O que fez o lucro da Eucatex (EUCA4) saltar 64% no 3T25? VP explica rentabilidade e planos de expansão
A Eucatex (EUCA4), uma das principais fabricantes de pisos, portas, tintas e painéis do país, com atuação em diversos segmentos da indústria, registrou lucro líquido de R$ 84,3 milhões no terceiro trimestre (3T25), alta de 64% em relação ao mesmo período do ano passado, mostra balanço divulgado nesta quinta-feira (13).
O resultado, de acordo com a companhia, foi sustentado, principalmente, pela melhoria da rentabilidade e da gestão de custos, mesmo em um ambiente ainda pressionado pela taxa Selic elevada.
“O lucro veio muito mais como consequência da melhoria da rentabilidade do que do aumento da receita, já que a economia anda meio de lado: há um ‘cabo de guerra’ entre os estímulos fiscais e a restrição do crédito”, afirmou José Antônio Goulart, vice-presidente executivo e diretor da Eucatex, em entrevista ao Money Times.
Entre julho e setembro, a receita líquida da empresa somou R$ 798,3 milhões, avanço discreto de 3,1% em base anual, enquanto o Ebitda recorrente subiu 27%, para R$ 191,8 milhões, com margem de 24%, um aumento de 4,5 pontos percentuais.
“Os crescimentos observados estão muito mais ligados a reajustes de preço e itens com mais valor do que propriamente volume. Os segmentos onde a gente está atuando continuam avançando, mas a velocidade diminuiu. Com essas restrições de mercado, focamos mais em novos produtos e gestão de custo”, explicou.
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Apoio de programas habitacionais
Na divisão de Indústria Moveleira e Revenda, formada por vendas de painéis de MDP, MDF, THDF e chapas de fibra, a receita líquida avançou 9,5% no 3T25, enquanto no ramo da Construção Civil, que abrange pisos laminados, vinílicos, portas, divisórias e tintas, o aumento foi de 1,8% na mesma base de comparação.
Segundo Goulart, o desempenho destes segmentos vem sendo sustentado por programas públicos de habitação, especialmente o Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
“Esses programas têm sido fundamentais. Se não fosse por eles, o setor já estaria andando para trás”, disse.
“Além do MCMV, há novos incentivos, como o Reforma Brasil, voltado a melhorias em imóveis já existentes, que ainda não sentimos totalmente, mas podem trazer bons resultados para a Eucatex nos próximos trimestres”, continuou.
Impacto do tarifaço
Ao ser questionado sobre os efeitos das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros, o diretor comentou que, sim, elas geraram impactos, principalmente no final do trimestre.
“No mês de setembro, tivemos uma queda relativamente importante nas exportações, mas o patamar já voltou ao normal em outubro”, afirmou.
Goulart ressaltou que a Eucatex, que exporta para cerca de 30 países, mantém uma estrutura própria nos Estados Unidos, com subsidiária e centros de distribuição, o que ajuda a mitigar as taxações.
“Nós não vendemos diretamente aqui do Brasil para um cliente norte-americano. Nós vendemos aqui do Brasil para uma subsidiária integral que fica nos EUA, e essa empresa, por sua vez, faz um trabalho de distribuição por lá. Então a gente tem uma companhia constituída sob a lei americana, e com diversos armazéns espalhados no território”, explicou.
“Isso nos coloca numa situação diferenciada do ponto de vista de exportação, porque o que foi taxado pelo Trump foi o preço de origem aqui no Brasil. Esse preço, sim, está sofrendo o impacto da tarifa, mas o markup que realizamos nos Estados Unidos não é afetado, então conseguimos preservar boa parte da margem”, prosseguiu.
Alavancagem baixa e novos investimentos
No terceiro trimestre, a dívida líquida da Eucatex recuou para R$ 515 milhões, queda de 6,5% em um ano.
Com isso, a alavancagem financeira da companhia caiu para 0,7 vez o Ebitda, ante 1 vez no 3T24, e chegou a um dos menores níveis da história recente da empresa.
Mesmo com um caixa confortável, a corporação realizou uma nova emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) de R$ 300 milhões, visando, de acordo com o diretor, um novo ciclo de investimentos.
“Essa operação nos deixa capitalizados para um programa de aporte mais robusto. Neste ano, investimos cerca de R$ 350 milhões e, em 2026, devemos ultrapassar os R$ 500 milhões”, afirmou.
Os recursos devem se concentrar na ampliação de capacidade e em itens de maior valor agregado, reduzindo a exposição a commodities.
“Vamos seguir a estratégia de trabalhar em nicho de mercado e em produto de maior preço.”
Dividendos à vista? Por ora, não
Perguntado sobre a possibilidade de ampliar a distribuição de dividendos, Goulart afirmou que a companhia deve manter o payout mínimo de 25%, conforme a Lei das S.A., priorizando o fortalecimento da estrutura de capital.
“Nossa intenção é continuar nesse patamar, justamente para preservar o nível saudável de endividamento e viabilizar o plano de investimentos de 2026”, disse.