Coluna
Educação Financeira

Mercado passa por mudança silenciosa, mas profunda

22 out 2025, 17:26 - atualizado em 22 out 2025, 17:26
pix receita federal governo federal
(Imagem: pixabay/ Montagem: Julia Shikota).

O mercado financeiro passou por uma transformação silenciosa, mas profunda. O que antes era uma relação direta entre o investidor e o gestor, baseada em confiança, diálogo e entendimento mútuo, tornou-se uma cadeia de intermediações, plataformas e discursos genéricos.

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O investidor, que lia cartas, acompanhava decisões e compreendia os riscos, foi substituído por um consumidor de produtos financeiros embalados, rotulados e vendidos como soluções prontas.

As cartas dos gestores, que antes explicavam escolhas e estratégias, tornaram-se peças de marketing.

Expressões como “seguimos atentos”, “mantemos disciplina” e “vemos oportunidades” ocupam o lugar de análises reais.

Algumas são escritas por inteligência artificial, o conservante ideal para manter o texto polido e sem atrito.

O conteúdo perdeu textura, autoria e sabor.

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O gestor, que antes colocava sua reputação em jogo, hoje coloca o texto em uma ferramenta automatizada e o público na indiferença.

O investidor não sabe mais quem gere seu patrimônio. As decisões passam por assessores, influenciadores, departamentos de marketing e robôs. O contato direto desapareceu.

Produtos como COEs, FIDCs e FIIs são oferecidos sem clareza, sem rosto, sem explicação.

O cliente não sabe onde está seu dinheiro, que risco corre, quanto pode ganhar ou perder.

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E o assessor, remunerado por venda e não por performance, também não compreende o que está oferecendo. A comissão está garantida, mesmo que o cliente perca.

Essa desconexão não é casual.

Ela é resultado de um modelo que favorece a concentração de renda e a padronização das relações. O gestor não conhece o cliente.

O cliente não conhece o gestor.

O dinheiro perdeu identidade. O diálogo foi substituído por um funil de vendas. A regulamentação, moldada pelos grandes bancos, reforça esse anonimato.

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O compliance e o marketing atuam como conservantes: evitam o risco de estragar, mas também removem o sabor da verdade.

O investidor compra “diversificação” e “segurança”, acreditando que isso o protegerá. Mas o retorno é medíocre.

A confiança está no rótulo, não no conteúdo. E quanto mais distante o consumidor está de quem faz, mais aditivos podem ser colocados — no produto e no discurso.

Esse fenômeno não é exclusivo do setor financeiro.

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A indústria de alimentos passou por processo semelhante. O consumidor se afastou da fazenda, da cozinha, da receita.

Deixou de saber quem planta, quem colhe, quem tempera.

A comida tornou-se prática, industrial, cheia de estabilizantes, corantes e conservantes. O vínculo foi substituído por storytelling. O sabor, por química.

Produtos prometem ser “naturais”, “artesanais”, “feitos com amor”, mas são embalados por máquinas e vendidos por slogans.

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O consumidor compra “zero açúcar” e “light” acreditando que está fazendo uma escolha saudável, mesmo sabendo que não é bem assim. A confiança está no rótulo. O conteúdo é desconhecido.

A ausência de contato direto é o fertilizante da mediocridade. Na alimentação, o conservante mantém o produto vendável.

No mercado financeiro, o marketing e o compliance fazem o mesmo.

Ambos removem o risco de estragar — e também a autenticidade. O sabor da verdade, a beleza dos ingredientes, a origem do processo, tudo se perde.

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O futuro saudável — nas finanças e na vida — está no reencantamento pelo simples.

Voltar a saber quem produz o que se consome.

Falar com o gestor como se fala com o agricultor.

Entender o processo, não apenas o resultado. Aceitar a imperfeição artesanal em vez da perfeição industrial.

Porque, no fim das contas, o dinheiro, como a comida, não é um produto. É uma relação. E relações não sobrevivem a tantos aditivos.

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Quanto mais longe o cliente está de quem faz, mais envenenado o produto se torna.

Na mesa e na carteira.

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Sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos
Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos, além de sócio da Garoa Wealth Management. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
fernando.luiz@moneytimes.com.br
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Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos, além de sócio da Garoa Wealth Management. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
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