Opinião

Max Bohm: a nova década perdida e a recuperação em “U”

22 maio 2020, 16:50 - atualizado em 25 maio 2020, 11:51
Max Bohm
“É muito difícil traçar com precisão um horizonte de recuperação neste momento”, diz o colunista

Por Max Bohm, da Empiricus Research

Nasci em 1981, mas não vivi na pele a inflação exorbitante desta época. Lembro-me vagamente dos meus pais correrem ao supermercado para comprar fraldas para minha irmã, mais nova do que eu, porque havia tido um abastecimento extraordinário e no dia seguinte os preços seriam maiores.

Os anos 80 não foram fáceis e são conhecidos como a década perdida, período de estagnação econômica, agravado por uma retração agressiva na produção industrial, descontrole inflacionário e profundo abalo na autoestima do povo brasileiro.

Da minha parte, senti a crise econômica nesta época, quando a nota de 1 mil cruzados, com o poeta Machado de Assis nela estampado, já não dava mais para comprar meus pacotinhos de figurinha do álbum da Copa União. Quem lembra?

Depois dos ineficazes Plano Bresser, Plano Verão e Plano Cruzado na década perdida, só encontramos a estabilidade econômica e o controle da inflação anos mais tarde com o Plano Real em 1994.

Parecia que era uma página virada nesta enciclopédia chamada “Economia Brasileira”. No entanto, a vida dá voltas e a economia vive de ciclos.

Chegamos a 2020 e o termo “década perdida” volta a nos assombrar. Se não bastassem várias decepções nos últimos anos com as estimativas de crescimento do PIB brasileiro sendo revisadas constantemente para baixo, estamos tendo que lidar com as consequências de um vírus altamente nocivo à saúde e à economia.

O estrago do coronavírus é grande. Estimativas de economistas apontam para um PIB despencando mais de 5% em 2020. Caso este cenário seja concretizado, estaríamos diante de um fato que ninguém gostaria de testemunhar: a nova década perdida.

Estamos diante do menor número em 120 anos. É como se a nossa economia voltasse ao patamar de 2010/2011. Uma tragédia.

Todo este impacto considerando uma queda de 5% na nossa atividade econômica. Imagine se for maior? Catástrofe que afetaria em cheio a confiança dos brasileiros.

Estudo recente conduzido pela consultoria McKinsey mostra que a confiança do brasileiro já está abalada, o que reforça a tese de que a crise vem afetando severamente a vida de consumidores e empresários.

Pelos dados da pesquisa, 80% dos brasileiros estão pessimistas ou inseguros em relação à economia; 40% está com medo de perder o emprego; 50% já teve sua renda reduzida; e 70% vem cortando gastos em seu orçamento.

Cautela, receio e disciplina financeira. Um cenário normal para este momento adverso.

Mas vamos olhar para frente. Como resgatar a nossa confiança?

O Brasil é um país que depende muito da sua indústria e dos serviços. Isto está intimamente ligado à confiança de consumidores e empresários em aumentar as suas propensões a consumir e a investir.

Porém, isso só vai acontecer com um ambiente político mais calmo, com a retomada das reformas estruturantes e com a névoa da incerteza econômica dissipada. Será que conseguimos colocar o país nos eixos em breve?

Jair Bolsonaro
Isso só vai acontecer com um ambiente político mais calmo (Imagem: Flickr/Marcos Corrêa/PR)

Pode levar um tempo, seis meses, doze meses. É muito difícil traçar com precisão um horizonte de recuperação neste momento.

Mas, como não fujo de desafios, acredito que estamos diante de uma recuperação em formato mais de um U do que um V, onde podemos ver um abatimento no primeiro momento (agora e nos próximos meses) para nos depararmos adiante com uma retomada econômica mais robusta.

E aí sim o círculo virtuoso ganha força: mais emprego, mais consumo e mais investimento.

O importante é não deixar a peteca cair agora e tentarmos voltar à normalidade o mais breve possível com segurança e responsabilidade.

Assim, podemos jogar mais uma década perdida para o passado e começar com o pé direito na próxima década. Confiança porque 2021 já está quase aí.

Grande abraço,

Max

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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