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Nacionalismo de vacinas ameaça meta de 2 bilhões de doses da OMS

17 mar 2021, 9:21 - atualizado em 17 mar 2021, 9:21
EUA, Vacinas
Os comentários de Poonawalla destacam o desafio contínuo da desigualdade em relação às vacinas  (Imagem: REUTERS/Jeenah Moon)

O nacionalismo na abordagem para vacinas em países como Estados Unidos e Índia pode atrasar os esforços da Organização Mundial da Saúde para entregar 2 bilhões de doses às nações mais pobres e de renda média até o fim do ano, de acordo com o CEO da maior fabricante de imunizantes do mundo.

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Países têm segurado suprimentos e restringido o acesso aos materiais necessários para aumentar a produção, disse Adar Poonawalla, diretor-presidente do Serum Institute of India.

A empresa responde pelo fornecimento de mais da metade das vacinas usadas até agora no programa Covax, apoiado pela OMS, que visa o acesso equitativo às vacinas no mundo todo.

Muitos fabricantes, incluindo o Serum, já perderam prazos e compromissos, disse Poonawalla em entrevista na Bloomberg Live, que foi ao ar na quarta-feira durante o Bloomberg Equality Summit. Levará de dois a três meses para realmente acelerar os embarques à Covax, e alcançar a meta de 2 bilhões de doses em 2021 será um desafio, disse, prevendo que “se estenderá por alguns meses”.

Os comentários de Poonawalla destacam o desafio contínuo da desigualdade em relação às vacinas que ameaça prolongar a pandemia depois que países mais ricos correram para estocar suprimentos.

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Um pequeno número de países africanos recebeu um único carregamento de vacinas antes de março, enquanto mais de 20% da população em países como Israel, Reino Unido, Bahrein e EUA foi vacinada com pelo menos uma dose.

Como gigante de manufatura, a Índia trabalhou a imagem de benfeitora generosa por meio da diplomacia de vacinas, ao mesmo tempo em que busca superar sua rival regional China. Mas o governo de Nova Déli manteve rígido controle sobre a distribuição das doses disponíveis no país, principalmente as fornecidas pelo Serum, que fabrica a vacina desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford.

Autoridades indianas também solicitaram mais vacinas do que inicialmente esperado pela empresa, disse Poonawalla.

“Tivemos que dedicar muito de nossa capacidade, que não estava originalmente planejada para a Índia”, afirmou. “Estamos tentando equilibrar o máximo possível, mas, novamente, nos primeiros meses fomos orientados a priorizar os suprimentos para a Índia e alguns outros países com alto índice da doença.”

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Desequilíbrio

A Covax tem demorado a decolar, e o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, atribuiu isso a empresas e países que priorizam acordos bilaterais antes do processo de aprovação do órgão de saúde.

Poonawalla reiterou suas preocupações com os gargalos iminentes causados pelo “nacionalismo de matérias-primas”, pois os EUA invocaram a Lei de Produção de Defesa neste mês para proteger o fornecimento de produtos como bolsas e filtros para seus próprios fabricantes.

“Enviei esta mensagem a todos os tomadores de decisão nos Estados Unidos: por favor, não proíbam matérias-primas críticas de que outros fabricantes globais de vacinas precisam”, disse Poonawalla.

No início do mês, o CEO da Serum disse que a proibição das exportações poderia atingir os planos de produzir cerca de um bilhão de doses da vacina contra a Covid-19 da Novavax este ano. Apesar dessas advertências, Poonawalla espera que os reguladores da Índia concedam a aprovação para o lançamento em agosto da candidata da Novavax, que o Serum começará a estocar a partir do próximo mês.

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Até lá, Poonawalla espera que o mercado privado de vacinas esteja aberto na Índia. Atualmente, hospitais e clínicas particulares podem cobrar 250 rupias (US$ 3,45) por dose, mas precisam comprar essas vacinas diretamente do governo e só podem imunizar pessoas acima de 60 anos e com 45 ou mais de alto risco.

Embora a abertura do mercado privado ajudasse a acelerar a campanha de vacinação da Índia – que só administrou cerca de 32 milhões de doses até agora, abaixo do ritmo necessário para atingir a meta de 300 milhões de pessoas até agosto -, há preocupações de que isso eleve os preços e dificulte o acesso em um país com enorme desigualdade de renda.

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bloomberg@moneytimes.com.br