Opinião

Marink Martins: Cuidado com o vento sul coreano!

28 jun 2019, 11:57 - atualizado em 28 jun 2019, 13:00
“Suas finanças podem ser abaladas por um comportamento peculiar que vem ocorrendo no mercado de capitais da Coreia do Sul” (Imagem: Pixabay)

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Grupo do 1%

Você provavelmente já ouviu alguém dizer que, hoje em dia, o mundo todo cabe no seu bolso. Recentemente, ouvi falar de uma pessoa cujo hobby, em suas horas vagas de “enrolation” no mundo corporativo, envolve utilizar o aplicativo “Google Earth” para passear pelas ruas de Seattle nos Estados Unidos. Essa pessoa nunca esteve lá, mas desenvolveu uma paixão platônica pela cidade e a “conhece” como se residisse por lá há anos. Vai entender!

Faço esta introdução para argumentar que as suas finanças podem ser abaladas por um comportamento peculiar que vem ocorrendo no mercado de capitais da Coreia do Sul.

Em um mundo de juros baixíssimos, a indústria financeira gera produtos sofisticados que, uma vez empacotados pela área de marketing dos bancos e corretoras, chegam ao cliente como um belo produto de capital garantido. Para convencer o cliente diz-se que o produto só tem “upside”; além de oferecer um retorno potencial acima da média, ele oferece o glamour de proporcionar uma diversificação global.

Eu naturalmente estou falando dos COEs (Certificados de Operações Estruturadas) que, em uma versão conhecida como “AUTOCALLABLE”, me faz pensar em uma espécie de título de capitalização vendido para aqueles que gostam de falar que atuam no mercado de ações.

Não quero aqui falar mal do produto. Na verdade, eu acho os COEs fascinantes.

A minha intenção é falar sobre o fato de que há, neste momento, uma explosão na emissão destes produtos na Coreia do Sul. São produtos que, em geral, prometem um retorno fixo e atrativo ao cliente, caso algumas condições sejam mantidas. Tal produto na Coreia do Sul são notas estruturadas vinculadas ao comportamento dos índices de bolsa da Europa (EuroStock50) e da bolsa dos EUA (S&P 500), dentre outros.

Quando está tudo calmo, todo mundo ganha e ninguém reclama.

Agora, quando os mercados ficam nervosos e começam a cair, os bancos emissores (em grande parte os bancos franceses) precisam ir para o mercado de opções e fazer hedge. Eles acabam comprando volatilidade e, seguindo o conceito do “RABO que balança o CÃO”, provocam um efeito de reflexividade que culmina em uma volatilidade cada vez maior nos mercados.

Chamo atenção deste evento pois só tomei conhecimento agora que ele muito contribuiu para a derrocada no preço das ações vista no fim do ano de 2015. Os sul coreanos estavam “lotados” de autocallables associados ao índice de ações HSCEI que mede o comportamento das ações chinesas negociadas em Hong Kong.

E hoje, os sul coreanos estão de volta na compra dos mesmos produtos.

Observe que os patamares de emissão de autocallables atingiram um pico preocupante em 2015. Agora tais patamares foram superados! (Imagem: BofA Merrill Global Research)

Embora em muitos casos se trate de uma operação de capital garantido há um risco de crédito nada desprezível.

O estrategista Russell Clark acompanha tudo isso de perto e afirma que o apetite sul coreano pelo produto resultará em breve no que ele chama de marco zero para a próxima catástrofe associada a um iminente salto na volatilidade.

Tudo isso pode te parecer distante demais. Mas neste mundo cada vez mais interconectado, somos todos afetados quando a liquidez global é impactada.

A verdade é que os alquimistas estão chegando e a borboleta já bateu as asas na Coreia do Sul. Vou ficar de olho na amendoeira em frente a minha casa. Se começar a balançar muito espero ter tempo de avisar a todos. Fique ligado.

Tenha um ótimo fim de semana!

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