Internacional

Mercados monetários enfrentam nova crise em mundo de juro zero

08 set 2020, 13:53 - atualizado em 08 set 2020, 14:59
Vanguard
A Vanguard, segunda maior gestora de ativos do mundo, está convertendo um fundo de US$ 125 bilhões para comprar dívida pública em vez de títulos corporativos de curto prazo nos quais investiu por décadas (Imagem: Facebook/Vanguard)

Um segmento de US$ 750 bilhões ainda em dificuldade para se recuperar da última crise está fragilizado pelo mantra do Federal Reserve, de juros baixos por um prazo mais longo nos Estados Unidos.

Os fundos prime do mercado monetário – há muito tempo entre os favoritos para quem busca investimento semelhante a posições em dinheiro com um pouco de rendimento extra – enfrentam um desafio existencial, apenas quatro anos depois da revisão regulatória para restaurar a confiança na esteira da crise financeira global.

Os ativos nesses veículos caíram 20% em apenas seis semanas no início deste ano, promovendo o debate sobre novas reformas. Mas alguns dos líderes do setor têm optado por outra solução: fechá-los.

A Vanguard, segunda maior gestora de ativos do mundo, está convertendo um fundo de US$ 125 bilhões para comprar dívida pública em vez de títulos corporativos de curto prazo nos quais investiu por décadas.

A Northern Trust e a Fidelity Investments recentemente fecharam fundos com foco semelhante. As decisões consolidam a queda prolongada dos fundos prime e podem prejudicar um mercado do qual milhares de empresas dependem para obter financiamento.

As estratégias são efeitos colaterais da agressiva abordagem do Fed para manter os juros baixos nos próximos anos.

A percepção de que esses fundos, que supostamente fornecem uma vantagem sobre alternativas mais conservadoras, não se tornarão muito mais atraentes tão cedo é uma perspectiva sombria para investidores que, muitas vezes, devem tolerar limites para resgates – os chamados gates – para comprá-los. Gestores de ativos, por sua vez, têm cada vez mais dificuldade para justificar suas comissões.

Federal Reserve
O fechamento de fundos do mercado monetário é efeito colateral da agressiva abordagem do Fed para manter os juros baixos nos próximos anos (Imagem: Reuters/Leah Millis)

“Prevemos um período muito extenso do limite inferior a zero – isso é brutal para os fundos monetários”, disse Jon Hill, estrategista de juros da BMO Capital Markets. “Qual é o argumento para entrar em um fundo prime que poderia ser fechado e que é menos líquido do que estar em notas do Tesouro e compromissadas, se você só vai ganhar alguns pontos-base no rendimento?”

Os fundos prime perderam mais de US$ 150 bilhões em ativos com saques entre o fim de fevereiro e o início de abril; como um produto semelhante ao dinheiro com exposição a crédito, esses fundos são especialmente vulneráveis a saques em uma crise.

Para alguns, a turbulência recente lembra o cataclismo de setembro de 2008, quando um investimento em um título do Lehman Brothers fez com que o preço da cota de um fundo prime caísse abaixo de US$ 1.

Esse evento gerou saques em fundos do mercado monetário, que então administravam cerca de US$ 3,5 trilhões, espalhando volatilidade nos mercados globais – e estimulou reformas abrangentes.

“Esperamos uma rodada adicional de reforma regulatória”, disse Greg Fayvilevich, diretor sênior da Fitch Ratings. Ele espera que os reguladores se concentrem nas comissões de liquidez e nos chamados gates, já que “a sensibilidade em torno desse limite de liquidez tornou saques em fundos monetários mais prováveis”. Os custos adicionais associados a outra rodada possível de mudanças das regras podem estar entre os fatores que levam mais fundos a serem fechados, disse.

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