Mercado acompanha agenda cheia com IGP-M, IPCA-15, Caged e dados dos EUA e China

A agenda da semana está agitada, com dados nacionais e internacionais movimentando o mercado. O IGP-M deve voltar ao campo positivo em agosto, interrompendo a sequência de três meses em deflação. A projeção de alta é sustentada pelo avanço das commodities e por sinais de aceleração em indicadores de alta frequência, ainda que a pressão de preços esteja mais concentrada na base da cadeia produtiva e nos segmentos intermediários.
Já o IPCA-15 deve mostrar perda de fôlego no mês. O recuo reflete a queda nos preços de alimentos e combustíveis e reforça a perspectiva de que o Banco Central poderá iniciar o ciclo de corte de juros em dezembro. Apesar da desaceleração, a surpresa baixista da inflação de julho mantém viva, ainda que remota, a chance de o índice encerrar o ano dentro da banda de tolerância da meta.
Enquanto isso, o mercado de trabalho segue resiliente. Os dados do Caged de julho devem confirmar a criação líquida de cerca de 185 mil vagas formais, acima de junho e em linha com o ritmo observado no mesmo período de 2024.
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Confira as projeções para a agenda de indicadores desta semana
- O IGP-M deve interromper a sequência de três meses em território deflacionário e registrar alta em agosto. Nossa projeção indica variação de 0,30%, sustentada pelo comportamento recente das commodities e por sinais de aceleração nos indicadores de alta frequência.
A aceleração dos preços se manifesta principalmente na base da cadeia produtiva e em segmentos intermediários da produção, mas ainda encontra barreiras no consumidor final, onde prevalece o repasse do movimento deflacionário observado nos preços aos produtores domésticos nos meses anteriores. - Neste contexto, o IPCA-15 de agosto deve mostrar perda de fôlego frente à leitura anterior, refletindo a retração nos preços de alimentos e combustíveis. Projetamos alta de 0,15%, após os 0,33% de julho, o que representaria a menor variação em sete meses.
Esse arrefecimento reforça a expectativa de que o Comitê de Política Monetária disponha de espaço para inaugurar o ciclo de flexibilização em sua última reunião do ano, em dezembro. Complementarmente, os dados de inflação de julho — abaixo do esperado — sugerem que ainda existe uma remota possibilidade de o Brasil encerrar o ano com a inflação dentro do intervalo de tolerância da meta.
Os dados do Caged de julho devem confirmar a resiliência do mercado de trabalho brasileiro, em contraste com sinais mais claros de desaceleração da atividade econômica nos últimos meses. A expectativa é de criação líquida de pouco mais de 185 mil vagas formais no mês, resultado que, se confirmado, representará aceleração frente a junho e manutenção de um ritmo semelhante ao observado em igual período de 2024.
Esse desempenho reforça a leitura de que o mercado de trabalho segue aquecido, sustentando o consumo das famílias, apesar do ambiente de atividade menos dinâmico. - O déficit em transações correntes de julho deve ser o mais elevado para o mês desde 2019, colocando o balanço de pagamentos no foco do mercado nesta semana. A atenção decorre do crescente descompasso entre a expansão do déficit em conta corrente e o fluxo de investimentos produtivos, tradicionalmente responsável por financiar esse desequilíbrio.
Embora o resultado ainda não configure risco imediato, acende um sinal de alerta para os próximos meses. O país conta com um colchão de liquidez robusto em moeda estrangeira, mas o episódio de forte desvalorização no final do ano passado evidenciou a vulnerabilidade estrutural a choques externos e à volatilidade. Caso nossas projeções se confirmem, mesmo diante de entradas significativas de investimento direto, a diferença entre as duas contas deve se ampliar no acumulado em 12 meses até julho. - O Governo Central deve registrar novo déficit em julho, mesmo diante do recorde de arrecadação informado pela Receita Federal. Nossas projeções indicam um resultado negativo próximo de R$ 40 bilhões, enquanto estimativas do Ipea apontam para um déficit ainda mais expressivo, em torno de R$ 58 bilhões.
Em qualquer dos cenários, o saldo de julho representará deterioração frente ao mesmo mês de 2024, revertendo a tendência observada entre janeiro e maio deste ano, quando os números mensais superaram, positivamente, os de igual período do ano anterior. Apesar do enfraquecimento das contas públicas em junho e julho, seguimos projetando o cumprimento da meta estabelecida pelo novo arcabouço fiscal em 2025. - Os próximos dados da economia norte-americana devem intensificar as incertezas em torno da trajetória da política monetária do Federal Reserve no segundo semestre. Embora o corte de juros em setembro seja praticamente consensual, a combinação de sinais de sobreaquecimento da atividade com pressões inflacionárias coloca em dúvida a extensão e a intensidade do ciclo de flexibilização.
A fraqueza recente do mercado de trabalho sugere espaço para uma redução marginal já no mês que vem, mas a alta do índice de preços ao produtor indica riscos de pressões adicionais sobre a inflação na reta final de 2025, o que pode levar o Fed a adotar uma postura mais cautelosa, inclusive com a possibilidade de pular decisões nas reuniões subsequentes. Caso a segunda leitura do PIB do segundo trimestre e os dados do PCE de julho surpreendam, o ciclo de cortes pode se revelar bem mais contido do que atualmente precificado pelo mercado. - Os PMIs chineses de agosto devem permanecer próximos da marca de 50 pontos, sinalizando um quadro de estabilidade com leve viés de crescimento. Esse comportamento indica que a economia ainda não conseguiu ganhar maior tração, já que a demanda interna segue aquém das expectativas do governo, que mantém como meta um crescimento de 5% em 2025.
Nesse cenário, são esperadas novas medidas de estímulo monetário e fiscal ao longo do segundo semestre, com foco em impulsionar o consumo doméstico e destravar investimentos. Apesar dessa fragilidade no mercado interno, o setor externo continua sustentando a atividade, beneficiado pelas tréguas comerciais com os Estados Unidos, que têm garantido fluxo robusto de exportações.
Confira a agenda de indicadores entre 25 a 29 de agosto (horário de Brasília):
Segunda-feira, 25 de agosto
Horário | País | Indicador |
— | Reino Unido | Feriado |
8h | Brasil | Confiança do consumidor |
8h25 | Brasil | Relatório Focus |
9h30 | EUA | Licenças de construção |
11h | EUA | Vendas de casas novas |
Terça-feira, 26 de agosto
Horário | País | Indicador |
9h30 | Brasil | Transações correntes e Investimento estrangeiro direto |
9h | Brasil | IPCA-15 |
9h30 | EUA | Pedidos de bens duráveis |
10h | EUA | Índice de preços de imóveis |
Quarta-feira, 27 de agosto
Horário | País | Indicador |
8h30 | Brasil | Empréstimos bancários |
Quinta-feira, 28 de agosto
Horário | País | Indicador |
6h | Zona do euro | Confiança do consumidor |
8h | Brasil | IGP-M |
9h30 | EUA | Pedidos semanais de seguro-desemprego |
9h30 | EUA | PIB (segunda leitura) |
14h30 | Brasil | Caged |
20h30 | Japão | CPI, taxa de desemprego, produção industrial e vendas no varejo |
Sexta-feira, 29 de agosto
Horário | País | Indicador |
8h30 | Brasil | Balanço orçamentário e dívida/PIB |
9h | Brasil | Taxa de desemprego |
9h30 | EUA | PCE |
11h | EUA | Confiança do Consumidor Michigan |