Lula e Trump: O que o agronegócio pode esperar do encontro na Malásia?
No início dessa semana esse colunista participou como mediador de um painel em um fórum, em Ribeirão Preto, que reuniu algumas das principais lideranças do agronegócio para discussão do já afamado “Tarifaço de Trump” e os seus impactos no agronegócio brasileiro.
Com a chegada da data do encontro entre Lula e Trump, marcado para este domingo, dia 26 de outubro de 2025, em Kuala Lumpur, na Malásia, a ideia dessa coluna é trazer para você leitor, um pequeno resumo das principais discussões que se travarão na reunião em questão e como elas devem se desenrolar em relação ao agronegócio brasileiro.
A “química chinesa” e o tarifaço
Na visão dos líderes do setor que participaram conosco do citado painel – muitos deles, inclusive – participando diretamente das negociações em torno do tema com autoridades norte-americanas e brasileiras, o “fio condutor” da negociação é, nas palavras de ambos os presidentes, uma certa “química” que Lula e Donald Trump disseram sentir, desde o encontro dos dois na assembleia geral da ONU em Nova Iorque, havida no mês passado em Nova Iorque.
A brincadeira entre os presentes no painel é que a “química” derivava de um novo elemento da tabela periódica, um certo “elemento chinês” recentemente descoberto e pouco desconhecido que tem feito os EUA sentarem-se à mesa para as discussões.
Soja, carne, café e outros produtos envolvidos no tarifaço
É que desde o início dos tarifaços de Donald Trump a China parou de adquirir soja de produtores norte-americanos, o que se intensificou com as sobretaxas mais recentes aplicadas às importações de produtos chineses. Isso tem feito o país se abastecer da leguminosa através de compras maciças da produção brasileira para o exterior, o que tem descontentado os produtores nos EUA.
Já no café, a preocupação do setor, como bem destacado pelo representante do setor cafeeiro no fórum, é o “gosto” do “cafezinho” tomado pelos norte-americanos.
É que o mix da bebida feito nos EUA com grãos comprados do Brasil ficou mais caro com o tarifaço. Nesse contexto, a demora na resolução da questão, não interessa a torrefadores- norte-americanos que vendem esses mixes, nem tampouco ao exportares e produtores brasileiros, já que se o consumidor alterar o gosto para novos cafés, será difícil o reposicionamento do produto, o que justificaria a urgência da solução neste particular com pressões de todos os lados sobre o governo dos EUA.
Por outro lado, as investigações em curso abertas pelas autoridades norte-americanas por conta do tarifaço, na visão dos painelistas, poderiam vir a livrar não só o café, mas também boa parte desses produtos agropecuários adquiridos de produtores brasileiros do tarifaço, já que nessas discussões, a partir do encontro de Kuala Lumpur, tendem a se eliminar parte desses custos adicionais com concessões de parte a parte.
A carne, por exemplo, que os norte-americanos já estão deixando de consumir por falta de acesso ao produto brasileiro causado pelo tarifaço, estaria no centro dessas discussões ultimamente, como aliás, nos deixa antever a grande imprensa com matérias nessa semana dando conta de declarações do próprio presidente norte-americano
“É a tal da economia estúpido!”
A famosa frase de James Carville, nunca esteve tão atual para explicarmos as razões de tal “química chinesa” e, portanto, dos diálogos entre EUA, Brasil e China.
É que mais do que os contornos jurídicos da questão, com potenciais processos na Suprema Corte dos EUA e até mesmo as tais investigações das autoridades norte-americanas sobre a produção brasileira de produtos agropecuários, com base na Seção 301 do Trade Act norte-americano de 1974, o tarifaço, segundo os últimos números divulgados recentemente pelo próprio governo dos EUA, tem gerado inflação, recessão, desemprego e não tem contribuído para reduzir o déficit fiscal nos EUA.
Ou seja, nos parece que esta política tem sido ineficaz para a finalidade a que o governo norte-americano tem se referido à medida aplicada às pressas.
Assim, na linha do que foi discutido no painel, podemos concluir que a política, a economia e as relações internacionais devem pautar a solução, apesar da importância dos contornos e consequências jurídicas, como sempre, na avaliação das questões daí derivadas e dos desdobramentos possíveis.
Esperamos que a solução não tarde, e que mais algum consenso surja do encontro em Kuala Lumpur já que, como a unanimidade dos integrantes do painel sustentou no evento dos líderes do agronegócio, o tarifaço vai passar, mas o agronegócio brasileiro continuará a produzir com qualidade e abundância, alimentos, fibras e energia limpa para suprir mais de 1 bilhão de indivíduos em todo o mundo visando respaldar não só a segurança alimentar, mas a solução das questões climática do globo terrestre para o futuro da humanidade.