Lula promete a “COP da Verdade” enquanto ONU adverte sobre emissões perigosamente altas
Com um relatório da ONU alertando que as emissões mundiais de carbono continuam muito altas para deter o aquecimento global, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que a cúpula da ONU sobre mudanças climáticas deste mês em Belém seria uma “COP da Verdade” e ofereceria soluções reais.
Apesar de três décadas de negociações globais, os países não conseguirão evitar que o aquecimento ultrapasse 1,5 grau Celsius — o principal objetivo do Acordo de Paris, negociado há uma década. Em vez disso, o mundo está a caminho de um aquecimento extremo de 2,3°C a 2,5°C, informou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) nesta terça-feira.
A previsão pressupõe que os países cumprirão as promessas que fizeram até agora para reduzir as emissões. Se eles não cumprirem, o mundo ficará ainda mais quente.
“Isso será difícil de reverter”, disse o Pnuma sobre a superação de 1,5ºC, observando que os países precisariam se mover ainda mais rápido e fazer reduções ainda maiores nas emissões de gases de efeito estufa para evitar uma mudança climática descontrolada.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em Belém para a COP30 deste mês, disse que fracassos no cumprimento de acordos climáticos anteriores — incluindo o Protocolo de Kyoto e o financiamento climático prometido — eram desmoralizante para as pessoas em todo o mundo.
Falando com os repórteres de veículos internacionais em uma base naval em Belém, Lula disse que os países devem cumprir as promessas do passado, em vez de fazer novas promessas.
“Nós não queremos que a COP continue sendo uma feira de produtos ideológicos. Nós queremos que as coisas que nós decidimos possam ser implementadas”, disse Lula, observando que alguns países “não estão cumprindo” o Acordo de Paris, que os obriga a limitar o aquecimento a “bem abaixo” de 2°C acima dos níveis pré-industriais, trabalhando por um limite de 1,5°C.
O relatório de emissões da ONU desta terça-feira observou que a atual trajetória de aquecimento era apenas 0,3°C menor do que há um ano, antes da COP29 em Baku, no Azerbaijão, o que significa que os novos planos anunciados este ano fizeram pouco para mudar a situação.
O Brasil proporá a criação de um novo conselho ambiental global ligado à ONU, com poderes para viajar e monitorar o progresso das promessas climáticas em todo o mundo.
Reuniões e recursos
A COP30 contará com a participação de dezenas de grupos indígenas durante as negociações. Ainda assim, a capacidade limitada e os altos custos criaram dores de cabeça logísticas.
“A gente decidiu fazer aqui porque a gente não queria ficar confortável, nós queríamos desafios. E nós queríamos que o mundo viesse conhecer a Amazônia”, disse Lula.
Muitos executivos de empresas, banqueiros e investidores, no entanto, decidiram ir para São Paulo, onde esperam ajudar a acelerar a ação climática na economia real, destacando o que está funcionando.
Grupos do setor de energia limpa disseram em um relatório também nesta terça-feira que mais de 1.000 projetos do campo estão em desenvolvimento em todo o mundo. Mais de 70 deles, no valor total de US$140 bilhões, estão prontos para serem lançados nos próximos meses, de acordo com o Industrial Transition Accelerator e a Mission Possible Partnership.
Perto do centro financeiro de São Paulo, especialistas em negócios participaram de painéis de discussão, reuniões e mesas redondas que abordaram tópicos desde mercados de carbono até as melhores práticas de precificação do carbono contido em uma plantação de árvores.
A diretora de sustentabilidade da Hitachi Energy, Alicia Argüello, disse que participou de uma mesa redonda na segunda-feira sobre redes de eletricidade verde. “Recebi muitos comentários”, disse.
Do outro lado da cidade, em um enorme centro de convenções, outro evento de três dias contou com mais de 150 palestrantes.
Alguns ficaram desapontados por estarem tão longe das discussões da COP30 em Belém, o que significa que não poderão se relacionar com as autoridades dos países.
“Essas pessoas, incluindo nós mesmos, tendem a ser implementadores”, disse o presidente-executivo da Climate Fund Managers, Andrew Johnstone.
O fato de não estarem em Belém “afeta as discussões e colaborações periféricas que podem resultar da reunião de ideias e pessoas. Isso é negativo. ”
O mundo fez algum progresso em 30 anos de negociações climáticas. Há uma década, quando o Acordo de Paris foi assinado, o planeta estava a caminho de um aumento de temperatura de cerca de 4°C.
Mas em 2024, segundo o Pnuma, as emissões globais de carbono aumentaram em mais 2,3%, chegando a 57,7 gigatoneladas de CO2 equivalente.