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Menos cana na cogeração pode anular safra de preços pelos baixos níveis dos reservatórios

03 maio 2021, 16:00 - atualizado em 03 maio 2021, 16:09
Usina São Martinho
Energia elétrica gerada nas usinas e exportada para o sistema elétrico não terá ganho em volume por causa da safra menor (Imagem: LinkedIn/ Divulgação/ São Martinho)

O megawatt (MW) hora está satisfatoriamente acima da média de R$ 200 do mesmo período de 2020, com potencial até de subida, porém não significa que todas as unidades que fazem cogeração de energia elétrica vão nadar de braçada.

Se for considerada a biomassa da cana como representante de 11,8 gigawatts (GW), dos 15 de outras instalados no Brasil – o sistema elétrico todo oferece 175 GW -, a quebra da safra atual do Centro-Sul pode anular o aumento do preço no mercado livre. Fala-se, no setor sucro, entre 7% e 10% de quebra.

Dito de outra forma, a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) considera que menos matéria-prima reflete em menor oferta de energia exportada para o sistema.

O resumo é que o mesmo motivo que tem empurrado o preço do MW também é responsável por poder reduzir o disponível de eletricidade cogerada: os menores índices de chuvas que têm deixado os reservatórios hídricos em níveis perigosos são os mesmos que desde 2020 impactaram o desenvolvimento dos canaviais.

Leonardo Caio, diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, que acredita que o Brasil está em alerta com a capacidade dos reservatórios abaixo de 35% – “o pior mês de abril desde 1930” -, também lembra que se alguma usina quiser atender a maior demanda, possivelmente terá que buscar matéria-prima fora das suas cercas.

“Pode ser que algumas tenham um pouco de capacidade ociosa, mas vão precisar de bagaço e palha adicionais”, diz.

O setor é movido em 2/3 por vendas no mercado livre e 1/3 no chamado mercado regulado. Portanto, pode ser que a possível capacidade ociosa seja o efeito da menor comercialização contratada em 2020, cujos níveis de melhora do consumo vieram depois de julho em diante.

O cenário agora, com a estiagem se acentuando, Caio vê uma melhora do consumo, naturalmente ainda distante dos níveis pré-pandemia.

Gargalos

As questões climáticas não afetam as outras biomassas como o licor negro (rejeito da indústria de papel e celulose, com 2,7 GW), cavaco de madeira e casca de arroz (aqui, pela participação ínfima).

Mas a cogeração das usinas e destilarias de cana-de-açúcar ainda carrega gargalos adicionais para crescimento, pela importância de seu market share, frisa-se.

Um deles, segundo o executivo da Cogen, é que a maioria dos contratos de comercialização no mercado livre é para 2 a 3 anos. O ideal é de 5 anos para cima, para sustentar investimentos em aumento da capacidade instalada, unidades de cogeração nas usinas que não a possuem e até em cana.

O quadro já está mudando, diz Leonardo Caio, com algumas empresas negociando com grandes consumidores contratos de prazos mais elásticos.

O outro gargalo é mais de imagem, mas afeta a entrada no mercado de investidores, como as fabricantes de equipamentos. No recente Plano Decenal de Energia (PDE), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), se indica o aumento de 80 MW ano das biomassas.

Mesmo não sendo mandatório, “é muito pouco, indica franqueza e assusta os investidores”, afirma o diretor da Cogen, salientando que essa taxa pode ser coberta por uma única empresa.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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