Economia

Javier Milei vence eleição argentina: Veja quanto o Brasil já lucrou com os hermanos em 2023 (e o que vem agora)

19 nov 2023, 20:39 - atualizado em 19 nov 2023, 21:18
Javier Milei vence segundo turno eleição argentina novo presidente o que esperar ultraliberal libertário extrema direita
Xô, “comunistas”: vitória de Javier Milei no segundo turno da eleição presidencial argentina deve complicar relação com o Brasil (Imagem: Divulgação/ Javier Milei)

O ultraliberal Javier Milei foi eleito o próximo presidente da Argentina. Milei derrotou o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia, no segundo turno da eleição, realizado neste domingo (19).

Ele conquistou 55,77% dos votos, ante os 44,22% do seu adversário peronista Sergio Massa, com 96,34% dos votos apurados.

A vitória de Milei tende a ser desfavorável ao Brasil, já que o economista enfatizou diversas vezes, durante a campanha, que manteria distância dos brasileiros que, segundo ele, são governados por “comunistas”. Os ataques inflamados representante da extrema direita preocupam empresários dentro e fora da Argentina.

  • QUEM INVESTE EM PREVIDÊNCIA PODE RECEBER UM PIX DA RECEITA FEDERAL? Fundo pode ser uma boa oportunidade para quem quer pagar menos IR e até aumentar sua restituição; confira no Giro do Mercado clicando aqui:

O motivo é simples: as relações comerciais entre os dois países são estratégicas para ambos. De um lado, o Brasil já lucrou US$ 4,7 bilhões neste ano com a parceria. Este é o saldo comercial acumulado até outubro com as transações com a Argentina, compostas por US$ 14,9 bilhões em exportações para nossos vizinhos, e US$ 10,2 bilhões em importações provenientes de lá.

Javier Milei vence eleição: Argentina se fechará ao Brasil?

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a Argentina é nosso terceiro maior parceiro comercial, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. As exportações de soja, veículos e autopeças respondem pela maior parte do que embarcamos para lá. Em contrapartida, os argentinos nos vendem, principalmente, veículos de passeio e para outros fins.

Saldo comercial acumulado com Argentina, China, EUA e México entre janeiro e outubro:

Argentina China EUA México
Exportações* 14.901,43 86.421,26 30.042,60 7.395,69
Importações* 10.152,82 44.093,89 32.356,38 4.609,88
Fluxo comércio* 25.054,25 130.515,15 62.398,98 12.005,57
Saldo comercial* 4.748,61 42.327,37 -2.313,78 2.785,81
*em US$ milhão

Os US$ 4,7 bilhões que o Brasil já lucrou comercializando com a Argentina, neste ano, representam 5,84% do saldo comercial de US$ 80,5 bilhões, acumulados de janeiro a outubro. Novamente, as relações com nossos vizinhos só perdem, em lucratividade, para as mantidas com a China, com a qual o Brasil já acumula um saldo positivo de US$ 42,4 bilhões no mesmo período.

Argentina é o terceiro maior destino das exportações brasileiras neste ano (acumulado jan/out):

Ranking País Valor US$ Milhões Part(%)
1 China 86.421,26 30,56
2 Estados Unidos 30.042,59 10,62
3 Argentina 14.901,42 5,26
4 Países Baixos (Holanda) 9.753,29 3,44
5 México 7.395,69 2,61
6 Espanha 6.752,71 2,38
7 Singapura 6.741,01 2,38
8 Chile 6.687,10 2,36
9 Japão 5.504,14 1,94
10 Alemanha 4.802,02 1,69
Demais países 103.786,92 36,70

Para se ter uma ideia da importância de manter boas relações com os argentinos, basta lembrar que o comércio com os Estados Unidos, segundo maior parceiro do Brasil e sempre visto como um país ao qual os brasileiros devem se alinhar, já nos gerou um saldo negativo de US$ 2,3 bilhões na mesma comparação.

