BusinessTimes

Lucas Röttgering: O novo normal é uma mentira

12 ago 2020, 21:56 - atualizado em 13 ago 2020, 10:20
Novo Normal
“Recentemente, o Spotify comunicou que seus dados de consumo voltaram ao, veja bem, “normal”, não o novo, o velho” (Imagem: Unsplash/@rojekilian)

Como gatilho de mudança de comportamento, o “novo normal” é tão eficiente que, de forma coletiva, consciente e arbitrária, todos, de pessoas a empresas e governos, tiveram o cotidiano revirado, seja como for, para um novo modelo de mundo.

Mas, classificar como “novo normal” um período de adaptação de um mundo em constante transformação, colocaria em risco a adoção, talvez tão urgente, de próximas grandes transformações que também serão tão necessárias em seu tempo quanto esta a que estamos nos adaptando, ao mesmo tempo que jogaria uma sombra sobre as rupturas com “velho normal” do passado.

Live or let it die.

Recentemente, o Spotify comunicou que seus dados de consumo voltaram ao, veja bem, “normal”, não o novo, o velho. Claro, eles não usaram esse termo, mas a referência é clara. O comportamento recente de seus usuários foram considerados praticamente o mesmo antes da pandemia. Ah sim, ainda estamos nela.

Acho que desde que começamos a falar sobre lockdown, distanciamento, home office e todas as hashtags que viraram trends, estamos buscando qualquer notícia, fake news ou simpatia que nos permita, mais uma vez, colocar o pé na rua, dar um abraço e cantar em um estádio. Não sei você, mas eu me iludo frequentemente com isso.

O “novo normal” é uma mentira. Não há “novo normal”. Há um hiato entre o que fazíamos e o que vamos voltar a fazer. O novo normal se insere nessa janela de tempo e não depois dela. É nesse hiato que a transformação do mundo está acontecendo. É nesse hiato que estamos experimentando, experienciando, desconstruindo e arriscando mais, muito mais do que fizemos em, quem sabe, 50 anos. Qual seu melhor palpite?

Nunca a pauta da transformação, aquela que até há alguns meses era uma hashtag certa em posts aqui no Linkedin, e que eu usei e uso bastante, foi tão verdadeira, quase absoluta. Lembra quando falávamos que a transformação digital seria o “novo normal” das empresas, mesmo sem usar esse termo? Pois é, por conta desse hiato, ela é o “novo normal” das empresas.

Netflix
“Vamos ser sinceros, o ‘novo normal’ já está em sua edição 4.0” (Imagem: Gustavo Kahil/ Money Times)

Antes, parecendo apenas tema de grandes eventos em que pagamos um bom dinheiro para ouvir ou palestrar sobre os benefícios necessários e consequências da não adoção, hoje, ouvimos podcasts, lives e webinars gratuitos sobre como fizeram e fizemos a transformação.

A mentira do “novo normal” se esconde no seu discurso. Estamos há bons anos falando a mesma coisa. Desde que eu fiz minha primeira apresentação sobre experiências com foco no cliente, há mais de 10 anos, eu ainda vejo empresas e pessoas discutirem sobre design como um pedido de cartão de visita para uma gráfica. Ainda estou esperando o design thinking ser um “novo normal”. Mas quem se importa?

Revoluções por minuto.

Vamos ser sinceros, o “novo normal” já está em sua edição 4.0. O iphone, em 2007, trouxe o novo normal; a internet, em 95, trouxe o novo normal; o Ford T, em 1908, trouxe o novo normal; a crise de 2008, trouxe o novo normal, a Netflix trouxe o novo normal, Floyd trouxe o novo normal. Alguém aí falou em revoluções industriais?

Essa bagunça de datas e fatos é proposital. Não trabalhamos mais com linearidade, estamos já falando sobre o multiverso quântico no café da manhã. Mesmo que não saibamos nada sobre isso.

Nós estamos vivendo transformações o tempo todo, o tempo inteiro. O novo, novo mesmo, é que talvez tenhamos acordado para a consequência mais importante, a descoberta mais relevante há muitos anos: a de que o discurso sem prática, a teoria sem aplicação, o empreendedorismo de palco, não muda mundo algum.

Vamos parar de achar que transformação é sobre tecnologia, e começar a transformar o mundo à nossa volta. Vamos parar de esperar que a economia melhore e começar a melhorar o modelo econômico. Vamos parar de falar em “novo normal” e normatizar que o futuro foi construído ontem para podermos aprender a viver no agora. Vamos falar de legado e gestão da mudança. O “novo normal” é ou não é uma mentira? #fazsentido?

Tudo pode ser referência e gerar valor, desde que você eduque o olhar. Publicitário e Designer, graduado em publicidade pela Universidade Mackenzie e pós graduado em Gestão do Design pela Belas Artes, tem diversas especializações entre elas Gestão da Inovação, Modelos de negócio, Design de Serviços, Design Sprint, Ferramentas ágeis, Branding, StoryTelling entre outras. Teve sua própria consultoria para pequenos negócios, colabora no projeto sobre transformação digital Estratégias que Transformam e é mentor voluntária na Aliança Empreendedora e é o responsável pelo Marketing e Operações no Money Times.
Tudo pode ser referência e gerar valor, desde que você eduque o olhar. Publicitário e Designer, graduado em publicidade pela Universidade Mackenzie e pós graduado em Gestão do Design pela Belas Artes, tem diversas especializações entre elas Gestão da Inovação, Modelos de negócio, Design de Serviços, Design Sprint, Ferramentas ágeis, Branding, StoryTelling entre outras. Teve sua própria consultoria para pequenos negócios, colabora no projeto sobre transformação digital Estratégias que Transformam e é mentor voluntária na Aliança Empreendedora e é o responsável pelo Marketing e Operações no Money Times.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.