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J.P. Morgan: queda dos juros atrai investimentos estrangeiros para o Brasil e emergentes

14 jul 2017, 1:16 - atualizado em 05 nov 2017, 14:00

Mercados

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

A alta dos juros nos países desenvolvidos prevista para os próximos meses não deve comprometer os investimentos nos países emergentes, incluindo o Brasil, avalia Gabriela Santos, estrategista de Mercado Global da J.P. Morgan Asset Management. Segundo ela, a política monetária nos países desenvolvidos vai começar a se normalizar, uma vez que a economia está voltando a se aquecer. “Na zona do euro, já vemos cenário para o Banco Central Europeu (BCE) subir seus juros, hoje negativos, com a economia crescendo a um ritmo de 3% ao ano”, afirma.

Além disso, ela espera que o BCE pare as recompras de títulos dos bancos no ano que vem. “E o Fed (Federal Reserve, banco central americano) deve começar a reduzi seu balanço, vendendo os papéis dos bancos que comprou nos últimos anos, o que também deve pressionar os juros dos papéis de 10 anos do Tesouro dos EUA”, diz. Gabriela espera mais uma alta dos juros nos EUA este ano e mais três no ano que vem.

Para os emergentes, a alta dos juros e a redução de liquidez deveria provocar uma retração nos investimentos, lembra Gabriela. Mas ela observa que, no momento atual, a situação é diferente, o que pode reduzir seu impacto. “Antes, o dinheiro para os emergentes vinha em busca de juros altos, o que não é mais o mundo dos emergentes”, diz a estrategista.

Desde 2016, o crescimento das economias emergentes está melhorando, acompanhando o resto do mundo. “O dinheiro internacional está buscando crescimento nos países emergentes, não é mais só o juro alto da renda fixa”, explica. “Pode haver um impacto da redução da liquidez global nos fluxos, mas o que atrai esses recursos não é mais só os juros, mas o crescimento das economias, as ações de empresas”, afirma.

Gabriela cita também a estabilidade de moeda, que ajuda a controlar inflação nos emergentes. E a China mostrando estabilidade no crescimento, o que contribuiu com a estabilidade nos preços de commodities, e que, por sua vez, ajuda o crescimento dos emergentes. E isso estimula a volta de recursos e investimentos, tanto em dívida quanto em renda variável. “E isso não vai mudar com a saída dos estímlos dos bancos centrais, porque os investidores estão buscando crescimento, e não juro alto”, afirma.

As commodities, com preços estáveis, também devem ajudar o crescimento da América Latina. “Mas os investidores estão olhando mais pelo lado de inflação”, afirma. “A normalização da inflação na América Latina nos países desenvolvidos é a alta, mas na América Latina é queda, e os bancos centrais da região estão cortando as taxas de juros”, lembra.

A queda da inflação não ocorre só no Brasil, observa Gabriela. “A inflação era um problema na Colombia, Chile, Peru, e agora está caindo”, diz. “E os BCs estão reduzindo queda dos juros, e os investidores estrangeiros veem e querem aproveitar essa queda da taxa”, explica.

Crescimento zero do PIB no Brasil este ano

No Brasil, a melhora do crescimento vai ser muito moderada, afirma Gabriela. “Houve uma retomada no começo do ano que não deve se repetir nos próximos trimestres”, diz. “A balança comercial e a agricultura ajudaram, mas isso chegou a um pico, importações vão aumentar também e o crescimento vai depender mais do consumo domestico e do investimento”.

Segundo ela, os níveis de confiança melhoraram, mas continuam muito baixos. “É difícil ver aceleração de consumo com confiança baixa e desemprego alto”, afirma. “E, do lado corporativo, há as incertezas da política que limitam os investimentos dos empresários”, acrescenta. Para Gabriela, “saímos da recessão profunda, mas teremos um crescimento moderado este ano, praticamente zero” afirma.

Brasil, expectativa de queda forte nos juros

O interesse pelo Brasil está crescendo pela queda da inflação, diz Gabriela. Os preços estão caindo, os custos dos serviços estão menores e a expectativa é de que os juros básicos possam chegar em 8,% nos próximos meses, estima. “E é isso que o estrangeiro está olhando, ele não espera grande melhora na atividade econômica, mas sim na queda profunda de inflação e dos juros.”

