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Lucro e fim da recuperação judicial: o que esperar da retomada da Saraiva?

17 ago 2022, 16:08 - atualizado em 17 ago 2022, 16:35
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Com a recuperação judicial, a Saraiva poderá voltar a discutir um plano de expansão (Imagem: Becca Tapert/Unsplash)

A Livraria Saraiva tem finalmente enxergado uma luz no fim do túnel após praticamente quatro anos de recuperação judicial.

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Apenas na última semana, dois fatos novos surgiram: um acordo celebrado com parte de seus credores, que pleiteia a conversão das dívidas em ações (o que tornaria a empresa de capital totalmente pulverizado), e o anúncio de um lucro líquido de R$ 20 milhões no segundo trimestre deste ano – ante os R$ 13,4 milhões de prejuízo anotados no mesmo período de 2021.

Mesmo que o acordo firmado não tenha abarcado todos os credores, a notícia do lucro é positiva e traz novas possibilidades para a empresa. Também é positivo o fato de cerca de 90% das dívidas trabalhistas já terem sido quitadas.

Algumas movimentações ao longo deste ano também contribuíram para melhores perspectivas, como o abatimento da dívida em cerca de R$ 160 milhões, obtidos graças à venda do espaço do Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Desde 2019, o ponto é ocupado pela Centauro e era um dos poucos ativos imobiliários da rede – praticamente todos os demais são alugados.

Após vários anos, a Saraiva poderá voltar a discutir um plano de expansão. E tal plano se pautará na inauguração de lojas físicas como no incremento da operação online.

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No final do primeiro trimestre de 2022, a Saraiva reportou 34 lojas ativas, as quais, no mesmo informe, representam cerca de 94% de sua receita bruta total – os 6% restantes são obtidos por vendas online.

Após um período tão longo de enxugamentos, o que se pode esperar da Saraiva? Quais são seus próximos desafios?

Sem dúvidas, a busca por pontos comerciais será um dos maiores entraves para a Saraiva voltar a crescer em capilaridade. E esse desafio se ramifica em dois: disponibilidade e demanda.

Disponibilidade de ponto de venda

Enquanto nos anos 2000 o Brasil assistia à chegada do modelo de livrarias megastores, a Saraiva marcou território em diversos shoppings centers.

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Em endereços como o Center Norte e Pátio Paulista, os pontos de venda cresceram em até seis vezes (de 200 para mais de 1200 metros quadrados) – deixando de ser uma ‘loja satélite’ (que costumam ter até 500 metros quadrados) e assumindo o status de ‘megaloja’ ou ‘loja âncora’ (entre 500 e 1000 e acima de 1000 metros quadrados, respectivamente).

No entanto, megalojas ou lojas âncoras são espaços extremamente seletos. O Eldorado, em São Paulo, tem cerca de 304 lojas – sendo 13 megalojas ou âncoras (pouco mais de 4%, se formos considerar o número de unidades e não o tamanho ocupado).

Enquanto a abertura ou fechamento de lojas pequenas seja algo trivial, o mesmo não acontece com megalojas ou lojas âncoras.

Apenas para efeitos de curiosidade, C&A e Lojas Americanas estão no Shopping Ibirapuera desde sua inauguração (em 1976) e isso não é algo considerado raro.

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Ao abdicar de pontos de venda, a Saraiva entregou espaços raros e valiosos para concorrentes – diretos e indiretos. Riachuelo, Centauro, Fogo de Chão e Cacau Show são apenas alguns exemplos de ocupação das antigas lojas da Saraiva.

Mesmo sem entrar no mérito do valor do ponto de venda (devido à sua localização na planta do shopping), já se sabe que, caso haja interesse em um retorno, a busca por espaços será mais difícil e possivelmente em tamanhos inferiores aos que eram ocupados anteriormente.

Demanda

Existem várias interpretações acerca do comportamento de leitura do brasileiro. Se há 15 anos, quando o e-commerce ainda engatinhava, era possível correlacionar a leitura diretamente à compra de livros em livrarias, hoje não mais.

As compras podem ocorrer em sites como Mercado Livre, Amazon, no conglomerado B2W (Americanas, Submarino e Shoptime), em sebos virtuais, isso quando não ocorrem downloads de PDFs ou demais versões digitais para leitura no Kindle ou outros dispositivos equivalentes. Ah, e também podem ocorrer no site das livrarias – que, como já mostrado, representam apenas 6% da receita da Saraiva.

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Diante dessa limitação, são raríssimos casos em que há mais de uma livraria em um shopping center – e as existentes atendem à demanda em espaços bem mais compactos.

Com o fechamento da Saraiva, concorrentes como a Livraria da Vila e Leitura aceleraram seus planos de expansão para ocupar a lacuna deixada pela rival.

A maior parte das inaugurações ocorreu em pontos diferentes dos ocupados pela Saraiva justamente pela necessidade de áreas menores (e consequentemente aluguéis mais baratos).

No Morumbi Shopping, por exemplo, a Saraiva chegou a ter uma loja de 1600 metros quadrados (espaço hoje ocupado pela Cacau Show e Empório Santa Maria) – e ainda havia uma Fnac com 4 mil metros quadrados. Atualmente, a Livraria da Vila é a única em todo o shopping e seu espaço é de apenas 250 metros quadrados – 15% do que a Saraiva chegou a ter e 4,4% do que o complexo comercial chegou a ter um dia destinado a livrarias.

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Mesmo que com espaços menores, a Livraria da Vila e Leitura cresceram exponencialmente nos últimos dois anos em um fenômeno que faz lembrar, ainda que em dimensões bem mais modestas, o ocorrido no final dos anos 90 no segmento de vestuário.

À época, a Mesbla estava fechando todas as suas lojas. A Renner, então restrita ao Rio Grande do Sul, correu para acelerar sua expansão e ocupar os pontos de venda antes que suas concorrentes o fizessem.

Ciente de que dificilmente conseguiria espaços tão bons caso perdesse tal oportunidade (como explicado no primeiro tópico), em 1999 a Renner inaugurou 12 lojas – mais da metade das 23 inauguradas em 90 anos.

Experiência do cliente

Livrarias como a Saraiva, mesmo que não precisem ocupar tanto espaço como em seus tempos áureos, fazem falta.

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Ao analisar apenas da ótica do cliente, desprezando qualquer diretriz financeira, a lacuna deixada pelas lojas fechadas ainda não foi preenchida.

Lojas como as da Livraria da Vila e Leitura, além de serem bem menores, são pouco convidativas: os corredores apertados, a ausência de poltronas (dirá de cafés, que marcavam presença nas grandes livrarias) e o portfólio limitado são realidade em quase todas elas, o que faz com que haja um potencial a ser explorado pela Saraiva em sua retomada.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
joao.gabriel@moneytimes.com.br
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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