Coronavírus

Jovens nos EUA ignoram vacinação enquanto delta se espalha

03 ago 2021, 14:15 - atualizado em 03 ago 2021, 14:15
Vacinas
De acordo com pesquisa recente da Kaiser Family Foundation, 34% dos adultos na faixa etária de 18 a 29 anos disseram que gostariam de esperar antes de serem vacinados (Imagem: Bloomberg)

Enquanto a variante delta atinge um segmento mais jovem da população, esse grupo demográfico emerge como um dos obstáculos mais cruciais e resistentes à vacinação nos Estados Unidos.

Sabrina Garcia, de 19 anos, estava em conflito sobre trabalhar em turnos de 13 horas no Afton Pub & Pizza em Concord, na Carolina do Norte, quando o popular restaurante reabriu para refeições no interior em maio passado. Na época, os casos de Covid-19 no estado ainda somavam milhares a cada dia e especialistas no país alertavam contra a retomada de uma vida “normal” muito precipitada.

“Simplesmente estava acostumada a estar rodeada de muita gente”, disse Garcia, caloura da Universidade da Carolina do Norte, em Wilmington. “Vivi minha vida como se fosse normal.” Garcia disse que nunca contraiu o coronavírus e também não se apressou em tomar a vacina. Do ponto de vista dela, sua juventude era toda a armadura de que precisava para protegê-la contra a Covid.

De acordo com pesquisa recente da Kaiser Family Foundation, 34% dos adultos na faixa etária de 18 a 29 anos disseram que gostariam de esperar antes de serem vacinados, e outros 15% disseram que não tomariam a vacina.

Para Garcia e muitos em sua faixa etária, não é apenas o medo, a desinformação ou a desconfiança que os impedem de serem vacinados. É a indiferença. Um estudo publicado em julho no Journal of Adolescent Health revelou que, entre jovens adultos não vacinados, 23% disseram que poderiam simplesmente não tomar a vacina, principalmente porque não são considerados um grupo de alto risco. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, cerca de 54% das pessoas com idades entre 18 e 24 anos receberam uma dose ou mais de vacina, a faixa etária menos imunizada entre adultos.

Mas a cara da Covid-19 está mudando, e jovens se infectam cada vez mais e com quadros mais graves. Desde agosto passado, o CDC registrou mais de 117 mil pessoas entre 18 e 29 anos hospitalizadas com Covid e, na última semana, a taxa de hospitalização dessa faixa etária aumentou 25%.

Como a variante delta se espalhando rapidamente entre segmentos não vacinados dos Estados Unidos, a baixa taxa de imunização entre americanos mais jovens tornou-se uma grande ameaça para derrotar o coronavírus. Para especialistas em saúde pública, a grande questão é como promover a vacinação entre uma população que acredita estar fora de perigo.

Primeiras impressões

Os riscos para os jovens foram subestimados desde o início da pandemia, de acordo com Sally Adams, pesquisadora de saúde da Universidade da Califórnia em São Francisco, que liderou o estudo com jovens adultos não vacinados. O fato de a faixa etária ser a de menor prioridade para vacinação só contribuiu para essa percepção.

Adams também disse que, como os jovens vão ao médico com menos frequência, “há muitas oportunidades perdidas de realmente ouvir um profissional de confiança”. Isso pode dar às redes sociais ainda mais domínio sobre esse grupo.

“Muitos jovens se sentem saudáveis e invencíveis”, disse Jordan Tralins, estudante da Universidade Cornell, que fundou um grupo no campus para abordar questões comuns sobre as vacinas entre colegas nas redes sociais. “Eles sentem que, se pegarem Covid, não serão afetados.”

O desafio agora é mudar essa mentalidade.

Como muitos se preparam para retornar às aulas presenciais em universidades no final do mês, algumas escolas buscam evitar a propagação desde o início, sendo que 631 campi agora exigem vacinação, de acordo com o Chronicle of Higher Education.

Ainda assim, alguns resistem. Alyssa Jones, estudante da Virginia Tech e presidente estadual da Young Americans for Liberty, ajudou a criar uma petição depois de saber que sua escola exigiria a vacinação de alunos. Desde que o mandato foi anunciado em 8 de junho, a petição acumulou cerca de 1.000 assinaturas, segundo ela.