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Minerva, JBS e Marfrig: Frigoríficos podem ser afetados pela gripe aviária?

05 abr 2024, 15:58 - atualizado em 05 abr 2024, 15:58
gripe aviária
Os frigoríficos podem ser afetados com a gripe aviária? Veja opinião de analistas da Genial Investimentos (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

Nesta segunda-feira (1), foi detectado um caso de gripe aviária em humano que teve contato com vacas-leiteiras nos Estados Unidos. A doença, causada pelo vírus influenza A (H5N1), tem a propagação por meio de aves selvagens, porém, pode também chegar aos galinheiros.

Apesar de ser uma doença já conhecida, o caso citado é o segundo registrado na história dos EUA. Dessa vez, o vírus se espalhou para outros mamíferos, inclusive as vacas.

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A contaminação ocorreu em 13 rebanhos de leiteiros em seis estados norte-americanos, mas não identificaram casos de infecção em machos ou vacas destinadas para corte. Contudo, o USDA (United States Department of Agriculture) emitiu um comunicado dizendo que segue atento à contaminação na carne bovina.

As vacas tiveram contato com a enfermidade por meio do pasto ou da água, ambos infectados pelas aves por meio da saliva ou fezes. Já o ser humano, no caso reportado no Texas, contraiu a doença justamente pelo contato com um rebanho de vacas.

De acordo com o USDA, a oferta nacional de leite dos EUA está segura. Isso porque o controle na separação do laticínio confere que o produto advindo de vacas infectadas seja desviado ou destruído, evitando assim sua comercialização. 

Além disso, o processo de pasteurização, que elimina as bactérias e vírus, como a gripe, é necessário para o comércio interestadual, impedindo mais uma forma de infecção.

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Impactos para os frigoríficos

Os analistas da Genial Investimentos, Igor Guedes, Lucas Bonventi e Rafael Chamadoira, afirmaram que o maior risco para as empresas de proteínas é a restrição de embarques, especialmente para a Ásia.

Em 2021, devido a um caso atípico de Vaca Louca, a China restringiu os embarques por quase quatro meses, afetando drasticamente a Minerva (BEEF3) (mais exposta à exportação para a Ásia), e em médio grau a JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3).

De acordo com os analistas, ainda é cedo para estimar o impacto da situação total.

“Dado o histórico de restrições para assegurar a saúde da população em diversos países e o potencial impacto no controle de preços na China, entendemos que o risco de corte na demanda exista, se o vírus vir a ser confirmado no bovino macho ou fêmea destinado para corte”. 

No Brasil o risco é menor, visto que a probabilidade da doença chegar é baixa. Contudo, caso haja a infecção nos gados brasileiros, Minerva iria sofrer um impacto mais forte que JBS e Marfrig.

JBS e Marfrig não sairiam ilesas, mas o percentual de penetração do mercado asiático vs. o total de exportações é menor se comparado à Minerva”.

Porém, no caso de restrições à venda dentro do mercado norte-americano, ambas as companhias arcariam com consequências mais amplas que a Minerva. JBS e Marfrig tem fatias relevantes de seus portfólios de plantas de abate, no mercado dos Estados Unidos.

Inclusive, essa penetração da exportação poderia subir, caso a carne brasileira não estivesse contaminada, e os EUA passassem a ter um mercado consumidor doméstico mais apertado, necessitando importar mais carne do Brasil, beneficiando a Minerva”, destacam.

Em relação à BRF (BRFS3), a companhia não possui operações nos Estados Unidos e não exporta ao país. Suas principais exportações são para o mercado Halal, incluindo países do Golfo e Turquia, e Ásia.

Um eventual bloqueio chinês à produção de frango nos EUA poderia beneficiar a BRF, uma vez que a China poderia aumentar suas compras na América do Sul para suprir sua demanda interna, o que viabilizaria maiores preços de venda da proteína pela BRF”.

Recomendações dos analistas

Para Minerva, apesar do resultado fraco no 4T23, os analistas dão o voto de confiança à companhia, mantendo a recomendação de compra. Contudo, eles têm expectativa de volume de embarques reduzida para 2024 e reduziram o preço-alvo para R$ 9 (R$ 14 anteriormente), em 12 meses.

Poderemos rever a recomendação de Minerva à medida que as incertezas com relação à demora de aprovação para aquisição das 16 plantas de abate da Marfrig forem espremendo a janela de tempo que a companhia terá para aproveitar o ciclo positivo no Brasil, antes de uma virada entre 2025/2026″.

Já para a JBS, a recomendação também é de compra, com o preço-alvo de R$ 30,00 para 12 meses. “Gostamos da tese pela diversificação geográfica, como a de proteínas e possível dupla listagem nos EUA (aguardada para o 2S24), uma vez que a companhia negocia a múltiplos abaixo de players americanos comparáveis, como a Tyson Foods”, completam.

Vale destacar que também estaríamos dispostos a rever nosso rating caso haja interrupção da comercialização de carne bovina nos EUA pela gripe aviária”.

Contudo, para Marfrig, ainda que o resultado do 4T23 tenha sido melhor, a BRF foi um importe fator no resultado consolidado da companhia. Portanto, a melhora do resultado não veio da comercialização de carne, e a companhia continua com margens pressionadas,  considerando a oferta de gado mais restrita, pressionando os custos.

Apesar disso, os analistas dão uma recomendação neutra, com o preço-alvo de R$ 10 para 12 meses. “A companhia nos parece estar sendo negociada hoje sem margem vs. o preço justo”, afirmam.

“Salientamos as dinâmicas em direções opostas dos ciclos de gado nos EUA vs. Brasil. Por isso, damos um voto de confiança a Minerva, mais exposta às dinâmicas do ciclo do gado positivo no Brasil, e, por outro lado, reiteramos a nossa recomendação de manter para Marfrig, mais exposta ao ciclo negativo do gado nos EUA”. 

Por fim, os analistas seguem conservadores e com recomendação neutra sobre a BRF, com ajuste no preço-alvo para R$ 17 em 12 meses (R$ 14,00 anteriormente). Contudo, não veem se o momentum favorável deve ter continuidade, principalmente devido à incerteza quanto à sustentabilidade das melhorias operacionais no segmento internacional.

“Alteramos premissas de volume e custos, para perspectivas levemente melhores do que as que tínhamos previamente em nosso modelo, em razão de um 4T23 forte, surpreendendo-nos, bem como o consenso”, destacam. 

Estagiária de Redação
Estudante da área de comunicação, cursando Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Ingressou no Money Times em 2024 como estagiária.
marcela.malafaia@moneytimes.com.br
Estudante da área de comunicação, cursando Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Ingressou no Money Times em 2024 como estagiária.