Colunistas

Max Bohm: O paraíso dos rentistas mudou de local – e ele pode pagar mais de 5% ao ano

19 jun 2020, 18:23 - atualizado em 19 jun 2020, 18:23
“O número de contas registradas na B3 teve uma alta de 50%” diz o colunista

Que Brasil diferente meu filho vai enfrentar. Juros de 2% ao ano em breve. Quem imaginaria isso cinco anos atrás?

O que será que ele vai imaginar quando estudar na aula de história do colégio que a taxa básica da nossa economia já foi 45% em 1999? Parece pré-histórico, mas não tem tanto tempo assim.

Passei um bom tempo ouvindo do meu pai que o rendimento do FGTS era pífio e que era muito melhor investir em ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e da Vale (VALE3) — ele fez isso e foi muito feliz nesse movimento.

Você já parou para pensar que os 3% ao ano do FGTS já são superiores à taxa Selic atual (2,25%). Bizarrices dos novos tempos.

E o que falar da poupança? Considerando a regra que limitou o seu rendimento anual a 70% da taxa Selic, estamos diante de uma caderneta que hoje gera de retorno ao poupador a “espetacular” taxa de 1,57% ao ano. Com inflação projetada de 2% para este ano, é melhor deixar o seu dinheiro embaixo da cama.

O pior é que 8 em cada 10 brasileiros continuam investindo na “nova” poupança. Motivos não faltam para essa tomada de decisão equivocada: isenção de Imposto de Renda; desconhecimento sobre melhores investimentos; medo de perder dinheiro; e facilidade e comodidade de aplicação no banco em que é cliente.

Ou seja, temos um grande caminho de educação financeira pela frente. Se reduzirmos essa proporção para 5 poupadores em 10 já avançaríamos bastante.

Considerando o cenário atual, já podemos colocar na lápide desse tipo de investimento a epígrafe “Aqui jaz a renda fixa”?

Só não a sepultamos de vez porque a sua reserva de emergência — aqueles seis meses de despesas mensais para o caso de alguma eventualidade — deve estar sempre em aplicações conservadoras com liquidez diária, como fundos DI com taxa zero ou no Tesouro Selic. É o mais sensato a se fazer.

É claro que há outros investimentos em renda fixa, mas aí já estamos falando em maior risco. E se o momento é de arriscar mais em busca de maior rendimento, prefiro a Bolsa como destino para o meu dinheiro.

O que temos visto hoje é mais pessoas pensando dessa maneira. O número de contas registradas na B3 (B3SA3) teve uma alta de 50% desde dezembro de 2019 até agora, atingindo um total de 2,5 milhões de pessoas cadastradas na Bolsa.

Essa migração tende a aumentar cada vez mais e pode ter uma evolução ainda mais significativa quando os investidores pessoas físicas perceberem o poder dos dividendos na Bolsa.

Sim, é possível ter rendimentos muito atrativos com risco controlado, investindo em ações de empresas que são boas pagadoras de dividendos. É fato que você também fica exposto às oscilações da ação, mas esse “pinga-pinga” anual dos proventos em sua conta pode ser bem interessante pensando em preservação de capital.

Por muito tempo a renda fixa brasileira foi o paraíso dos rentistas. Sem muito esforço, as pessoas conseguiam um rendimento de 1% ao mês líquido. Vejo agora os rentistas se mudando para os “dividend players” em busca de taxas acima de 5% ao ano, o que seria ótimo diante de uma taxa Selic de 2,25%. O paraíso dos rentistas mudou de local.

Não pense que esse movimento é uma particularidade só do Brasil. Diante de uma taxa de juros próxima a zero nos EUA, nos últimos meses, investidores por lá compraram ações em busca de rendimentos com dividendos entre 2% e 2,5% ao ano. Esse, aliás, é o yield médio atual das empresas do S&P 500 (principal índice da Bolsa de Nova York).

Por aqui, se pegarmos a média do dividend yield da Bolsa hoje, temos algo por volta de 3,2% ao ano, nível maior que o da taxa Selic. Todavia, há várias ações neste momento que estão entregando aos acionistas uma renda acima de 5% anual com dividendos.

São empresas maduras que não necessitam de amplos investimentos em suas operações para o seu plano de crescimento. São também grandes geradoras de caixa e, portanto, podem direcionar grande parte dos seus lucros para remunerar seus acionistas via juros sobre capital próprio (JCP) ou dividendos.

Destaco empresas mais defensivas como Copasa (CSMG3) e Telefônica Brasil (VIVT4), que hoje entregam mais de 6,5% ao ano em dividend yield. Com a geração de caixa estável e previsível dessas empresas, eu diria que quem investisse nessas ações não teria grandes sustos de performance e ainda levaria uma ótima renda anual para a casa.

Esses são apenas dois exemplos, mas há várias companhias dos setores de energia elétrica, saneamento básico, telecomunicações e bancos que são consideradas excelentes pagadoras de dividendos há bastante tempo.

Portanto, está na hora de você falar para aquela sua tia que ainda continua na poupança ou no CDB do “bancão” que ela pode, sim, ousar um pouquinho mais e investir em uma “dividend player”.

Aproveite e apresente a ela o grande Luiz Barsi. Ele ficou bilionário investindo apenas nas boas pagadoras de dividendos.

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
max.bohm@moneytimes.com
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.