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Coluna do Einar Rivero

Lucro setorial da B3 recua no 3º tri, mas segmentos cíclicos surpreendem: Impacto de Americanas e Axia distorce agregado

19 nov 2025, 11:07 - atualizado em 19 nov 2025, 11:07
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(Imagem: Divulgação/B3)

A temporada de balanços do terceiro trimestre de 2025 trouxe um quadro mais complexo da lucratividade das companhias listadas na B3. Embora o resultado consolidado ainda indique pressão sobre margens e um recuo relevante dos lucros, a dinâmica por setor revela movimentos assimétricos, e alguns deles bastante surpreendentes.

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De forma geral, o lucro das empresas não financeiras caiu 9,2%, somando R$ 79,0 bilhões, enquanto o setor financeiro recuou 3,5%, para R$ 36,9 bilhões. O agregado total da bolsa, R$ 116,0 bilhões, sofreu retração de 7,46%.

Porém, quando se inclui o efeito de Americanas (AMER3) e Axia Energia (AXIA3), que atravessam situações muito específicas, o quadro muda completamente: o número total despenca para R$ 110,9 bilhões, queda de 22,3%.

Esse conjunto de distorções revela muito sobre a verdadeira fotografia corporativa brasileira.

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Construção civil, varejo e transporte lideram crescimento dos lucros, enquanto utilidade pública afunda

Entre os destaques positivos, o setor de construção civil impressiona: o lucro mais que dobrou no período, avançando 106%, para R$ 2,05 bilhões. O movimento foi puxado por forte demanda por habitação popular, revisão de preços, melhoria operacional e redução do custo de capital.

O comércio e distribuição também apresentou alta vigorosa, de 99%, reflexo de reposicionamento estratégico, ganho de eficiência e normalização dos custos logísticos pós-2022.

No segmento de transporte, o lucro saltou 172%, impulsionado por maior demanda por mobilidade aérea e rodoviária e pela reorganização de capacidade.

Outros setores mostraram força consistente:

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  • Tecidos, vestuário e calçados: +62%
  • Computadores e equipamentos: +62%
  • Siderurgia e metalurgia: +50%
  • Telecomunicações: +27%
  • Alimentos processados: +11,7%

O denominador comum é a melhora de volumes e a recomposição gradual de preços, em um ambiente de inflação mais comportada.

Por outro lado, setores tradicionalmente robustos enfrentaram pressões severas:

  • Energia elétrica: -34,8%
  • Petróleo, gás e biocombustíveis: -15,3%
  • Serviços médico-hospitalares: -89,8%
  • Madeira e papel: -38,3%
  • Diversos: -33,5%
  • Material de transporte: -33,7%

No caso das elétricas, o recuo reflete decisões regulatórias, efeitos climáticos e um ciclo de despesas não recorrentes. Já em petróleo, o trimestre reflete piora de preços internacionais e ajustes operacionais de grandes players.

Financeiras recuam menos que as não financeiras, e seguem como contra-peso de estabilidade

O setor financeiro mostra novamente resiliência. Embora bancos tenham registrado queda de 4,7% nos lucros (para R$ 31,2 bilhões), seguradoras e resseguradoras cresceram 3,4%, sustentadas por melhor desempenho técnico e financeira.

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No consolidado, as empresas financeiras recuaram 3,5%, menos da metade da queda das empresas não financeiras. Ou seja: em um trimestre de pressões operacionais e margens comprimidas, o setor financeiro novamente funcionou como amortecedor estatístico da bolsa.

Essa dinâmica reforça uma tendência estrutural: o lucro corporativo brasileiro depende, de forma significativa, da estabilidade relativa dos bancos.

O fator Americanas e Axia: duas distorções gigantes

Isoladamente, Americanas e Axia Energia alteram radicalmente a leitura dos resultados agregados da B3.

  • Americanas, em processo de reestruturação profunda, reduziu um lucro atípico de 2024 (R$ 10,3 bi) para R$ 367 milhões, queda de 96,4%.
  • Axia Energia saiu de um lucro de R$ 7,2 bilhões para prejuízo de R$ 5,4 bilhões, uma virada de R$ 12,6 bilhões.

Com isso, o total das empresas listadas, antes positivo em R$ 116 bilhões, recua para R$ 110,9 bilhões, uma perda adicional de R$ 31,9 bilhões quando se comparam as bases 2024 vs. 2025 com ambas incluídas.

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Essas duas empresas, por suas particularidades contábeis e corporativas, devem ser tratadas como casos especiais. E, sem elas, o quadro geral do mercado é menos dramático, embora ainda negativo.

O que este trimestre nos diz sobre o estado real das empresas brasileiras

Ao combinar todos os dados, algumas conclusões emergem:

1. O lucro setorial está cada vez mais assimétrico

Setores cíclicos vêm se recuperando bem, enquanto setores tradicionais de grande peso, como energia elétrica e petróleo, sofrem pressões conjunturais relevantes.

2. As empresas não financeiras enfrentam desafios operacionais maiores

O recuo de 9,2% nas não financeiras reflete custos ainda pressionados, despesas operacionais crescentes e dificuldade de repassar preços acima da inflação.

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3. O setor financeiro permanece como âncora de estabilidade

Mesmo com queda, bancos e seguradoras mantêm previsibilidade de resultados e baixa volatilidade, algo vital para a leitura do mercado.

4. Americanas e Axia mostram que a fotografia consolidada precisa de filtros

Sem ajustes, o agregado da B3 dá a impressão de deterioração muito mais grave do que a realidade operacional da maioria das empresas.

5. A bolsa brasileira segue num ciclo de transição

Margens ainda pressionadas, receitas crescendo menos que o IPCA e um ambiente global mais desafiador, inclusive com tarifas impostas pelos EUA, compõem o cenário de adaptação das empresas.

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CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista em dados financeiros de mercado
Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista em dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
einar.rivero@autor.moneytimes.com.br
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Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista em dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
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