Artigo

Marcelo Cabral: Investimentos para gerar renda em moeda forte

04 fev 2022, 14:41 - atualizado em 04 fev 2022, 14:41
Dólar
Perfil: Bonds são indicados para investidores de alta renda e perfil conservador, que buscam rentabilidade em dólar (Imagem: Pixabay/Engin_Akyurt)

O cenário internacional continua acumulando incertezas. Em vários países da Europa, as restrições associadas à pandemia aumentaram, interrompendo a normalização da atividade econômica. Nos Estados Unidos, a inflação em alta deve provocar um iminente aumento das taxas de juros por parte do Federal Reserve. Na China, as dificuldades econômicas se aprofundam. No Brasil, a perspectiva é de baixo crescimento com instabilidade característica de um ano eleitoral.

Diante de riscos crescentes e pouca visibilidade, uma alternativa atrativa para investidores que procuram renda recorrente, risco moderado, e proteção em moeda forte são bonds internacionais em dólar, instrumentos de renda fixa similares aos debêntures corporativos negociados no Brasil. Bonds são indicados para investidores de alta renda com perfil conservador, que já formaram patrimônio e procuram rentabilidade recorrente em dólar.

Apesar de desconhecidos pela maioria dos brasileiros, o mercado internacional de bonds é enorme, superando em tamanho e em liquidez o mercado acionário. Ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Europa e Japão, bonds são a alternativa de investimento preferencial para pessoas que desejam viver de renda. Com perfil de risco moderado, os bonds não têm o mesmo potencial de valorização que as ações, mas, em compensação, oferecem maior segurança e geram rendimentos recorrentes e previsíveis.

No exterior, uma estratégia consagrada para gestão de patrimônio financeiro é a famosa carteira 60/40, na qual 60% dos recursos são aplicados em ações e 40% em bonds. Esta proporção equilibra o potencial de valorização obtido por meio das ações com a geração de renda dos bonds. À medida que o investidor se aproxima da aposentadoria, a parcela aplicada em ações diminui e a parcela aplicada em bonds aumenta. Assim, ao longo do tempo, o risco da carteira diminui gradualmente e a renda gerada é cada vez maior.

Vantagens em relação aos imóveis

Muitos investidores no Brasil adquirem imóveis para gerar renda recorrente por meio de receitas de aluguel. No entanto, de modo geral, os bonds são um instrumento mais eficiente. Investimentos imobiliários podem — e devem — fazer parte de uma carteira diversificada, porém a sensação de “solidez” de um ativo tangível pode ser enganosa.

Há uma série de vantagens dos bonds em relação aos imóveis. Primeiro, o investidor em bonds não incorre custos de manutenção, reparos, taxas, impostos, condomínio, administradora de imóvel, etc. Além disso, não existe preocupação com inquilinos ou possíveis períodos de vacância, sem a renda do aluguel. Outra vantagem dos bonds é a possibilidade de aplicar valores baixos e investir de forma gradual.

Bonds são instrumentos líquidos que podem ser transacionados no mercado a qualquer momento, a um custo baixíssimo em comparação às despesas de comprar ou vender um imóvel. É possível montar uma carteira diversificada em vários setores e países, e reinvestir os rendimentos recebidos na própria carteira, aumentando gradualmente a renda futura.

Principais riscos

O investimento em bonds apresenta três riscos principais: risco de crédito, risco de oscilação de preço, e risco inflacionário. Bonds são títulos de dívida que representam uma promessa de pagamentos futuros. Se o emissor enfrentar dificuldades e não puder honrar suas obrigações (ou seja, se o emissor entrar em default), o investidor não receberá os valores esperados. Para mitigar esse risco é preciso selecionar emissores com boa solidez financeira, mas ele sempre estará presente.

O outro risco que deve ser levado em consideração é o risco de oscilação do preço do bond no mercado. O preço do bond cai quando a taxa de juros sobe e quando os fundamentos econômico-financeiros do emissor pioram. Se o investidor decidir vender neste momento, haverá uma perda. Este risco pode ser evitado se o investidor mantiver a aplicação até o vencimento do bond. No ambiente atual do mercado internacional, o aumento das taxas de juros é bastante provável. Sendo assim, mesmo com liquidez diária, aplicações em bonds devem ser planejadas para serem mantidas até o vencimento dos títulos.

Finalmente, deve-se ter em conta que a renda semestral e o montante recebido no vencimento do bond são valores fixos que podem ser corridos pela inflação. No caso de bonds internacionais em dólar, a correlação da taxa de câmbio com a inflação em Reais naturalmente protege o investidor brasileiro.

Repertório mais sofisticado

Historicamente, a imensa maioria dos investidores brasileiros estava restrita exclusivamente ao mercado local. Nos últimos anos, iniciou-se um movimento de internacionalização das carteiras. O processo começou com investimentos em renda variável (ações), mas está se ampliado para o mercado de bonds. À medida que o acesso ao mercado externo se torna mais fácil e que o repertório de alternativas do investidor vai se tornando mais sofisticado, a demanda por bonds deve aumentar consideravelmente.

*Marcelo Cabral é gestor de investimentos internacionais e fundador da Stratton Capital

Gestor de investimentos internacionais e fundador da Stratton Capital
Marcelo Cabral tem 32 anos de experiência no mercado financeiro internacional. Foi presidente do Bradesco Europa, em Londres e Luxemburgo, da Bradesco Securities, em Nova Iorque, e vice-presidente do Morgan Stanley, do Credit Suisse e do J. P. Morgan também em Nova Iorque. Pós-graduado em finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vive e trabalha no exterior desde 1989. Gaúcho com dupla cidadania, mora em Vermont (EUA), de onde comanda a Stratton Capital, uma gestora de investimentos vinculada a Charles Schwab, a segunda maior corretora do mundo. É licenciado pela Financial Industry Regulatory Authority, agência regulatória dos EUA.
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Marcelo Cabral tem 32 anos de experiência no mercado financeiro internacional. Foi presidente do Bradesco Europa, em Londres e Luxemburgo, da Bradesco Securities, em Nova Iorque, e vice-presidente do Morgan Stanley, do Credit Suisse e do J. P. Morgan também em Nova Iorque. Pós-graduado em finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vive e trabalha no exterior desde 1989. Gaúcho com dupla cidadania, mora em Vermont (EUA), de onde comanda a Stratton Capital, uma gestora de investimentos vinculada a Charles Schwab, a segunda maior corretora do mundo. É licenciado pela Financial Industry Regulatory Authority, agência regulatória dos EUA.
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