Opinião

Mercados de soja e milho reagem pouco aos sinais de aumento de demanda da China

25 out 2019, 11:59 - atualizado em 25 out 2019, 12:07
Soja-agronegócio
Mesmo com o aumento de demanda da China, o mercados de soja reagiram timidamente (Imagem: Daniel Acker/Bloomberg)

Era o que os mercados de grãos pareciam estar esperando há meses: China, China e mais China.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Fontes familiares à demanda de grãos na China disseram, na quarta-feira à Bloomberg, que Pequim importará pelo menos US$ 20 bilhões em produtos agrícolas dos EUA por ano se os dois países firmarem aquele acordo comercial parcial sugerido no início deste mês. Diante dessa notícia, qual seria a reação esperada nos mercados de soja e milho?

“Conversa fiada!”, essa foi a reação.

Os preços do milho adentraram ainda mais o território negativo no pregão de Chicago desta quarta-feira, enquanto os da soja conseguiram terminar o dia levemente positivos. Na sessão seguinte, ambos já estavam no vermelho.

Em analogia ao mercado de petróleo, essa reação foi equivalente aos rumores na imprensa de que a Opep realizaria mais um corte de um milhão de barris por dia, e o resultado foi a queda nos preços do petróleo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

China comprando mais produtos agrícolas dos EUA? Dados validam sugestões da mídia

O mais surpreendente nessa notícia do milho e da soja, no entanto, foi que houve uma confirmação, em certa medida, de que os sinais que a Bloomberg recebeu de fontes do setor agrícola chinês provavelmente continham mais do que um grão de verdade.

A validação veio nada mais, nada menos do que do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). O USDA divulgou dados mostrando que exportadores privados haviam vendido 264.000 toneladas de soja norte-americana para a China com entrega no ano comercial de 2019/20, em meio a esperanças de um acordo comercial parcial entre os dois lados.

A Reuters noticiou que essa foi a primeira confirmação de venda de soja para a China por parte do governo dos EUA, desde que o presidente Donald Trump anunciou, em 11 de outubro, que Pequim estaria disposta a comprar até US$ 50 bilhões em produtos agrícolas americanos como parte de um acordo comercial.

O relatório anterior do USDA mostrou que haviam sido exportadas 475.200 toneladas de soja dos EUA, incluindo 68.300 toneladas para a China, na semana encerrada em 17 de outubro, segundo a Reuters.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As previsões dos analistas para o relatório semanal variavam de 800.000 a 1,6 milhão de toneladas.

Pouca movimentação no mercado agrícola decepciona alguns

O Hueber Report, de St. Charles, Illinois, que cobre os movimentos diários nas commodities agrícolas, não conseguiu esconder sua decepção com o desempenho apagado dos mercados de soja e milho nos últimos dois dias, apesar de rumores e dados de maior demanda chinesa.

Kelley Herwig, analista do Hueber Report, ressaltou que a quinta-feira foi “um dia bastante sem graça para os grãos”.

Herwig escreveu:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“À noite, a China declarou que havia concordado em adquirir US$ 20 bilhões em produtos agrícolas dos EUA como parte da primeira fase do acordo comercial, que deve ser assinado nas próximas semanas.”

“A China começou a dar prosseguimento a esse anúncio nesta manhã, quando se constatou um volume de 264.000 de toneladas métricas de exportação de soja para entrega no atual ano comercial de 2019/20.”

Soja 15 Minutos – Powered by TradingView

Mesmo assim, os preços da soja não conseguiram manter sua força no fechamento de quinta-feira, com o contrato com vencimento em janeiro fechando com meio centavo de desvalorização, a US$ 9,47 por bushel, declarou a analista.

“O mercado de soja passou a andar de lado, e não seria surpreendente se víssemos uma correção para a região dos 927.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Milho 15 Minutos – Powered by TradingView

Da mesma forma, o milho começou a quinta-feira em alta por conta do relatório do USDA sobre a China, antes de derrapar no fechamento, afirmou Herwig.

“Assim como a soja, o milho tem ficado de lado nos últimos dias, e não seria de surpreender se também víssemos uma correção nesse mercado. O suporte está em torno de US$ 3,8025 e US$ 3,73”.

Se não fosse o acordo comercial parcial visado por ambas as partes, a China teria poucas razões para adquirir mais milho e soja dos EUA como ração animal neste momento, em razão do prejuízo causado pela febre suína africana à sua população de porcos.

Os dois lados voltam a negociar depois de um alívio na guerra comercial

Pouco antes de outubro, parecia improvável um arrefecimento na batalha de tarifas entre as duas potências mundiais, quando o governo Trump impôs uma taxa sobre US$ 550 bilhões em produtos chineses. O governo de Xi Jinping, por sua vez, aplicou tarifas sobre US$ 185 bilhões de produtos americanos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Pequim também havia imposto tarifas pesadas sobre importações de carne suína dos EUA como parte da guerra comercial.

Apesar do dano à sua população de porcos, as aquisições totais da China de carne suína norte-americana na semana passada permaneceram em 2.002 toneladas, a menor em cinco semanas. Trata-se de uma queda em relação às aquisições recordes de 152.599 toneladas registradas na semana encerrada em 10 de outubro, embora o USDA tenha dito que as vendas de semanas anteriores poderiam ter sido incluídas.

Jack Scoville, que escreve um relatório diário sobre produtos agrícolas para o Price Futures Group, em Chicago, afirmou que os movimentos cautelosos na soja e no milho nos últimos dois dias podem ser uma atitude de “esperar para ver” por parte dos traders do setor.

“A questão é que os problemas a serem resolvidos são grandes e muito complicados, e exigirão muito tempo e trabalho antes que qualquer uma das partes possa cantar vitória.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas Scoville também observa que a China retirou as tarifas sobre 3 milhões de toneladas de importações de soja dos EUA pela indústria privada como sinal de boa vontade às tratativas.

“O bom é que os dois lados voltaram a negociar.”

Compartilhar

investing@moneytimes.com.br