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Jogo do bicho na Netflix: o império que perdeu o trono para as bets

30 out 2025, 10:54 - atualizado em 30 out 2025, 10:54
Apostas/Jogo do Bicho/Bets

O tradicional jogo do bicho acaba de ganhar uma nova vitrine: a Netflix. A plataforma acaba de estrear a série “Os Donos do Jogo”, que retrata as disputas entre banqueiros, bicheiros e policiais no Rio de Janeiro. Por trás da ficção, a trama reflete um cenário real — o enfraquecimento de um império cultural e econômico diante da era digital.

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Criado no século XIX por João Batista Viana Drummond, o jogo começou como atração no zoológico de Vila Isabel e acabou se espalhando pelo país. Tornou-se contravenção penal, financiou escolas de samba e sustentou parte da economia informal brasileira por décadas.

Agora, porém, enfrenta um rival que parece impossível de vencer: as apostas online.

Quando o bicho perde o jogo

Antes da ascensão das bets no Brasil, o jogo do bicho ostentava o título de “maior loteria ilegal do mundo”, segundo especialistas.

Mais recentemente, o The New York Times descreveu o momento atual dos jogos de azar no país como uma “crise existencial” do jogo do bicho.

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bets/casa de apostas/jogo do bicho
Bets/Casas de Apostas/Jogo do Bicho

Com prêmios menores e sorteios limitados, o modelo tradicional perdeu espaço para as plataformas digitais de apostas de cota fixa — as chamadas bets — que oferecem sorteios ilimitados, funcionamento ininterrupto e ganhos imediatos.

Os números mostram a mudança de era:

  • De acordo com o Banco Central, brasileiros transferiram R$ 3 bilhões em recursos do Bolsa Família para sites de apostas em agosto de 2024.
  • No primeiro trimestre de 2025, os gastos mensais com apostas online oscilaram entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões, o que projeta um volume anual superior a R$ 270 bilhões.
  • Estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) indica que as bets drenaram R$ 68,2 bilhões do consumo em 12 meses e provocaram uma perda estimada de R$ 100 bilhões ao varejo em 2024.
  • O Aposta Legal Brasil registrou mais de 5 bilhões de acessos às plataformas no primeiro trimestre de 2025 — o equivalente a 650 acessos por segundo.
  • Pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) apontou que 15% da população com mais de 16 anos fez ao menos uma aposta online em 2024 — cerca de 23 milhões de pessoas.

Mesmo em declínio, o jogo do bicho ainda movimenta cifras expressivas.

Segundo o Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL), o setor arrecadou cerca de R$ 12 bilhões em 2024, espalhados por 350 mil pontos de apostas — número quase 30 vezes superior ao de lotéricas da Caixa Econômica Federal.

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A engrenagem continua organizada: banqueiros financiam e assumem os riscos, gerentes coordenam as bancas e anotadores registram as apostas.

Ilegal desde 1941, o jogo sobrevive sustentado pela confiança e pela nostalgia.

Enquanto o bicheiro tradicional ainda circula com o bloco de anotações, as novas “bancas” operam em aplicativos hospedados em paraísos fiscais. As bets funcionam 24 horas por dia e oferecem bônus, transmissões de jogos ao vivo e programas de cashback.

Crime, regulação e um novo tabuleiro

Em paralelo, o mercado de apostas online se consolidou como uma engrenagem econômica globalizada.

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As bets patrocinam os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro de 2025, ocupam espaços publicitários e já figuram entre as principais fontes de receita do futebol nacional.

O sucesso, porém, vem acompanhado de custos sociais.

Casos como o da comerciante Taiza Costa, que perdeu R$ 480 mil em dois anos no popular “jogo do tigrinho”, e o da estudante Vitória Bittencourt, endividada em R$ 110 mil, multiplicam-se nas reportagens sobre o tema.

“É pior que droga”, afirmou Vitória ao New York Times.

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A fronteira entre o legal e o ilegal nunca pareceu tão tênue.

A Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, apontou indícios de lavagem de dinheiro do jogo do bicho por meio de sites de apostas esportivas — um sinal de que parte dos antigos bicheiros migrou para o ambiente digital.

Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar até 2026 a constitucionalidade das bets, autorizadas por lei em 2018 e regulamentadas apenas em 2024 pelo Ministério da Fazenda.

A Secretaria de Prêmios e Apostas já divulgou a lista de empresas habilitadas a operar no país — mas patrocinadoras como Pixbet (Flamengo) e Esportes da Sorte (Corinthians) ficaram fora da relação mais recente, o que levou a disputas judiciais.

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O Projeto de Lei 2.234/2022, em análise no Senado Federal, propõe a regulamentação do jogo do bicho, bingos e cassinos, com a criação de tributos específicos (Cide-Jogos e Tafija) e mecanismos de controle social.

O relator, senador Irajá Abreu (PSD-TO), estima uma arrecadação anual de R$ 22 bilhões e a geração de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.

Mas o tempo pode jogar contra o jogo do bicho.

Enquanto o Congresso discute a legalização, as bets já ocupam o espaço — e o bolso — do apostador brasileiro.

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Repórter
Jornalista com especialização em Gestão de Mídias Digitais. Atua como repórter nos portais de notícias Money Times e Seu Dinheiro.
isabelle.miranda@seudinheiro.com
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