‘Nós estamos sujeitos à força do império’, diz ex-ministro da Justiça sobre crise entre Brasil e EUA

A crise diplomática entre os Estados Unidos e o Brasil devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e a tarifa de 50% imposta por Donald Trump pode resultar em uma fuga de investimentos da economia brasileira, afirma o ex-ministro da Justiça, Nelson Jobim.
“Nós estamos sujeitos à força do império [EUA]. Ele controla o comércio internacional e o dólar, sendo que o problema disso para o Brasil é a fuga dos investidores”, disse, em evento realizado pelo Esfera Brasil nesta segunda-feira (25), em São Paulo.
Jobim destaca que o maior problema das falhas nas negociações entre os dois países é a avaliação de risco. Ele usou como exemplo a aplicação da Lei Magnitsky. Segundo o ex-ministro, no momento, não há nenhuma ordem dos EUA para que se bloqueie as contas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sancionados, sendo que o que se tem é uma opção dos bancos.
“Os bancos têm que fazer uma análise de risco: fechar a conta dos ministros ou se submeter às sanções dos EUA, que podem resultar em multas altíssimas. O problema é essa avaliação de risco e não é o emocionismo que vai resolver isso”, afirma.
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Negociações Brasil-EUA
Durante o painel com Jobim, a economista e sócia-diretora da Gibraltar Consulting, Zeina Latif, criticou a postura do governo brasileiro nas negociações. “Todas essas atitudes, entrevistas com a mídia internacional e falas são vistas como provocações”, afirma.
Ela também aponta que o pacote de ajuda apresentado pela equipe econômica poderia ser melhor e com maior cuidado com a questão fiscal. Segundo ela, o governo perdeu a oportunidade de mostrar que está focado nas metas do arcabouço. “Se toda hora vem uma exceção, isso mina a credibilidade”, completa.
A economista disse que é preciso aproveitar esses momentos de choque para elaborar a agenda de longo prazo.
Em defesa da posição do governo federal, Márcio Elias Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apontou que o presidente Trump faz uma aposta no mercantilismo, que é um jogo direto das nações e ampliação das zonas de interesse norte-americanas, e que isso não está sendo usado como arma política para as eleições de 2026 dentro do governo.
“Não acho justo falar que o governo tem tido uma posição aproveitadora do ponto de vista eleitoral. Ninguém conseguiu identificar que isso seja bom para alguém; a defesa do estado agrada, mas não se transformam em apoio político”, afirma.
Segundo o secretário-executivo, o governo dos EUA adotou uma política contrária a desenvolvimentista, mas, sim, protecionista. Para ele, isso pode resultar em m grande problema para a própria economia norte-americana.
Elias Rosa usou como exemplo a produção de iPhone em países asiáticos, que garante um custo até 60% menor de que um aparelho montado nos EUA. Segundo ele, levar as linhas de produção de volta para o país pode encarecer o preço dos produtos, puxados pela mão-de-obra mais onerosa.
O secretário lembra que, apesar dos esforços do governo brasileiro, a dificuldade nas negociações parte do lado dos EUA.