Coluna do Beto Assad

Lula azeda o humor do mercado e o que mais esperar de sua equipe econômica

13 dez 2022, 10:48 - atualizado em 13 dez 2022, 10:48
Ibovespa/Bolsa de Valores B3
Ibovespa patina no curto prazo ao passo que Lula azeda o humor do mercado. Leia a coluna do Beto Assad, analista de ações e consultor para o Kinvo. (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

A semana começou tensa no mercado financeiro. E isso pode ser apenas o começo do que o investidor irá viver nos próximos tempos, ao passo que Lula azeda o humor do mercado.

O Ibovespa caiu 2,02% nesta segunda-feira (12), o dólar subiu 1,26% e os prêmios do Tesouro direto dispararam.

Mas o que está acontecendo para deixar os ânimos tão exaltados?

As atitudes de Lula e os nomes indicados para comandar setores chaves da economia estão deixando profissionais do mercado de cabelos em pé.

Primeiro foi a confirmação de Fernando Haddad como novo Ministro da Fazenda. Nome especulado a muito tempo, o mercado parecia já ter “precificado” Haddad, já que a bolsa até subiu no dia da nomeação.

Além do mais, Lula parece ter escolhido estrategicamente a data da escolha: o dia do jogo entre Brasil e Croácia na Copa, momento em que o público está com a atenção toda voltada ao evento esportivo. Coincidência? Não acredito.

Menino Haddad

O fato de Haddad ser uma indicação política e não técnica mostra ao mercado que a condução não só da economia, mas de todo o governo Lula, pode ser pautada exatamente por este viés.

E isso traz a preocupação de que o governo pode acabar representando não uma solução, e sim um risco às contas do país.

Haddad terá que provar, dia após dia, que o governo fará uma gestão econômica responsável e que seja sustentável a longo prazo.

Afinal, não existe a possibilidade de manutenção dos programas sociais se o dinheiro ficar curto. Mais uma vez afirmo: políticas sociais podem ser realizadas quando existe dinheiro para tal.

E sem responsabilidade fiscal o caminho para a ruína do país é mais rápido do que se pode imaginar. Basta ver os exemplos espalhados pelos países vizinhos da América Latina.

Portanto, a chance de termos um aumento na já pesada carga tributária é real, uma vez que contrapartidas serão criadas para lidar com o ímpeto de gastar mais do novo governo.

Além do mais, tudo indica que a máquina estatal voltará ser mais pesada, com um aumento do número de “profissionais” públicos a serem bancados pela população. Se veremos os benefícios dessa máquina mais inchada, só o tempo dirá. Mas experiências passadas me deixam bem desconfiado.

Mercado aborrecido

Mais uma vez, cabe a Haddad mostrar ao mercado que ele se cercará de bons profissionais e que sua gestão será positiva, tanto economicamente quanto socialmente.

Mas aí passamos para o segundo problema, justamente o que mais aborreceu o mercado na segunda e aumenta ainda mais a desconfiança do que está por vir.

Passaram a circular notícias de que Lula poderia indicar Aloizio Mercadante ou para a presidência do BNDES ou da Petrobras. Veio então o “grande” problema.

Para poder indicar Mercadante para a Petroleira, Lula teria que revogar a Lei das Estatais, que foi concebida durante o governo de Michel Temer.

Essa é uma lei que procura pautar as indicações das estatais com base em critérios e qualificações técnicas, e não políticas. A Lei também veda a indicação para gerir essas empresas qualquer pessoa que tenha atuado em estruturas decisórias de partidos políticos nos últimos 36 meses.

E este é exatamente o caso de Mercadante, que além de não ser muito bem visto por grande parte do mercado financeiro, participou ativamente da campanha presidencial de Lula.

Que Lula iria tentar emplacar nomes políticos alinhados à sua vontade política já era sabido.

Mas passar por cima de uma lei que provou ser ótima para a gestão das empresas mostrou para o mercado que uma versão mais radical de Lula, mais parecido com o que foi a gestão de Dilma Rousseff, deve ser o que veremos desta vez.

A versão mais controlada que vimos no primeiro governo do petista, algo que o mercado esperava com boa vontade, parece que vai ficar no passado.

Aperte os cintos em 2023

Assim, vai ficando claro que não só as estatais, mas todos os aspectos do governo, serão administradas com um viés muito mais político do que técnico. E, historicamente, isso é péssimo para o investidor.

Somando ainda toda a desconfiança do mercado com Fernando Haddad, o cenário fica cada vez mais complicado.

O Ibovespa já dá sinais claros de estar numa tendência de baixa no curto prazo. E grande parte dessa movimentação mais negativa vem exatamente de todo este cenário político e econômico que está sendo desenhado.

E dependendo das medidas que Lula, Haddad e demais ministros tomarem em suas respectivas áreas, não seria surpresa ver o Ibovespa caindo ou andando de lado nos próximos quanto anos.

Se você possui um perfil mais arrojado, aperte os cintos. 2023 promete ser bastante turbulento.

Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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