Opinião

Marink Martins: Raio X do endividamento do consumidor americano

24 mar 2019, 11:54 - atualizado em 24 mar 2019, 22:23

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Não é raro ouvirmos notícias assustadoras com relação ao endividamento do consumidor americano. Entre as mais recentes, dados apontam que há mais de 7 milhões de norte-americanos atrasados em mais de 90 dias em seus pagamentos atrelados a financiamento de automóveis. Os dados referentes a endividamentos através de cartões de crédito e crédito estudantil não são menos assustadores.

Dito isso, creio que a chance de termos uma crise nos moldes da ocorrida em 2008 seja pequena.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Afirmo isso pelo fato de que grande parte do endividamento das famílias americanas está associado a endividamento imobiliário. E nesta frente, há indícios de que os americanos não estão tão estressados assim — embora o poder de compra dos mais jovens (“affordability”) seja relativamente menor e gere angústia entre os millenials.

No gráfico abaixo, podemos acompanhar a composição do endividamento das famílias em maiores detalhes.

De baixo para cima temos: em amarelo, as hipotecas imobiliárias; em roxo, cheque especial; em verde, empréstimos para compra de veículos; em azul, empréstimo com cartões de crédito; em vermelho, volume de crédito estudantil; em cinza, outros.

Observe também que quando olhamos o endividamento total das famílias americanas em comparação ao PIB do país, notamos um expressivo declínio quando comparado com os anos que antecederam a grande crise financeira de 2008. Veja este gráfico:

Em um ranking, o endividamento das famílias americanas, como percentual do PIB de seu país, ficou em 11º, bem atrás dos canadenses, australianos e europeus.

O grande problema que vemos ao analisar a dinâmica financeira das famílias norte-americanas é o que alguns especialistas chamam de latinização da economia americana. O que vemos, de maneira cada vez mais clara, é uma distribuição de renda que se deteriora e que passa a excluir dos benefícios do crescimento econômico um expressiva porção da população – algo entre 30% e 40%.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Já mencionei por aqui que a parcela da população que representa o grupo dos 1% mais ricos nos EUA detém 40% do patrimônio das famílias. Já os 10% mais ricos detém 80% do patrimônio das famílias. Enquanto na Europa a distribuição de renda é mais justa, sabe-se que na América Latina é muito pior.

Observem o gráfico a seguir ilustrando a alocação de recursos de acordo com a renda:

Neste gráfico observamos que o TOP 1% tem 74,2% de seus bens em ativos financeiros – grande parte em ações. Já os próximos 19%, tem 40,5% em ativos financeiros. E por aí vai…

Um outro dado relevante é que, em 2016, existiam aproximadamente 17 milhões de contas abertas em corretoras de valores. O curioso é que o saldo médio em investimento em ações era de US$248.000, sendo que a mediana era de somente US$6.200. Isto é um claro sinal de que os poucos multimilionários distorcem as estatística de uma forma um tanto surpreendente.

O mais curioso e onde, em minha opinião, representa a grande vulnerabilidade da economia norte-americana, é a dependência das famílias ricas quanto ao comportamento do mercado acionário.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Note que dados publicados na semana passada pelo FED indicam que, no último trimestre de 2018, as famílias perderam US$3,8 trilhões em patrimônio – isso partindo de uma base de US$105 trilhões.

O impacto, embora nominalmente não muito menor do que aquele de 2008, não teve a mesma gravidade pois o saldo nas contas 401k (plano de previdência privado que conta com a ajuda do empregador) praticamente dobrou entre 2008 e 2018, de US$49.000 para US$95.600. Observe que existem 55 milhões de americanos inscritos em planos deste tipo.

O patrimônio médio das famílias americanas é de aproximadamente US$840.000, se assumirmos US$105 trilhões em patrimônio e 125 milhões de famílias.  E tem gente que diz que o americano médio está quebrado!!! Puro nonsense!!!

Assim, concluo indicando que, embora a situação econômica das famílias norte-americanas não seja tão ruim como muitos apontam, a sua vulnerabilidade ao comportamento dos mercados é preocupante. Pois, como sabemos, o mercado tende a tratar bem somente aqueles que dele não necessitam!

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

opiniao@moneytimes.com.br