etapas, a Aramco.

Agora o príncipe herdeiro do Reino, Mohammad bin Salman, que é quem detém o poder na Península, decidiu vender, por trilhões, aquilo que seu avô, Faisal, comprou por ninharia, usando o embargo de petróleo ao Ocidente como arma.

Desde que esta IPO começou a ser cogitada, acompanho sua evolução. Aqui mesmo na Inversa, numa crônica publicada em dezembro de 2017, portanto há exatamente dois anos, com o título de “A maior IPO da história”, escrevi:

“… a Arábia Saudita irá promover a maior IPO da história. Trata-se da venda ao público de cinco por cento da ARAMCO, a estatal de petróleo do reino, empresa cujo valor de mercado é estimado em dois trilhões de dólares.

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Pena que, apesar das reformas liberalizantes que o Executivo e o Congresso brasileiros estão promovendo, ainda é muito complicado para um investidor brasileiro comprar ativos no exterior. Isso impediu que nós pudéssemos participar desse negócio promissor no Oriente Médio.

Nem mesmo da IPO de uma badaladíssima corretora de valores nacional, lançada na Nasdaq, em Nova York, foi possível tirar uma lasquinha.

Às vezes, recomendo a compra de açúcar, café, cacau, puts da Boeing e outros produtos. Mas fico desanimado quando recebo uma enxurrada de e-mails de leitores perguntando como fazer a operação.

Aproveito o ensejo para informar que a Inversa tem uma publicação que esclarece esses procedimentos. Se chama Grupo do 1% e te mostra todos os passos de como investir no exterior, além de sugerir os melhores investimentos.

Fico imaginando como seria bom se você, caro amigo leitor ou leitora, pudesse dar ordens para sua brokerage house, fosse ela brasileira, americana, saudita ou japonesa, e dar ordens do tipo:

Comprar 50 contratos de Açúcar Março a 1350 (US$ 0,1350), com stop a 1289 (US$ 0,1289).

Comprar 25 puts da Boeing Company, strike US$ 327,50, a US$ 15,85.

Comprar 500 ações da Aramco na Bolsa de Riad a 37 rials.

Eu fiz esse tipo de trade durante muitos anos. Só que minhas contas eram no exterior (no paraíso fiscal de British Virgin Island); meu salário e minhas comissões, pagos em Nova York.

Sei como é viver e trabalhar em condições de facilidade. Adquirir um produto precificado em iene e pagá-lo em dólar. Comprar obrigações austríacas de 100 anos e lançá-las, com o valor em euros, na Relação de Bens da declaração anual de ajuste do Imposto de Renda. Que o programa de computador da Receita Federal faça a conversão cambial devida.

Restam muitas etapas para que o mercado brasileiro de capitais possa ser internacionalizado. O bom da história é que o ministro Paulo Guedes sabe disso e, aos poucos, está tentando simplificar as coisas.

Falta, todavia, maior liberdade regulatória, mais boa vontade da Receita. Num cenário perfeito, um prejuízo num trade de milho futuro em Chicago poderia ser deduzido de um lucro com Magazine Luiza na B3.

Em vários países do mundo, isso é uma situação comum. Infelizmente, apesar das melhoras de 2019, ainda somos uma economia fechada. Vá lá, entreaberta.

Um abraço,

Giro da Semana

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