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Mansueto, do BTG, diz que Brasil não pode reclamar do pós-pandemia, mas ressalta ‘enorme problema fiscal’

06 maio 2025, 15:16 - atualizado em 06 maio 2025, 15:16
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Para Mansueto, ajuste fiscal tem de focar em gastos; ele enxerga a taxa Selic em 12% no final do Governo Lula. (Foto: Wenderson Araujo/CNA)

O economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse que o Brasil não pode reclamar da economia durante o pós-pandemia.

A fala ocorreu no painel “Cenários e Perspectivas para a Economia Brasileira na Nova Geopolítica” do Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical, evento realizado pela CNA/Senar, em parceria com o Estadão e o Broadcast.

“Nós tivemos uma surpresa no que diz respeito ao financiamento. Entre 2017 e 2019, o financiamento médio do Brasil foi de apenas 1,4%, com desemprego acima de 10%. Isso não é normal, é um nível muito baixo. Na pandemia, tivemos uma queda no PIB e no pós-pandemia, vimos crescimentos muito fortes, com 4,2% em 2021, 3% em 2022, 3,2% em 2023, e 3,4% em 2024, o que deixou o nível de desemprego em 5,3%, o menor da série histórica do IBGE”, disse.

Outra questão positiva, segundo ele, fica por conta do balanço comercial, com recordes sucessivos, com US$ 61 bilhões em 2021, US$ 62 bilhões em 2022, US$ 99 bilhões em 2023, e US$ 75 bilhões no ano passado. Em 2025, espera-se um saldo entre US$ 70 e 80 bilhões.

“Os dois setores que estão puxando o crescimento do Brasil são o agro e o petróleo. Nos tornamos um exportador líquido de petróleo, uma perspectiva para que a produção cresça todos anos até 2030. E o agro, há mais de 3 décadas, têm um crescimento constante em produtividade, mais de 3% ao ano, um setor com forte uso de tecnologia e capacitação técnica”.

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O enorme problema fiscal do Brasil

No entanto, a parte ruim do Brasil, segundo Mansueto, fica por conta do que ele chama de “enorme problema fiscal”.

“Temos uma dívida pública que cresce de forma insustentável, e, em decorrência disso, temos uma inflação muito acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Em decorrência dessa alta inflação, não vemos a inflação corrigindo a meta nos próximos 4 ou 5 anos. Vamos ter taxas sociais bastante elevadas”.

O economista-chefe do BTG Pactual diz que em um “país normal”, quando há um problema de inflação e o Banco Central aumenta os juros, isso, normalmente, não afeta a taxa de juros longa.

“O mercado pensa o seguinte: o Banco Central vai aumentar os juros, a inflação vai cair, e lá na frente, volta tudo a ser normal. Não foi isso que aconteceu no Brasil. O Banco Central começou a aumentar a taxa de juros em setembro do ano passado. Mas a taxa de juros de 5, 10, 15 e 20 anos começou a crescer, porque o mercado olha para uma situação insustentável das contas públicas no Brasil”, afirma.

Mansueto destaca que, em 2023 e 2024, o crescimento real do gasto público federal no Brasil foi de 12% em dois anos, maior do que o crescimento real do gasto público de 2014 a 2022.

“O crescimento real do gasto público em dois anos foi maior do que o crescimento real do gasto público nos oito anos anteriores, com a pandemia no meio”, diz.

Além disso, o economista salienta que a dívida pública brasileira subiu de 71,7% do PIB em 2022 para 84%, um cenário anormal em meio ao menor desemprego e crescimento da economia, que é muito ruim para investimentos.

A necessidade de ajuste

Para ele, o ajuste fiscal precisa focar no controle de gastos, já que a carga tributária brasileira é de 33% do PIB, uma das mais altas da América Latina. Se forem adotadas medidas efetivas de controle, será possível alcançar ganhos econômicos significativos.

“Em maio de 2016, no governo Temer, tínhamos uma inflação de 9% e uma Selic em 14,25%, assim como hoje. Foi adotado um teto de gastos e a taxa termina o governo Temer em 6,5%, e depois da aprovação da Previdência de 2019, a taxa de juros vai para 4,5% no final de 2019. O juro real também caiu de 7,5% para 4% entre 2016 e 2018, mesmo com déficits ainda altos, devido à confiança fiscal do mercado”.

Quanto ao governo Lula, Mansueto explica que houve um déficit primário no primeiro ano, com um buraco fiscal de R$ 244 bilhões. No ano passado, esse buraco fiscal diminuiu para R$ 44 bilhões, mas a expectativa de inflação aumentou com a perda de credibilidade na agenda econômica.

“A gente está num país, com o déficit nominal de 8,9% do PIB, que nos coloca entre os quatro piores países do mundo, perto da Bolívia e da China. Só que a China tem a população muito alta e os juros muito baixos, e o Brasil não tem a população alta para financiar uma renda de crescimento rápido”.

Ele disse acreditar que a Selic fique em 12% no fim do Governo Lula, mas que vamos ver taxas elevadas até lá.

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.