Juros futuros caem com mercado atento ao noticiário sobre pacote fiscal

As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira (9) em baixa, em meio ao recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior e às notícias sobre medidas planejadas pelo governo Lula para fechar as contas públicas, em substituição às elevações recentes de IOF.
Foi a segunda sessão consecutiva de baixa das taxas, que já haviam caído na sexta-feira em função da expectativa do mercado pelas medidas estruturais do governo na área fiscal.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 14,865%, ante o ajuste de 14,918% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2027 marcava 14,23%, em baixa de 9 pontos-base ante o ajuste de 14,324%.
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Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,81%, ante 13,857% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,87%, ante 13,898%.
A sessão desta segunda-feira foi de volatilidade para as taxas, que oscilavam enquanto eram publicadas na imprensa notícias sobre o pacote do governo para cumprir a meta fiscal.
Como informou a Reuters, no domingo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ter chegado a um acordo com líderes do Congresso para “recalibrar” o decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no mês passado.
Segundo ele, a iniciativa será compensada por uma taxação de títulos atualmente isentos e cobranças maiores sobre apostas online e instituições financeiras.
Entre as medidas estão a cobrança de 5% de Imposto de Renda sobre títulos atualmente isentos, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e debêntures incentivadas, que servem de funding para atividades do agronegócio, construção e investimentos em infraestrutura.
Outra proposta prevê a elevação de 12% para 18% da taxa incidente sobre o faturamento de empresas de aposta (bets) após a dedução dos prêmios pagos aos vencedores e do IR.
Além disso, o governo vai propor uma alíquota unificada de 17,5% de IR sobre rendimentos de aplicações financeiras — incluindo ações e renda fixa. Atualmente as alíquotas podem variar de 15% a 22,5%, dependendo do ativo e do prazo de aplicação.
No domingo, Haddad afirmou ainda que governo e Congresso concordaram em discutir uma redução mínima de 10% nos incentivos tributários que não estão definidos na Constituição.
A falta de detalhes sobre como funcionaria de fato a redução desses incentivos e sobre como ficarão as alíquotas de IOF após a recalibragem manteve os investidores cautelosos.
O dólar chegou a subir aos R$5,60 pela manhã, mas perdeu força e à tarde oscilava em leve baixa. As taxas dos DIs bateram máximas também pela manhã, mas à tarde migraram para o território negativo. O movimento de baixa tinha mais destaque nas taxas a partir de janeiro de 2027.
Um analista ouvido pela Reuters pontuou que, como há ceticismo no mercado sobre a possibilidade de mudanças no IR passarem no Congresso, o impacto sobre os preços dos ativos nesta segunda-feira não era tão claro. Outro profissional pontuou que o excesso de ruídos sobre a questão do IOF gerou volatilidade, com maior pressão de alta para as taxas em alguns momentos e acomodação em outros.
Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, o recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior foi um fator baixista para as taxas futuras no Brasil, mas também houve movimento de realização de lucros após os avanços da semana passada.
“Tem um pouco de realização, porque na semana passada houve um movimento expressivo (de alta). Com os (rendimentos dos) Treasuries caindo, reduz a pressão”, comentou.
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Enquanto monitora a política fiscal do governo, investidores também seguem afinando as apostas para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcado para 17 e 18 de junho. A dúvida é sobre a continuidade ou não do processo de elevações da taxa básica Selic, hoje em 14,75% ao ano.
Na sexta-feira — atualização mais recente — a precificação das opções de Copom negociadas na B3 indicava 69,00% de chances de alta de 25 pontos-base da Selic, contra 26,50% de probabilidade de manutenção. Estes percentuais expressam uma mudança radical das apostas ocorrida na semana passada, já que em 27 de maio a precificação era de 14,50% de chances de alta de 25 pontos-base e 83,00% de probabilidade de manutenção da Selic.
No sábado, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, ressaltou que os membros da autarquia entrarão na reunião de política monetária deste mês com suas “opções em aberto”, reforçando que o cenário atual exige “flexibilidade e cautela”.
“A nossa comunicação tem repetido várias vezes que as duas palavras-chave são flexibilidade e cautela”, disse Galípolo. “Flexibilidade significa que nós vamos para a próxima reunião com as opções em aberto, consumindo os dados. Cautela significa que a gente está em um ambiente de elevada incerteza… Neste ambiente, não é natural nem normal nem esperado que se faça movimentos bruscos”, completou.
Ao contrário da precificação nos ativos, o relatório Focus desta segunda-feira indicou que a mediana dos economistas para a Selic no fim deste ano segue em 14,75%. A inflação projetada para o ano foi de 5,46% para 5,44%.
No exterior, às 16h45, o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 2 pontos-base, a 4,488%.