Mercados

Lagarde avisa mercados que BCE não opera no ‘piloto automático’

24 jan 2020, 10:29 - atualizado em 24 jan 2020, 10:29
Christine Lagarde
Em sua reunião de política monetária, o BCE continuou a descrever os riscos para suas perspectivas com viés negativo, embora menos pronunciados (Imagem: REUTERS/Ralph Orlowski)

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, alertou investidores a não assumirem que a política monetária atual está paralisada no futuro previsível apenas porque as autoridades estão focadas em revisar a estratégia.

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“Para quem pensa que a política está no piloto automático, é ridículo”, disse em entrevista à Bloomberg Television durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça. “Vamos olhar para os fatos. Vamos ver como a economia evolui.”

Lagarde falou um dia depois de anunciar a primeira reavaliação das metas e ferramentas de inflação do BCE desde 2003, em um processo que será concluído apenas em dezembro. Com a economia da zona do euro se estabilizando e um pacote de estímulo já em vigor, poucos analistas projetam uma mudança da política monetária em breve.

Economistas acreditam que o programa de flexibilização quantitativa, retomado pelo ex-presidente do BCE Mario Draghi pouco antes de ele passar o bastão para Lagarde em novembro, continuará até o fim do próximo ano, e as taxas de juros devem permanecer inalteradas até o início de 2022. Os mercados não precificam uma alteração das taxas até pelo menos meados de 2021.

Ainda assim, as ameaças econômicas não diminuíram completamente. Dados publicados na sexta-feira mostraram que a atividade do setor privado permaneceu moderada no início de 2020, apesar dos sinais de recuperação na Alemanha.

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Em sua reunião de política monetária, o BCE continuou a descrever os riscos para suas perspectivas com viés negativo, embora menos pronunciados. O presidente dos EUA, Donald Trump, usou sua participação em Davos para voltar a ameaçar a imposição de tarifas sobre a indústria automobilística europeia.

“O BCE ainda está longe de colocar a inflação dentro da meta, e acreditamos que agirá nos próximos meses”, disse Nick Kounis, economista do ABN Amro, em Amsterdã. “Não acho que um banco central como esse possa fechar a loja por um ano.”

Lagarde disse que a revisão será independente das decisões de política monetária que o Conselho do BCE toma a cada seis semanas.

A política monetária “será conduzida independentemente da revisão da estratégia”, disse Lagarde. “Então, para aqueles que dizem que vai ser completamente estático e estável por 12 meses, digo ‘ah, cuidado’, porque as coisas mudam e poderíamos ter sinais diferentes e reconsiderar. Poderíamos. Não sei a essa altura.”

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Poucos detalhes

Os detalhes precisos sobre o que as autoridades estudarão em sua revisão foram escassos na quinta-feira, além de observações gerais de que a reavaliação será ampla e se concentrará em tópicos como estabilidade financeira e mudança climática. A principal questão para o BCE é por que há anos não consegue atingir sua meta de inflação “abaixo, mas perto de 2%”.

Lagarde tem seus próprios pontos de vista sobre o que precisa ser feito, mas diz que não deseja divulgá-los por receio de influenciar o debate antes que outros opinem. A intenção é consultar acadêmicos e o público em geral por meio dos bancos centrais nacionais.

“Sei que algumas pessoas estão decepcionadas por não termos dito muito mais”, disse Lagarde. “Mas uma revisão de estratégia começa aqui e termina lá, e você não pode dizer aqui o que vai fazer lá – caso contrário, você não faz uma revisão de estratégia.”

Em entrevista à Bloomberg Television em Davos, o presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, disse que acredita que a meta de inflação deve ser “simétrica, flexível e confiável” – refletindo o debate sobre a possibilidade de definir uma meta precisa de 2% com um intervalo de tolerância para cima ou para baixo.

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bloomberg@moneytimes.com.br