Estrangeiro confia na aprovação das reformas

Sobre a crise política, Gabriela destaca a visão diferente dos investidores estrangeiros e locais. “Quando saíram as gravações do presidente Temer em maio, muitos investidores brasileiros acharam que as reformas não iam acontecer”, diz a estrategista. “Já os estrangeiros não ligavam as reformas a um nome e achavam que mesmo que saísse Temer, elas continuariam”, diz. “Por isso o estrangeiro segue olhando o Brasil mais para médio e longo prazo, e olhando com otimismo no médio prazo”, afirma.

Gabriela observa que o Brasil ficou para trás em termos de competitividade. “Hoje, os países mais competitivos são México, Colômbia Peru e Chile, e os menos, a Venezuela e também o Brasil”, diz. “Mas os estrangeiros estavam com disposição de acreditar que reformas continuariam mesmo sem Temer.”

Retorno maior das empresas atrai estrangeiro

O que os estrangeiros buscam é o retorno maior das empresas que o crescimento econômico vai trazer, afirma Gabriela. Ela cita o exemplo do retorno da renda variável acumulada neste ano, de 9% nos Estados Unidos e, em moeda local, de 10% na Europa e na América Latina, e nos emergentes em geral acima de 15% em 2017. “Só a Ásia tem um retorno de 20% este ano”, diz. “Esses retornos estão vindo pelo fato de que o crescimento tem impacto no resultado das companhias”, afirma Gabriela. As companhias europeias, por exemplo, apresentam um crescimento de 20% no lucro nos últimos 12 meses. “O  investidor está olhando esse crescimento de lucro e querendo investir”.

Os gráficos abaixo mostram o lucro por ação projetado (Lucros Globais) e a avaliação (Valuations Globais) dos principais países, dos Mercados Desenvolvidos (MD) e dos Mercados Emergentes (ME).

JP Morgan

Hoje, o estrangeiro está mais interessado em renda variável dos países emergentes da Ásia, que apresentam maior crescimento.

Já na renda fixa, o estrangeiro está comprando mais papéis em moeda local, pois espera que os juros caiam. A dívida em dólar, por sua vez, deve sofrer com a alta dos juros nos EUA. “Vemos muito interesse pelo Brasil, Colômbia e Rússia, buscando exposição em moeda local para ganhar com a queda da inflação e dos juros”, diz.

A normalização dos juros nos Estados Unidos também vai pressionar os juros de longo prazo, de 10 anos, explica Gabriela. “O juro de 10 anos está muito baixo e deve subir”, diz. Ela afirma que essa alta é consequência da melhora da economia mundial. “É o melhor cenário para a economia mundial nos últimos seis anos”, afirma.

Com isso, pela primeira vez em 36 anos, a taxa do Tesouro dos EUA vai voltar a subir, espera Gabriela. “Ela subiu um pouco este ano, par 2,31%, mas são juros ainda muito baixos”, diz. “Com a subida dos juros nos EUA, e a revenda dos títulos que o Fed comprou, os juros longos vão subir e devem terminar o ano perto de 2,5% a 2,75% e chegar a 3% no ano que vem”, diz.

Alta das bolsas americanas não é exagerada

Sobre a alta das bolsas americanas, que estão nos níveis mais altos da história, com o Standard & Poor’s 500 acumulando alta de 260% em oito anos, Gabriela diz que os preços acompanharam o lucro das empresas, que cresceu nos últimos anos. “E o lucro deve continuar subindo, porque a economia dos EUA segue crescendo”, afirma. Mas o retorno observa, vai ser mais moderado. “Não vai ser 15% ao ano, mas 5%, por isso é importante o investidor olhar não mais os índices, mas os setores que vão ser influenciados pela alta dos juros e o aperto da liquidez”, afirma. “Um ótimo candidato a se beneficiar do juro mais alto é o financeiro, enquanto quem deve sofrer é o consumo”, diz.

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