Juros altos, cotas baratas e baixa inadimplência: ‘Esse é o momento certo para investir em FIIs’, avalia gestor

A combinação de juros ainda elevados, cotas descontadas na Bolsa e inadimplência baixa no segmento está reacendendo o interesse dos investidores pelos fundos imobiliários. A avaliação é de Danny Gampel, sócio e gestor de crédito da Cy Capital.
“O mercado imobiliário trabalha muito alavancado e é inversamente proporcional aos juros. Quando a taxa sobe, machuca. Foi o que vimos, os investidores migraram para a renda fixa, e isso machucou os FIIs”, afirmou Gampel em entrevista ao Money Times.
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Após um período de forte migração para títulos de renda fixa, o possível fim da elevação da Selic começa a favorecer a retomada da renda variável — especialmente dos fundos imobiliários, que costumam oferecer retornos atraentes.
“O Banco Central deve dar uma trégua nas altas. Talvez tenhamos alcançado o topo dessa escalada. Além disso, os juros futuros estão mais baixos, e é isso que os investidores estão percebendo”, disse o gestor.
Recuperação dos FIIs
A retomada do apetite por FIIs tem impulsionado a valorização das cotas. O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX), por exemplo, renovou sua máxima histórica ao atingir 3.442,87 pontos na quarta-feira (28).
Com isso, o indicador avança quase 1% em maio e acumula valorização superior a 10% no ano. Para efeito de comparação, o CDI está em aproximadamente 1,03% e 5,15%, respectivamente, no mesmo período.
“Hoje há uma atratividade muito grande nos fundos, e o principal motivo são os juros. Com as taxas futuras em queda, estamos vendo uma recuperação expressiva”.
‘Dividendos gordos’
Para Danny Gampel, a recuperação é explicada também pelos dividendos — e, nesse ponto, o setor também tem mostrado força.
“Os rendimentos distribuídos pelos FIIs são isentos de imposto para pessoas físicas, e os fundos estão pagando bons proventos. Os que são indexados ao CDI apresentam retornos interessantes, assim como os ligados à inflação, pois o IPCA continua elevado”, disse.
Segundo o mais recente Boletim Focus do Banco Central, a expectativa é que a inflação encerre 2025 em torno de 5,5%, acima da meta oficial de 3%.
Nesse cenário, Gampel cita o Cyrela Crédito (CYRC11) como exemplo de rendimento. O fundo, focado em recebíveis, oferece papéis que pagam aproximadamente IPCA +10,5% ao ano, um prêmio considerável em relação à média.
Mercado com baixa inadimplência
Além da atratividade dos dividendos, o gestor destaca que o segmento de fundos imobiliários apresenta hoje inadimplência reduzida e estrutura sólida, com garantias robustas. “Isso proporciona segurança ao investidor”.
“A soma dessa baixa insolvência com a elevação do CDI e da inflação faz os FIIs distribuírem dividendos que superam os dois dígitos. Sem dúvida, é um momento de oportunidade”, afirmou.
Mas afinal, o que poderia jogar ‘água nesse chope’?
Apesar da melhora do cenário, algumas incertezas ainda permanecem. Questionado sobre o que poderia atrapalhar o desempenho dos FIIs, Danny admitiu que fatores externos — como a tensão comercial entre Estados Unidos e China — podem influenciar o humor dos investidores de renda variável, mas dificilmente alterariam a trajetória do segmento.
Outro tema citado foi a situação fiscal do Brasil. Embora o país enfrente riscos por conta da alta dívida pública e das medidas para aumentar a arrecadação, o gestor acredita que os efeitos no mercado serão limitados.
“É claro que o governo pode prejudicar. O fiscal já está pressionado há anos e, mesmo assim, percebo um aumento na atratividade do setor. Não vejo isso como um fator decisivo para prejudicar os fundos”, avaliou.
Já um dos maiores temores do mercado — a eventual taxação dos dividendos — também foi tratado com ceticismo pelo gestor.
“Essa discussão já existe há muito tempo, mas nunca avançou de fato. A chance de ocorrer é remota. O Brasil ainda enfrenta um déficit habitacional enorme. Retirar a isenção dos rendimentos seria um tiro no pé para o setor”, afirmou.
Danny reforçou que, hoje, o mercado de capitais como um todo, incluindo os FIIs, é fundamental para financiar o ramo imobiliário. Por isso, para ele, “tributar os dividendos prejudicaria bastante a indústria”.