Habitação em foco: o futuro do Minha Casa, Minha Vida

Há mais de 15 anos, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) se consolidou como o maior programa habitacional do país. Em 2025, o programa ganhou ainda mais força, com mais de R$ 126,8 bilhões destinados à habitação, sendo R$ 15 bilhões oriundos do Pré-sal.
Esses números reforçam a centralidade da política pública, mas também revelam um outro lado: expõem a existência de recursos em meio à falta de eficiência nas faixas que mais concentram o déficit habitacional.
Habitação: Onde a demanda é maior
De acordo com a Fundação João Pinheiro, o Brasil ainda tem cerca de 6 milhões de moradias em déficit, quase 90% concentradas nas faixas 1 e 2 do MCMV. Essas são justamente as famílias de menor renda, em que os projetos enfrentam maiores dificuldades.
É aqui que a equação financeira não fecha. Com o aumento constante dos custos de construção e insumos, aliado a tetos de preço defasados, os projetos ficam inviabilizados. Como consequência, construtoras e incorporadoras têm dificuldades de atuar com competitividade nas áreas em que a demanda é mais urgente.
Decisões que fazem diferença
Mesmo diante desse cenário, há espaço para avanços quando as empresas conseguem alinhar desde a escolha dos terrenos até a gestão de vendas e obras. Padronização de projetos, novas técnicas construtivas e maior equilíbrio entre ritmo de vendas e execução podem melhorar os resultados.
Ainda assim, o financiamento público continua sendo indispensável e precisa ser ajustado para que o programa cumpra sua proposta central: entregar moradias acessíveis às famílias de baixa renda.
Aprendizados locais
Algumas experiências estaduais mostram caminhos possíveis. O Casa Paulista, por exemplo, reduziu em até 46% a renda mínima exigida para o acesso a um imóvel, ampliando a capacidade de compra das famílias.
Essa iniciativa prova que ajustes complementares podem multiplicar o alcance do investimento federal. No entanto, a ausência de padronização regulatória entre municípios ainda dificulta o avanço. Processos mais longos e custos adicionais se tornam barreiras que poderiam ser superadas com maior harmonização das regras.
A chegada da Faixa 4 no Minha Casa Minha Vida
Outra novidade foi a criação da Faixa 4 no Minha Casa Minha Vida, voltada para famílias com renda de até R$ 12 mil e imóveis de até R$ 500 mil. Esse grupo, formado em grande parte pela classe média, passou a ter acesso a juros menores que os do mercado tradicional, em torno de 10% ao ano.
Isso abre novas possibilidades para um público que busca projetos mais completos, com infraestrutura urbana e serviços integrados. Apesar da relevância, essa faixa cobre apenas 3,5% do déficit habitacional do país. É um avanço importante, mas não resolve o problema da maior parte das famílias em espera.
O futuro do financiamento
O setor de habitação popular depende de fontes de recursos diversificadas para crescer de forma sustentável. Hoje, FGTS e poupança sustentam a maior parte do financiamento, mas ambos enfrentam limitações. Só a poupança perdeu aproximadamente R$ 250 bilhões em recursos nos últimos anos.
Outras alternativas, como LCIs, LIGs, fundos imobiliários e CRIs, já estão no radar, embora ainda sofram com instabilidade regulatória. Nesse ponto, há espaço para o financiamento de impacto ESG, que pode atrair investidores interessados em projetos sociais e ambientais. A habitação popular tem características que dialogam com esse perfil de capital e pode se tornar uma opção de investimento relevante.
O Minha Casa, Minha Vida continua sendo a principal porta de entrada para a casa própria no Brasil. Para que mantenha esse papel no futuro, será necessário ajustar parâmetros, ampliar a integração entre políticas públicas e buscar novas formas de financiamento.
O programa já transformou a vida de milhões de famílias e tem condições de transformar muitas outras. O desafio está em alinhar governo, empresas e investidores para que a habitação popular siga sendo um instrumento de inclusão e desenvolvimento em todo o país.