Durante a campanha, Milei sublinhou sua disposição de colocar o Brasil na geladeira. Amigo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que chegou a viajar à Argentina para apoiá-lo no primeiro turno, Milei já chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ladrão”, “comunista furioso” e “ex-presidiário”.

Em outubro do ano passado, às vésperas da realização do segundo turno da eleição presidencial brasileira, Milei postou um vídeo ao lado do filho “Zero-três” de Jair Bolsonaro, que tentava derrotar Lula e garantir sua reeleição. “Não se deixem levar pelo presidiário comunista Lula. Votem em Jair Bolsonaro”, afirmou Milei, no vídeo.

Neste ano, pouco antes de os argentinos irem às urnas no primeiro turno de sua própria eleição, Milei deu uma longa entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson, ex-âncora do canal conservador Fox News, e não perdeu a chance de fustigar novamente o presidente brasileiro.

“Não só não farei negócios com a China, como não farei negócios com nenhum comunista”, afirmou na ocasião, e acrescentou que é um “defensor da liberdade, da paz e da democracia”. “Os comunistas não se enquadram nisso, nem os chineses, nem Putin, nem Lula”, arrematou.

À medida que avançou nas pesquisas, e com o objetivo de atrair eleitores moderados da centro direita, como os que votaram em Patricia Bullrich, que terminou em terceiro lugar, Milei baixou o tom dos ataques. No debate do segundo turno, realizado há uma semana (12), o agora presidente eleito procurou estabelecer uma diferença entre as relações comerciais e as relações político-institucionais.

Milei afirmou que não pretende interferir nas relações comerciais, já que, sendo um liberal, entende que este é um assunto a cargo das empresas privadas, que são livres para negociar com quem quiserem. Sua atitude se restringiria ao âmbito institucional, ao prometer que não manteria relações políticas com “países que não respeitam a democracia liberal” – e o Brasil seria um deles.

No debate, Sergio Massa tentou capturar as preocupações de parte do empresariado que mantém relações com parceiros do Brasil. O candidato derrotado afirmou que seria impossível separar o comércio da política, já que os países têm soberania para estabelecer regras comerciais e sanitárias que podem atrapalhar a vida das empresas.

Argentina é a quarta maior fonte de produtos que importamos (acumulado jan/out):

Ranking País Valor US$ Milhões Part(%)
1 China 44.093,89 21,80
2 Estados Unidos 32.356,38 16,00
3 Alemanha 11.179,88 5,53
4 Argentina 10.152,82 5,02
5 Rússia 7.668,89 3,79
6 Índia 5.970,47 2,95
7 Itália 4.935,68 2,44
8 França 4.665,23 2,31
9 México 4.609,87 2,28
10 Japão 4.226,91 2,09
Demais países 72.419,22 35,80

Na ocasião, o peronista afirmou que romper relações com o Brasil e a China, como defende Milei, representaria o fechamento de 2 milhões de postos de trabalho na Argentina, além de uma queda de US$ 28 bilhões nas exportações locais. Com a vitória do economista libertário, os argentinos estão prestes a saber quem estava com a razão – e os brasileiros também.

Os produtos que o Brasil mais exporta para a Argentina (acumulado jan/out):

Produtos Valor US$ Milhões Part(%)
Soja 1.983,17 13,3
Partes e acessórios dos veículos automotivos 1.672,5 11,22
Veículos automóveis de passageiros 1.220,8 8,19
Energia elétrica 457,1 3,06
Minério de ferro e seus concentrados 446,56 2,99

Os principais produtos que o Brasil compra da Argentina (acumulado jan/out):

Produtos Valor US$ Milhões Part(%)
Veículos automóveis para transporte de mercadorias e usos especiais 2.041,86 20,11
Veículos automóveis de passageiros 1.869,36 18,41
Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus 786,43 7,74
Trigo e centeio, não moídos 650,74 6,4
Motores de pistão, e suas partes 352,33 3,47

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
Linkedin
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
Linkedin
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.