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‘Maior inimigo do Brasil hoje é o Banco Central’, diz gestor

23 mar 2023, 14:30 - atualizado em 23 mar 2023, 14:30
Roberto Campos Neto
BC politizado, disse, “mantem-se rígido a uma ideologia controversa, arriscando resultados catastróficos para o país”.(Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino

A manutenção da Selic, a taxa de juros básica, a 13,75% ao ano contamina toda a curva de juros, que sobe mais de 1% em prazos mais longos nesta quinta-feira (23), levando o dólar R$ 5,28 na máxima do dia.

O modelo consensual aponta para uma queda da cotação da moeda local quando há elevação dos juros, com a entrada de dólares impulsionada pelo interesse dos estrangeiros no diferencial de juros entre as economias.

A dinâmica de hoje, primeiro pregão após a decisão do Banco Central, é um sintoma de que a política monetária está descalibrada, avaliou o sócio-fundador da Versa Asset, Luiz Fernando Alves. “Está nos empurrando para a dominância fiscal”.

“Outro sintoma da disfuncionalidade da política monetária é a desancoragem das expectativas de inflação apesar de um BC autônomo, muito avesso à risco, com os juros reais mais altos do mundo”, afirmou em um tuite.

Segundo Alves, se o Banco Central vai combater o fiscal “sem dó nem trégua com os juros”, a desancoragem só pode ter razões endógenas, um problema da própria política monetária ou, pontuou, nesse momento a expectativa de inflação tem conteúdo informacional baixo, menor que dos momentos “regulares”, e não deveria guiar a política monetária, segundo ele.

“Alternativa é admitir que juros não controlam a inflação”, afirmou o gestor, que avaliou que o “grande problema do Brasil” é um establishment econômico, refletido no BC, que não admite outros caminhos além do Estado mínimo, arcabouço teórico controverso e, principalmente, que não respeita, de acordo com Alves, a construção histórica “nem a vontade atual expressa no voto”.

“Se os economistas admitirem que os juros de longo prazo não são determinados pelo mercado, mas pelo BC, a culpa dos juros altos lá na frente deixa de ser do arcabouço fiscal e passa a ser compartilhada pelo BC, como de fato é. Parafraseando o Marcos Lisboa, é tudo dívida pública”, afirmou.

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Taxa de juros, banco central e ideologia

Alves defende que, ao invés de admitir que a política monetária extrapolou os juros ótimo para o momento, e esperar os resultados do arcabouço econômico que será implementado, o BC politizado, disse, “mantem-se rígido a uma ideologia controversa, arriscando resultados catastróficos para o país”.

“Não há qualquer mecanismo de análise de eficiência ou punição para um BC incompetente como esse. Descumprir a meta de inflação, razão expressa na lei para julgar o presidente, jamais foi usada com esse fim; e encurtar o mandato do BC causaria choque adverso na economia segundo o establishment”.

Para ele, na prática, o Banco Central tem autonomia para descumprir suas metas e “ser incompetente sem jamais ser incomodado”. “O BC virou o poder supremo do país e, talvez por isso, impõe dessa forma sua ideologia, seja tão politizado”, afirmou. “O maior inimigo do Brasil hoje é o BC”.

Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
kaype.abreu@moneytimes.com.br
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.