Política

Lula, Bolsonaro e mercado tentam curar a ressaca do endividamento no Brasil

17 out 2022, 12:03 - atualizado em 17 out 2022, 12:04
Apoiadores de Lula e Bolsonaro se manifestam em Brasília
Lula, que está à frente nas pesquisas, propõe uma renegociação de dívidas com apoio do governo (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Os dois candidatos à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), vêm dizendo em suas campanhas que trarão alívio às famílias endividadas, resolvendo um problema que afeta o crescimento econômico.

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Mas economistas e executivos de bancos dizem que as soluções apresentadas até agora são “band-aids”, que não resolverão estruturalmente o problema do excesso de endividamento e seu impacto na economia — e as próprias instituições financeiras estão tentando encontrar novas maneiras de renegociar dívida em atraso e tirar o peso dos mercados de crédito.

Com cerca de 70 milhões de brasileiros com nomes negativados nos serviços de proteção de crédito, segundo a Serasa, somando 290 bilhões de reais em dívidas, atender a essa população é uma estratégia eleitoral importante num disputado segundo turno.

Lula, que está à frente nas pesquisas, propõe uma renegociação de dívidas com apoio do governo.

Segundo assessores, o petista deve focar primeiro nos 95 bilhões de reais em contas de serviços não pagas acumuladas por famílias que ganham até 3.600 reais por mês. Depois, o governo tentará ajudar com incentivos para reestruturar dívida bancária.

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Tentando ganhar pontos com essa população, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um programa da Caixa Econômica Federal oferecendo um grande desconto na dívida bancária. Mas o escopo da medida — o relançamento de um programa que o banco já vinha fazendo nos últimos anos — é modesto. São cerca de 4 milhões de clientes cujas dívidas já saíram do balanço do banco e chegam a 1 bilhão de reais.

“Não muda muita coisa,” disse Eduardo Martins, sócio da gestora de crédito MGC Crediativos, que estima que o saldo total de créditos em atraso no Brasil chegue a 1 trilhão de reais, incluindo dívida bancária, junto a varejistas e contas de telecomunicação e serviços como água e esgoto.

Martins também acredita que as propostas de Lula não consideram o estado atual das dívidas. “Qualquer plano deve considerar que 60% da dívida já foi vendida a investidores, então incentivos dados a bancos serão inócuos.”

O mercado secundário de dívidas em atraso cresceu dramaticamente nos últimos meses, especialmente depois de mudanças nos critérios de classificação de crédito pelo Banco Central, o que acelerou a venda das carteiras pelos bancos.

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O volume também aumentou, à medida que a redução de atividade econômica durante a pandemia e a posterior alta na inflação e nos juros elevaram os níveis de inadimplência e colocaram mais famílias em listas restritivas de crédito.

O ex-diretor do Fundo Garantidor de Créditos Fábio Mentone afirma que a reestruturação de crédito é importante, mas não terá efeito macroeconômico se as condições não mudarem, como o nível de emprego, inflação e taxa de juros.

“Se você resolve o problema das dívidas em atraso mas continua com juros altíssimos, daqui a pouco terá o mesmo problema novamente”, afirmou.

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Mercados Ativos

Os grande volumes de dívida em atraso negociados no setor privado aumentaram a atividade de renegociação com os devedores. Várias empresas oferecem descontos de até 90% do valor de face da dívida.

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Os credores originais, que se desfazem da carteira, preferem não oferecer descontos altos diretamente por medo de incentivar bons pagadores a parar de pagar.

A empresa de reestruturação Pantalica Partners estima que cerca de 115 bilhões de reais em créditos em atraso foram vendidos no mercado secundário neste ano, cerca de 5 vezes mais do que em 2019.

A maior parte do volume é de carteiras de crédito dos maiores bancos, de varejistas e de concessionárias de serviços. Cerca de 37 bilhões são em vendas de dívida corporativa de grandes empresas.

Entre os maiores compradores de portfólios neste ano estão gestores de recursos e companhias de gerenciamento de crédito como Jive, SPC, Cerberus, BRD, Quimera e Quadra.

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A Intrum, uma das maiores gerenciadoras de créditos da Europa, abriu uma subsidiária no Brasil em 2020. As taxas de juros mais altas devem elevar a inadimplência em crédito e aumentar o pool de ativos estressados.

Os maiores bancos também são hoje proprietários de empresas de recuperação de crédito. A Recovery é controlada pelo Itaú, e a Return pelo Santander. Já a RCB Investimentos é controlada pelo Bradesco.

Desde a pandemia, devedores têm preferido resolver suas dívidas por meio de websites, sem ter contato com nenhum cobrador da dívida. Na Crediativos, por exemplo, essa modalidade passou a representar 70% de todas as renegociações. Uma minoria usa call centers.

A maior parte das dívidas que leva os devedores ao Serasa tem valores baixos– em média 1.215 reais e normalmente não é refinanciada. Os devedores costumam saldá-las de uma só vez com um grande desconto.

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Um grande volume de créditos deve vir a mercado nos próximos meses num leilão da Emgea, uma empresa não financeira controlada pela Caixa Econômica Federal que gerencia cerca de 60 bilhões de reais em créditos para indivíduos e empresas, normalmente com alguma garantia real.

A maior parte dos créditos que irá a leilão é antiga e alguns têm mais de 20 anos. Esses ativos não estão relacionados ao programa da Caixa anunciado por Bolsonaro durante a campanha.

Samuel Oliveira, fundador da butique Northstone, afirma que grandes investidores internacionais em ativos estressados estão olhando para o leilão da Emgea e aumentando aquisições de portfólios no Brasil.

Ao contrário de ciclos anteriores de alta de juros, as famílias brasileiras hoje têm um nível maior de endividamento — em agosto, 80% das famílias tinham dívidas. O volume também cresceu com o incentivo de juros baixos nos últimos anos. O crédito imobiliário, que representava apenas 4% do PIB em 2010, atingiu 10% no ano passado.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
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