Comprar ou vender?

Mercado Livre (MELI34) faz ‘jogada ousada’ frente concorrência asiática, avaliam analistas

06 jun 2025, 18:09 - atualizado em 06 jun 2025, 18:09
Mercado livre
Analistas avaliam positivamente o anúncio do Mercado Livre sobre frete grátis, apesar da agressividade (Imagem: Reuters/Divulgação Mercado Livre)

O Mercado Livre (MELI34) anunciou ao mercado um movimento ousado para se manter em destaque diante da concorrência: reduziu a política de frete grátis no Brasil do valor mínimo de R$ 79 para R$ 19, o menor na história da empresa. Na visão do Itaú BBA, a estratégia é agressiva e visa fazer frente a competição acirrada.

O benefício, conforme anunciado pela gigante do e-commerce, será aplicado automaticamente, sem necessidade de cupons, e vale para todas as regiões, dispositivos e meios de pagamento.

Ficam de fora apenas compras internacionais (frete grátis a partir de R$ 79) e produtos de supermercado (a partir de R$ 199).

Para a equipe de analistas do BBA, liderada por Rodrigo Gastim, o anúncio tem como principal objetivo defender a posição do Mercado Livre em categorias de baixo custo, reforçando a posição diante de plataformas como a Shopee, que vem ganhando força neste sentido.

“A medida segue um corte recente de até 40% nos custos de frete para determinados itens e se alinha com o esforço mais amplo do Mercado Livre para aumentar a frequência, expandir sua base de usuários e reforçar a amplitude da categoria em segmentos de consumidores mais sensíveis a preço”, ponderam os analistas.

Na visão da casa, mais do que um ajuste defensivo, o movimento também ressalta o domínio do Mercado Livre ao alavancar a posição de liderança e infraestrutura logística, apontada pelos analistas como a principal vantagem competitiva.

“A empresa está implementando um manual extremamente difícil de ser replicado pelos concorrentes. É um caso claro do líder de mercado usando escala para exercer pressão e bloquear o avanço de novos participantes na extremidade inferior da faixa de tíquetes”, diz o BBA.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

De olho na competição

Analistas do Goldman Sachs notam que o anúncio do Mercado livre ocorreu no dia 6/6, uma data muito associada à Shopee, que realiza ações especiais em datas com números iguais. Dessa maneira, endossam a visão de que a companhia está se posicionando diante de uma concorrente que vem crescendo em categorias com preços mais baixos.

O Goldman destaca ainda que o frete grátis para a faixa de R$ 19 a R$ 79 vem com um frete mais lento, limitando o custo incremental de frete unitário para esses volumes, e é consistente com a abordagem da companhia para equilibrar investimentos com economia unitária sustentável.

O banco destaca que desde o lançamento do frete grátis no Brasil, em 2017, esta tem se mostrado a ferramenta mais poderosa para impulsionar o crescimento, a frequência, a retenção e a satisfação do usuário.

“Acreditamos também que esta decisão aumenta significativamente a capacidade da Mercado Livre de competir em sortimentos de preços mais baixos, uma parte do mercado que ainda apresenta menor penetração online, em parte devido à economia de frete mais desafiadora”, diz a equipe liderada por Irma Sgarz.

O custo da decisão do Mercado Livre

O Itaú BBA pondera que, ainda que as implicações de longo prazo da medida sejam positivas ao projetarem força e limitarem a concorrência, a estratégia tem um custo.

A casa estima que o impacto de curto prazo dessa decisão represente aproximadamente 10% do Ebit (lucros antes de juros e impostos) e do lucro líquido estimado para  2025

“Continuaremos monitorando como o ambiente competitivo evolui, como os pares respondem a essa mudança de preços e a capacidade do Mercado Livre de capturar GMV (volume bruto de mercadorias) incremental neste segmento para justificar a compensação”, diz o Itaú BBA, que tem recomendação de compra para o Mercado Livre.

Para o Goldman Sachs, ainda que o anúncio possa representar algum risco de queda nas estimativas de
margem Ebit para os próximos trimestres e nas estimativas para 2026, esperam que o impacto líquido no crescimento absoluto do Ebit seja positivo.

A equipe do Goldman reitera a classificação de compra para a companhia.

Compartilhar

Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.