JBS (JBSS32): BTG vê espaço para fim do momento de lucros e desconto para Tyson com dupla listagem

A última sexta-feira (13) marcou a estreia da JBS (JBSS32) na Bolsa de Nova York (NYSE), um processo bastante aguardado pela alta cúpula da companhia.
Segundo o BTG Pactual, desde o IPO em 2007, a receita da empresa aumentou quase 30 vezes, impulsionada por uma combinação de aquisições globais e crescimento orgânico.
“A operação teve dois objetivos principais: reduzir o desconto de valuation entre a JBS e seus pares listados nos EUA e ampliar a flexibilidade para fusões e aquisições com a criação de ações supervotantes. Após o acordo J&F-BNDES, as ações da JBS subiram”, enxergam Thiago Duarte e Guilherme Guttilla.
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JBS: Os descontos para Pilgrim’s Pride e Tyson Foods
De acordo com o BTG, o desconto de valuation frente à Pilgrim’s Pride se fechou, e a JBS agora é negociada com leve prêmio em relação à sua subsidiária nos EUA.
Mesmo com a melhora recente, a empresa ainda é negociada com um bom desconto em relação à Tyson Foods — o múltiplo EV/Ebitda caiu de 5,3 para 3,9 vezes. Esse indicador mostra quanto o mercado está disposto a pagar pela geração de caixa da empresa, e números menores indicam uma avaliação mais barata.
No caso da Tyson, o múltiplo subiu depois que a empresa comprou a Hillshire e dobrou sua participação em alimentos processados — um tipo de produto que costuma dar margens melhores e receitas mais estáveis. Com isso, o mercado passou a enxergar mais valor na Tyson, elevando seu múltiplo do intervalo de 5 a 6 vezes para um patamar entre 8 e 9 vezes.
“Nos últimos seis anos, os alimentos processados representaram 19% da receita da Tyson, mas 37% do seu EBIT, com a menor volatilidade de margem entre todas as divisões. Embora a JBS tenha uma exposição menor ao segmento — estimada entre 10% e 15% das receitas —, ela entregou uma margem EBIT média de 6,1% no mesmo período, ligeiramente acima dos 5,9% da Tyson, e com volatilidade semelhante.
Apesar da menor representatividade, o perfil de lucros da JBS tem se mostrado igualmente sólido, provavelmente devido à sua diversificação global. “À medida que o mercado compreende melhor isso — somado à execução consistente da JBS, que historicamente entrega margens superiores em frango, carne bovina e suína in natura —, acreditamos que essa parte do desconto em relação à Tyson tende a se reduzir”.
Fôlego para os lucros chegou ao fim?
Apesar do potencial de valorização considerável, o momento atual de lucros da JBS pode estar se esgotando, segundo o banco.
“A empresa está passando por uma fase favorável nos negócios de aves, tanto nos EUA quanto no Brasil (via PPC e Seara), o que tem ajudado a compensar a fraqueza do ciclo de carne bovina nos EUA. Outras divisões também vão bem — a operação de carne bovina no Brasil se beneficia da alta oferta de gado, enquanto o segmento de suínos nos EUA segue com margens saudáveis”.
Esses fatores contribuíram para um bom desempenho para as ações em 2024, reforçado pela forte depreciação do real no ano. Em 2025, a JBS ainda deve ter um bom desempenho. As margens de carne bovina no Brasil devem continuar sólidas, e o setor de aves deve manter bons resultados tanto nos EUA quanto no Brasil, embora as margens possam ser ligeiramente menores devido ao aumento de custos ano contra ano e ao recente surto de gripe aviária no Brasil.
“No entanto, não esperamos grandes surpresas positivas nos lucros neste ciclo. Para 2026, o cenário muda: o negócio de carne bovina nos EUA deve seguir pressionado, com o ciclo do gado só se revertendo em 2027. No Brasil, os pecuaristas devem começar a reter fêmeas para recria, reduzindo a oferta de animais. Enquanto isso, o setor de aves deve normalizar seus lucros excepcionais, à medida que a oferta se ajusta à demanda”.
A partir desse cenário, o BTG projeta Ebitda de R$ 36,6 bilhões em 2025 (margem de 7,7%) e queda para R$ 31,9 bilhões em 2026 (margem de 6,5%).
O que fazer com ações da JBS?
O banco volta a lembrar que historicamente a JBS foi negociada com desconto, com as melhores calls da ação sempre ligadas ao impulso para lucros.
“O rali de 60% em 2024, por exemplo, seguiu uma forte revisão para cima do Ebitda, de R$ 22 bilhões para R$ 38 bilhões. Mas com o enfraquecimento do momento de resultados, a próxima etapa da valorização da ação deve vir da expansão de múltiplos. Isso é território novo para a JBS, o que torna o argumento otimista um pouco mais complexo”.
Agora, com a dupla listagem o cenário mudou. A JBS agora está efetivamente listada nos EUA, com acesso a uma base mais ampla de investidores e maior flexibilidade de capital.
A empresa já atingiu o valuation da PPC, com as ações subindo quase 20% no dia em que o BNDES anunciou que se absteria na votação da listagem. A partir daqui, o fechamento do gap com a Tyson deve ocorrer de forma mais lenta — mas, se acontecer, o potencial de valorização segue elevado.
Os analistas acreditam que, embora leve um tempo, é possível que os múltiplos da empresa se aproximem dos da Tyson Foods. O BTG Pactual projeta um preço-alvo de US$ 19 para as ações Classe A da companhia — o que representaria uma valorização de quase 37% — e de R$ 110 para os BDRs (JBSS32) negociados no Brasil. Essa projeção considera que, em 2025, a empresa será negociada a um múltiplo EV/Ebit de 10 vezes. Mesmo assim, esse valor ainda representa um desconto de 18% em relação ao que o mercado paga hoje pelas ações da Tyson.