Setor Elétrico

“Não temos água”: Itaipu enfrenta crise energética com seca no rio Paraná

20 out 2021, 18:51 - atualizado em 20 out 2021, 18:51
Hidrelétrica de Itaipu
Zarate estimou que a produção de Itaipu ficará entre 65 mil e 67 mil gigawatts hora (GWh) neste ano (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Técnicos da usina hidrelétrica de Itaipu estão se esforçando para cumprir a demanda de energia, cuja produção despencou devido a uma seca histórica do rio Paraná que pode durar até o próximo ano.

A barragem da usina, que fornece cerca de 10% da energia consumida no Brasil e 86% da usada no Paraguai, registrou sua menor produção desde que a hidrelétrica começou a operar a plena capacidade em 2005.

Rio abaixo, a usina argentino-paraguaia Yacyretá produziu metade do nível normal de energia em setembro, em outro exemplo de como as secas severas estão complicando a mudança dos combustíveis fósseis ao secar rios e reservatórios.

“Temos energia disponível, o que não temos é água para sustentar essa energia por muito tempo”, disse o superintendente de Operações de Itaipu, Hugo Zarate, à Reuters, acrescentando que a usina estava “atendendo à demanda, mas por curtos períodos de tempo”.

Zarate estimou que a produção de Itaipu ficará entre 65 mil e 67 mil gigawatts hora (GWh) neste ano.

“Isso é cerca de 35% do valor máximo de 2016 e 15% menos que em 2020”, afirmou ele em seu escritório na usina, localizada entre as cidades de Hernandarias, no Paraguai, e Foz do Iguaçu, no Brasil.

Os baixos níveis de produção afetam a produção de energia e impactam os royalties que os países recebem pelo uso da água.

A seca, uma das piores do último século, levou o governo brasileiro a pedir à população que reduza o consumo de eletricidade e água e levantou temores de um possível racionamento de energia.

“Crise Energética”

Itaipu tem afluência média normal de cerca de 11.000 metros cúbicos por segundo (m3/s), enquanto a usina de Yacyretá é de 14.500 m3/s, segundo seus técnicos.

Ambas dependem do fluxo do rio e têm capacidade limitada de armazenamento.

A produção é fortemente impactada pelos fluxos rio acima na bacia do Paraná, regulados por cerca de 50 barragens no Brasil, que viram os reservatórios de água diminuir desde 2019 em meio à queda nos níveis de chuvas.

A vazão média em Itaipu até agora neste ano é de 6.800 m3 por segundo, nível semelhante ao da década de 1970, segundo Zarate.

Os fluxos mensais médios para Yacyretá estão entre 6.000-9.500 m3/s, disse Lucas Chamorro, seu chefe de hidrologia.

“Os volumes úteis dos reservatórios estão atingindo mínimos históricos … enquanto os fenômenos extremos do El Niño ou La Niña estão se tornando mais agudos”, afirmou Chamorro, referindo-se aos padrões climáticos cíclicos que podem trazer chuvas fortes e secas para América do Sul e outros lugares.

Mas o alívio não parece estar próximo. Apesar de uma melhora recente, parece provável que haja chuvas abaixo do normal para o sul do Brasil pelo resto do ano, disse o analista sênior de pesquisas meteorológicas da Refinitiv Isaac Hankes.

“É necessária muito mais chuva para diminuir as preocupações com a seca”, afirmou.

A barragem de Itaipu “depende totalmente da melhoria da vazão da água”, disse Zarate. “E se isso não acontecer, essa crise energética vai persistir pelo menos no próximo ano.”

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