Mercados emergentes ainda devem sofrer efeitos indiretos do ‘tarifaço’ de Trump, alerta Moody’s

Não é novidade que as idas e vindas dos acordos tarifários dos Estados Unidos (EUA) acabou gerando um alto grau de incerteza nos mercados globais, e uma certa dificuldade de prever a política comercial do país. Agora, como consequência, há uma possibilidade de um cenário de risco de crédito para os emissores de dívidas nos mercados emergentes.
A Moody’s Ratings, em relatório, afirma que embora os exportadores estejam na linha de frente, os impactos indiretos se espalham por empresas, governos e instituições financeiras, afetando amplamente a estabilidade econômica e o ambiente de crédito global.
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Nesse contexto, as empresas enfrentam efeitos diretos das tarifas, e os impactos indiretos atingem uma faixa muito maior. Isso porque empresas cujos ganhos dependem da venda de produtos tarifados para os EUA, especialmente nos setores automotivo, químico e de manufatura, estão mais diretamente expostas.
“As tarifas atingirão indiretamente um grupo muito maior e variado de emissores de dívida por meio da desaceleração do crescimento econômico e, para muitos, devido à queda nos preços das commodities, à desvalorização cambial e à aversão ao risco dos investidores. As exposições e mitigadores específicos variam de acordo com a entidade”, alerta a Moody’s.
Efeitos do ‘tarifaço’ nos mercados emergentes
Com os novos passos dos EUA em sua política comercial internacional, firmando um acordo com a China, e recuando do acordo com o Reino Unido, a Moody’s Ratings estima que as conversas devem se estender a outros países, mas uma reversão completa dos níveis tarifários impostos é considerada improvável.
Mesmo com a celebração de novos acordos, os efeitos mais amplos das tarifas e da incerteza comercial devem continuar afetando consumidores, negócios e atividades financeiras em grande parte dos mercados emergentes.
Os produtos exportados pela China seguem como os principais alvos das tarifas americanas. Mas, segundo a Moody’s, a maioria das empresas chinesas avaliadas pela agência apresentam características que mitigam os impactos sobre os lucros, como presença geográfica diversificada e grandes fluxos de receita provenientes do mercado doméstico.
Em outras regiões, empresas dos setores automotivo e químico da América Latina, bem como do Sul e Sudeste Asiático, estão entre as mais expostas aos efeitos negativos das tarifas, embora algumas contenham com fatores atenuantes.
A Moody’s alerta que os riscos não se restringem às empresas diretamente envolvidas no comércio com os EUA. Nesse cenário, os efeitos indiretos, como a desaceleração econômica global, afetam uma gama muito mais ampla de emissores de dívida.
Além das empresas, governos de mercados emergentes com forte dependência de exportações, reservas cambiais limitadas ou situações fiscais frágeis estão particularmente vulneráveis ao cenário atual.
As operadoras de portos, por exemplo, são apontadas como as mais expostas dentro do setor de infraestrutura, devido à ligação direta com o comércio internacional. Já os bancos enfrentam riscos relacionados à deterioração da qualidade de crédito de seus clientes e à crescente volatilidade cambial, o que amplia a preocupação com a estabilidade financeira nesses países.
A Moody’s identifica três principais canais pelos quais as tarifas impactam os emissores de dívida:
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Comércio Direto – Empresas absorvem custos ou repassam preços, afetando receitas e lucros;
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Condições Macroeconômicas – Incertezas reduzem investimentos e consumo, desacelerando o crescimento;
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Mercados Financeiros – Volatilidade e fuga de capitais elevam o risco de refinanciamento e default.