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Mudança da Coca-Cola para açúcar de cana sairia cara e prejudicaria agricultores dos EUA

17 jul 2025, 17:09 - atualizado em 17 jul 2025, 17:09
coca-cola açúcar
(Foto: Reuters)

Uma possível iniciativa da Coca-Cola e de outros setores de bebidas e alimentos de usar açúcar de cana em vez de xarope de milho como adoçante seria difícil e cara de implementar, além de ser negativa para os agricultores dos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quarta-feira que a Coca-Cola havia concordado em usar açúcar de cana em suas bebidas no país, após conversas com a fabricante da principal marca de refrigerante.

Apoiado pelo movimento social Make America Healthy Again (MAHA), o Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., tem pressionado por mudanças nos ingredientes usados pela indústria de alimentos e bebidas, alegando que os substitutos propostos são mais saudáveis.

A empresa já vende Coca-Cola feita com açúcar de cana em outros mercados, inclusive no México, e alguns supermercados dos EUA vendem garrafas de vidro com açúcar de cana rotuladas como Coca-Cola “mexicana”.

Em resposta ao comentário de Trump, a Coca-Cola disse que “mais detalhes sobre novas ofertas inovadoras em nossa linha de produtos Coca-Cola serão compartilhados em breve”.

A PepsiCo também disse na quinta-feira que usaria açúcar em seus produtos, como as bebidas Pepsi, se os consumidores quisessem.

Analistas do setor, entretanto, disseram que as mudanças na formulação do restante dos refrigerantes da Coca-Cola vendidos nos EUA, além de outras bebidas e doces, envolveriam ajustes significativos nas cadeias de suprimento das empresas, já que o xarope de milho e o açúcar vêm de produtores diferentes. Isso também envolveria mudanças na rotulagem dos produtos e custaria mais.

“As indústrias de alimentos e bebidas começaram a usar o xarope de milho nos EUA no passado por causa dos custos. É mais barato do que o açúcar”, disse Ron Sterk, editor sênior da SOSland Publishing, um provedor de informações para o setor de ingredientes nos EUA.

Ele disse que o setor de bebidas usa xarope de milho com 55% de frutose, ou 55HFCS, enquanto os padeiros usam xarope de 42% HFCS.

A Corn Refiners Association disse que a eliminação completa do xarope de milho com alto teor de frutose do suprimento de alimentos e bebidas dos EUA reduziria os preços do milho em até 34 centavos de dólar por bushel, resultando em uma perda de US$5,1 bilhões em receita agrícola.

“A onda de choque econômico resultante levaria à perda de empregos rurais e a consequências econômicas significativas para as comunidades de todo o país”, disse a CRA.

Empresas de processamento agrícola como a Archer-Daniels-Midland e a Ingredion, dois dos maiores produtores de HFCS, moem milho em moinhos espalhados pelo cinturão agrícola do Meio-Oeste para produzir adoçante de milho e outros produtos, como etanol. As ações das duas empresas caíram nesta quinta-feira.

Estima-se que a ADM distribua de 4 bilhões a 4,5 bilhões de libras de xarope de milho com alto teor de frutose todos os anos, o que representa cerca de 6% a 7% dos lucros projetados para 2026, disse a analista Heather Jones, da Heather Jones Research.

“Se a Coca-Cola transferisse todo o seu uso de HF55 para a cana, o aumento de custo provavelmente ultrapassaria US$1 bilhão, dada a diferença de preço atual entre o HF55 e o açúcar de cana e a probabilidade de aumentos de preço muito grandes para o açúcar”, disse Jones em uma nota.

Para produzir uma libra de HFCS, o setor usa cerca de 2,5 libras de milho, de modo que uma grande mudança no uso de xarope de milho nos EUA prejudicaria a demanda pelo cereal, prejudicando os produtores de milho, ao mesmo tempo em que provavelmente aumentaria as importações de açúcar de cana, uma vez que não há produção suficiente nos EUA para satisfazer o consumo norte-americano.

Déficit de açúcar

Cerca de 400 milhões de bushels de milho são usados anualmente para fazer xarope de milho para bebidas e outros produtos alimentícios, representando cerca de 2,5% da produção de milho dos EUA, de acordo com dados do governo dos EUA.

Os EUA produzem cerca de 3,6 milhões de toneladas de açúcar de cana por ano, metade disso no Estado natal de Trump, a Flórida, em comparação com cerca de 7,3 milhões de toneladas de xarope de milho.

As contínuas guerras comerciais de Trump, no entanto, dificultariam a cobertura do déficit, disse o analista de açúcar Michael McDougall.

“Provavelmente virá do Brasil”, disse ele, referindo-se ao maior produtor mundial de açúcar de cana, “mas Trump acabou de impor ao Brasil uma tarifa de importação de 50%”.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
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