Internacional

Maior ameaça para presidente de Uganda é um pop star de 37 anos

03 set 2019, 15:26 - atualizado em 03 set 2019, 15:26
Yoweri Museveni, presidente da Uganda (Imagem: Daniel Acker/Bloomberg)

Sua vida foi ameaçada e ele foi acusado de traição, mas um pop star de Uganda que virou político tem a missão de fazer o que ninguém mais conseguiu em mais de 30 anos: derrotar o presidente.

Robert Kyagulanyi, conhecido pelo nome artístico Bobi Wine, emergiu como a maior ameaça ao presidente Yoweri Museveni por ser uma figura extremamente popular entre a maioria da população: os jovens, um terço dos quais estão desempregados ou não têm acesso à educação. O fato de ter partidários nos dois lados representa um enigma para Museveni, que teve poucos problemas no passado para derrotar os tradicionais partidos da oposição.

“Sabemos que o poder do povo é mais forte do que as pessoas no poder”, disse Kyagulanyi, 37 anos, em entrevista em sua casa na capital Kampala. “Não estamos nisso por formalidade. Estamos nisso para mudar nosso país.”

Depois de crescer nas favelas de Kampala, Kyagulanyi entrou na principal universidade principal do país, Makerere, e obteve um diploma de bacharel em artes. Kyagulanyi ganhou destaque com um estilo próprio de “presidente do gueto”, cantando sobre a situação das pessoas comuns e, depois, ganhou um assento no parlamento.

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Repressão da oposição

Sentado em uma poltrona marrom com as palavras “People Power” estampadas no encosto, Kyagulanyi fica sério quando perguntado por que acha que pode derrotar Museveni, a quem ele compara ao ex-ditador de Uganda Idi Amin e ao ex-líder líbio Moammar Al Qaddafi.

“O presidente Idi Amin se declarou presidente vitalício, ele não morreu presidente”, disse. “Kadafi era aparentemente invencível. Ele não morreu presidente.”

Museveni assumiu o poder em 1986, após anos de revolta política, incluindo a ditadura sangrenta de Amin, e restaurou a política multipartidária há quase 15 anos. Mas, nos últimos anos, grupos de defesa como a Anistia Internacional dizem que Museveni foi responsável pela deterioração da situação dos direitos humanos do país da África Oriental. O líder da oposição Kizza Besigye foi preso várias vezes e espancado por autoridades nas vésperas das eleições nas últimas duas décadas.

À medida que as eleições gerais de Uganda em 2021 se aproximam, há sinais de que Museveni pode estar se preparando para intensificar a batalha contra seus oponentes. O governo aumentou o orçamento de segurança em 75% este ano, para quase US$ 1 bilhão, para ser gasto em equipamentos e treinamento.

’Segurança para todos’

O ministro de Estado para Assuntos Internos, Obiga Mario Kania, disse que não é verdade que o governo persiga seus oponentes.

“A Uganda protege todos seus cidadãos”, disse.

Autoridades prenderam Kyagulanyi várias vezes no último ano. Ele foi acusado de traição, depois que seus seguidores jogaram pedras no comboio de Museveni, incitando a violência. No ano passado, Kyagulanyi recebeu tratamento nos EUA por lesões que, segundo ele, foram causadas na prisão.

“O presidente Museveni e seu regime não veem mais sua força em convencer as pessoas; eles veem sua força na coação”, disse Kyagulanyi, em 13 de agosto. “Hoje faz um ano desde o atentado contra minha vida. Desde então, muitas pessoas foram presas. Outras desapareceram. Muitas foram mortas.”

Tradicionalmente um país dependente da agricultura, Uganda está prestes a se tornar um produtor de petróleo de campos controlados por empresas como Tullow Oil, Total e China Cnooc. O início da produção foi repetidamente adiado, e uma decisão final de investimento esperada em 2018 ainda não foi tomada devido às diferentes visões sobre tributação entre o governo e as empresas.

bloomberg@moneytimes.com.br