Eleições

Lula e Xi: Semelhança entre petista e presidente chinês não é mera coincidência

02 out 2022, 15:00 - atualizado em 01 out 2022, 11:05
Ex-presidente Lula e atual líder chinês tentam inédito terceiro mandato em outubro (Divulgação: Instituto Lula)

O que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping têm em comum? Assim como no Brasil, a China também decidirá seu próximo líder neste mês de outubro durante o 20º Congresso do Partido Comunista. E, assim como o ex-sindicalista, o camarada asiático tenta um inédito terceiro mandato.

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Enquanto o petista governou o país entre 2003 e 2010, tendo sido reeleito para um segundo mandato, o atual presidente assumiu o cargo em Pequim em 2013. Inicialmente, Xi poderia ficar à frente da segunda maior economia do mundo por no máximo dez anos, assim como seus antecessores Hu Jintao e Jiang Zemin.   

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A mudança veio em 2018, quando a Constituição chinesa retirou o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos cada para cargos-chave no país. Ou seja, Xi pode continuar como líder depois de dez anos por um período indeterminado. Até agora, apenas Mao Tsé Tung e Deng Xiaoping comandaram a China por mais tempo. 

“Com os preparativos para o Congresso avançando dentro do esperado, o presidente chinês provavelmente consolidará seu terceiro mandato, deixando pouco espaço para surpresas do ponto de vista político”, avalia o estrategista de mercados emergentes do BCA Research, Arthur Budaghyan.

Democracia chinesa 

Mas as semelhanças entre Lula e Xi na sucessão presidencial param por aqui. Afinal, o processo eleitoral na China é bem diferente do Brasil. Aqui, o sistema democrático é baseado na perspectiva liberal de “cada pessoa, um voto”, com a disputa entre os candidatos sendo definida em até dois turnos.

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Nas duas vezes em que foi eleito, Lula precisou de duas rodadas. Desta vez, porém, as principais pesquisas eleitorais sugerem a chance de vitória em primeiro turno – êxito obtido apenas pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso nas duas vezes em que disputou para a Presidência, em 1994 e em 1998. 

Já na China a eleição é indireta. O único estágio em que a eleição por lá se dá pelo povo é em nível distrital. Nas votações posteriores, cada representante elege seus superiores. 

Além disso, apesar de ser um Estado liderado por um único Partido, o Comunista chinês (PCCh), o sistema político no país possui outros oito partidos, abrindo espaço para dissidência e fissuras. Afinal, é a democracia chinesa. 

Levantamento feito pelo Instituto MacroPolo mostra que Xi deve garantir seu terceiro mandato no cargo com uma maioria decisiva. O líder chinês deve obter o apoio de cerca de 90% do chamado Comitê Permanente do Politburo. 

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“Xi encerrou uma década de reorganização política, enfraquecendo oponentes e garantindo uma super maioria nos altos escalões do PCCh”, comenta o diretor do instituto, Damien Ma, em relatório. Para ele, há poucos sinais de uma oposição significativa na gestão da China. 

Xi III

Ou seja, apesar das semelhanças, o desfecho na disputa presidencial na China é mais previsível. Daí então que a dúvida é: o que esperar para o terceiro mandato de Xi?

Afinal, os desafios econômicos são enormes. Por isso, haverá fortes incentivos para que o presidente chinês, após receber um inédito terceiro mandato, mantenha estímulos fiscais e monetários para melhorar o crescimento econômico. 

Porém, as perspectivas são pouco animadoras. “A margem de manobra é muito mais limitada do que nos mandatos anteriores”, observa a economista-chefe do Natixis, Alicia Garcia Herrero.

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Segundo ela, o governo chinês tem menor capacidade de receita para investir em infraestrutura. Além disso, o Banco Central chinês (PBoC) dificilmente irá derrubar as taxas de juros, em meio à desvalorização recorde do yuan e o crescente diferencial de rendimento entre a China e os EUA. 

Isso sem falar nas incertezas relacionadas ao setor imobiliário. Com isso, os líderes chineses devem continuar respondendo a esses ventos contrários lançando mais medidas de apoio antes do fim do ano. “Mas há dúvidas se será suficiente para restaurar a confiança e reanimar a economia deprimida”, comenta o economista sênior da Capital Economics, Julian Evans-Pritchard. 

Como resultado, é provável que o ímpeto econômico permaneça fraco em 2023. “Em suma, as perspectivas de crescimento para a China sob o novo mandato do presidente Xi devem ser decepcionantes e possivelmente não vão passar de 3% em 2023 e além”, conclui a economista do banco francês.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
olivia.bulla@moneytimes.com.br
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.