Internacional

Meninas saem da escola para trabalhar em meio à pandemia na Ásia

21 set 2020, 15:09 - atualizado em 21 set 2020, 15:09
Embora o alcance total do problema ainda não esteja claro porque muitas escolas permanecem fechadas para aulas presenciais, grupos que promovem a educação de meninas, incluindo o Banco Mundial e a agência das Nações Unidas Unicef estão monitorando de perto a situação (Imagem: Pixabay)

Um dos primeiros cortes que muitas famílias pobres consideram durante tempos financeiros difíceis é a educação de suas filhas. Durante a pandemia, com a interrupção do ensino presencial nas escolas, algumas meninas em áreas rurais de países da Ásia estão sendo forçadas a abandonar os estudos.

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Lina, uma aluna do 11º ano no Camboja que sonhava em se formar em contabilidade, está entre elas. Seus pais querem que ela saia da escola e encontre trabalho para ajudar a família a pagar sua dívida.

A história de Lina foi compartilhada com a Bloomberg pela Room to Read, uma organização sem fins lucrativos que promove a alfabetização e a igualdade de gênero em países em desenvolvimento. O nome da menina foi trocado para proteger sua identidade.

Para determinar o impacto do surto do vírus na educação de meninas, a Room to Read conduziu uma pesquisa com 28.000 meninas em Bangladesh, Camboja, Índia, Laos, Nepal, Sri Lanka, Tanzânia e Vietnã. Ela descobriu que 42% das meninas pesquisadas relataram um declínio na renda de suas famílias durante a pandemia de Covid-19 e que uma em cada duas meninas corria o risco de desistir da escola.

“Quando as famílias não podem pagar a escola e precisam escolher, muitas vezes mandam meninos”, disse John Wood, fundador da Room to Read. Dificuldades financeiras e estereótipos culturais sobre papéis de gênero desempenham um papel importante em impedir que meninas em países menos desenvolvidos concluam sua educação, disse ele.

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Embora o alcance total do problema ainda não esteja claro porque muitas escolas permanecem fechadas para aulas presenciais, grupos que promovem a educação de meninas, incluindo o Banco Mundial e a agência das Nações Unidas Unicef estão monitorando de perto a situação em todo o mundo.

“As famílias mais desfavorecidas terão dificuldades particulares por causa do impacto econômico. Isso tornará particularmente difícil para elas mandar seus filhos à escola”, disse Toby Linden, gerente de práticas de educação do Banco Mundial para o Leste Asiático e Pacífico. “Uma das lições da pandemia é o importante papel que as famílias têm no apoio à educação de seus filhos.”

A pandemia dizimou empregos e reduziu a renda familiar, ameaçando arrastar até 100 milhões de pessoas para a pobreza extrema.

Até 20 milhões de meninas em idade para a escola secundária podem estar fora dos estabelecimentos de ensino em todo o mundo, de acordo com o Fundo Malala, uma organização sem fins lucrativos que promove a educação de meninas. Na região da Ásia-Pacífico, isso seria somado ao contingente de 35 milhões de meninas e meninos que já estão fora das escolas.

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Isso deve exacerbar o déficit educacional das meninas nos países mais pobres, onde a taxa de matrícula feminina no ensino médio era baixa antes da pandemia. Há o risco de retrocesso em anos de progresso na educação de meninas e na igualdade de gênero em algumas das nações mais pobres do mundo.

O déficit educacional feminino é um dos principais fatores que impedem a participação das mulheres na força de trabalho e reduzem os seus salários. Um ano extra de educação secundária para meninas pode aumentar seus ganhos futuros em até 20%. Barreiras que impedem as meninas de completar 12 anos de educação e oportunidades de aprendizagem limitadas custam aos países até US$ 30 trilhões em perda de produtividade e ganhos ao longo da vida.

“A tendência preocupante é que a reabertura das escolas não significa automaticamente que todas as crianças vão voltar às escolas”, disse Francisco Benavides, conselheiro regional de educação da Unicef Leste Asiático e Pacífico. “A pandemia tem um grande impacto econômico para a região. Se as meninas não têm acesso a oportunidades de aprendizagem, é muito provável que as famílias e a sociedade sejam menos capazes de se adaptar ao choque econômico. ”

Educar meninas também mostrou levar a uma maior igualdade de gênero. Por exemplo, na Tailândia, as mulheres ocupam 32% dos cargos de gerência sênior, em comparação a uma média de 27% globalmente, de acordo com dados da Grant Thornton publicados em 2020. Elas representam 24% dos executivos e 43% dos diretores financeiros. Embora a Tailândia seja uma exceção, isso mostra o que pode ser alcançado quando as mulheres são educadas.

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bloomberg@moneytimes.com.br