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“Nada está escrito em pedra”, diz Campos Neto sobre nova alta de 0,75 na Selic

13 abr 2021, 21:03 - atualizado em 13 abr 2021, 21:14
Campos Neto
“Mas nada está escrito em pedra, podemos enfrentar condições muito diferentes de agora em diante”, disse Campos Neto  (Imagem: Flickr/Banco Central)

O Banco Central do Brasil começou a apertar a política monetária no mês passado, depois que uma alta nos preços de commodities e energia passou a impactar o núcleo da inflação, disse o presidente da instituição monetária Roberto Campos Neto em entrevista.

“Entendemos que esse processo teve alguma contaminação nos números do núcleo da inflação”, disse Campos Neto, 51, em entrevista à TV Bloomberg na noite desta terça-feira. “Nós nos mantemos vigilantes sobre como esse processo está se desenvolvendo.”

O Banco Central está tentando conter o aumento da inflação sem sufocar a recuperação da maior economia da América Latina. É um equilíbrio especialmente delicado para atingir enquanto o país tem um dos maiores números de mortes pela doença. Ao mesmo tempo, os investidores estão preocupados com aumento de gastos e tendências populistas do presidente Jair Bolsonaro.

“Para nós, o importante não é o real, trabalhamos sob um sistema de câmbio flutuante. O importante é como o real contamina o canal de inflação para a inflação de curto prazo e para elevar expectativas. Estamos vigilantes quanto a isso e agiremos se necessário”, afirmou.

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O Banco Central está tentando conter o aumento da inflação sem sufocar a recuperação da maior economia da América Latina (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)

A capacidade de Campos Neto de equilibrar os dois desafios pode definir sua carreira à frente da autoridade monetária. Desde que assumiu o cargo em 2019, o ex-executivo do Banco Santander foi responsável por cortes profundos nos custos de empréstimos com o objetivo de tirar o Brasil da crise causada pelo novo coronavírus.

Mas com a inflação anual atualmente em alta de 6,10%, bem acima da meta de 3,75% estabelecida para este ano e no maior nível em quatro anos, a preocupação mudou e agora versa sobre o poder de compra em erosão da população. Em março, a autoridade monetária subiu em 0,75 ponto percentual a taxa de juros, maior elevação em uma década, e sinalizou outro aumento da mesma magnitude em maio, o que levaria a Selic para 3,5%.

“Mas nada está escrito em pedra, podemos enfrentar condições muito diferentes de agora em diante. Não achamos que isso é o cenário mais provável, mas temos cenários alternativos e temos sido transparentes quanto a isso.”

Esse nível ainda está abaixo do que muitos investidores acreditam ser necessário para manter a inflação sob controle, especialmente após uma nova rodada de auxílio emergencial. Traders avaliam que o Banco Central levará a taxa básica de juros para mais de 6% até o final do ano, enquanto economistas consultados pelo BC preveem que os custos dos empréstimos ficarão em 5,25% em dezembro.

Enquanto isso, não há sinais de que uma nova e mais letal onda do vírus vai arrefecer em breve. O Brasil bateu recordes diários de mortes de Covid-19 duas vezes na semana passada, e os hospitais em todo o país estão lotados com pacientes contaminados pelo vírus.

(Com Bloomberg e Reuters)

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