JBS (JBSS3): Eleição de Trump pode dificultar listagem em NY? Analistas enxergam outros obstáculos no processo

Desde julho de 2023, a JBS (JBSS3) busca a dupla listagem de ações, o que faria com que os papéis fossem negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), além da B3. No entanto, o processo enfrenta algumas barreiras.
No mês passado, um grupo de investidores focados em ESG pediu aos reguladores de mercado dos Estados Unidos que neguem a permissão para o frigorífico negociar suas ações em Nova York, alegando que a JBS não comunica adequadamente seus impactos ambientais.
Segundo o grupo, que inclui a Green Century Capital Management, são necessários mais dados, inclusive sobre suas emissões indiretas de gases de efeito estufa.
“A JBS tem um longo antecedente de enganar investidores em seus comunicados corporativos ao exagerar seu histórico ambiental e minimizar riscos”, diz a carta de 8 de setembro à SEC (Securities and Exchange Commission) divulgada em 2 de outubro. O grupo inclui 18 investidores e organizações com cerca de US$ 22 bilhões em ativos sob gestão.
Em sua defesa, a JBS afirma que tem relatado há anos dados abrangentes sobre seus emissões de acordo com os padrões da indústria, se referindo a alegação como “patentemente falsa”. Fora isso, a produtora de carnes diz que desde 2023 está sujeita aos requisitos de informação da SEC e das leis de mercado dos EUA.
O frigorífico alega que a dupla listagem amplia sua capacidade de investimento, aumentando a flexibilidade de emissão de ações para financiar oportunidades de crescimento e desalavancagem, além de reduzir o custo de capital, permitindo que a empresa concorra em pé de igualdade com seus pares globais.
Volta de Trump pode impedir listagem da JBS nos EUA?
A partir da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, o mercado já tem projetado, assim como aconteceu em seu primeiro mandato, um maior protecionismo por parte do governo norte-americano.
Perguntado se a volta de Trump pode impactar a dupla listagem, Bruno Corano, economista e fundador da Corano Capital, gestora e asset em NY, não enxerga barreiras.
“O modelo protecionista americano tem relação com o consumo, importação e imigração. Quanto ao mercado financeiro, eu acredito que seja o oposto. Não acredito que a eleição do Trump terá um efeito negativo quanto à listagem. Ainda assim, dentro do ambiente americano, ela é reconhecidamente uma empresa de capital estrangeiro. Apesar da grande importância no mercado do país”.
Segundo ele, os principais impasses do SEC se dão por conta alguns questões passadas da companhia, e não pelo lado ambiental. “A JBS herda um histórico de ter sido envolvida em escândalos, com questionamentos em termos de compliance de até onde ela seria absolutamente íntegra. Mas parece que essa ‘novela’ da listagem está caminhando”.
As dúvidas do mercado quanto à dupla listagem
De acordo com o economista, a dúvida do mercado parece mais atrelada sobre as motivações da JBS para realizar a dupla listagem e o porquê da companhia não agregar todos os seus negócios em um único ativo.
“Eu não tenho essa resposta, eu só ouço essa pergunta. Quanto ao processo, a JBS usa a narrativa de separar seus negócios, com JBS Foods International de um lado e a operação Estados Unidos de outro, porque isso é bom pra ela. Mas a SEC ainda não entendeu qual seria o benefício para o investidor”.
Corano cita que o processo de listagem é moroso e burocrático. “Acredito que a JBS tem enfrentado alguns problemas, e acho que é justamente na separação, que é distinguir os ativos de cada uma das ações. A dupla listagem abre a possibilidade para uma maior geração de valor e captação de recursos, mas não há garantias que os papéis vão se sustentar ou subir. Se ela trabalhar muito, a aprovação pode acontecer no primeiro semestre de 2025”.
Segundo Régis Chinchilla, head de research da Terra Investimentos, o frigorífico não fez nenhum comentário nos últimos meses sobre alteração na expectativa da listagem para 2025, com a manutenção das expectativas.
Em outubro do ano passado, o CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que se o projeto de dupla listagem fosse bem-sucedido, a empresa investiria R$ 50 bilhões no Brasil até 2026. Além disso, seriam criados 50 mil postos de trabalho adicionais até 2026.
O Money Times entrou em contato com assessoria da JBS sobre o assunto, mas não obteve retorno sobre o tema até a publicação dessa reportagem. O espaço segue aberto.
*Com informações da Bloomberg